XXXIV. Tormento

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O tremor da gigantesca catedral expõe a feroz luta que ocorre dentro de si, a fundação de pedra se racha enquanto as paredes de madeira se chocalham de tal forma, que ameaçam se desprender.

Apavorados, os gritos dos pacientes acompanham o desespero dos fiéis para o completo caos, afinal, estão isolados naquele momento. O forte nevar impede uma ajuda externa imediata, os soldados do reino estão muito distantes, confinados nas muralhas e no quartel. Além disso, a proteção interna é realizada por míseros 10 templários jovens, o que eles farão diante da luta dos mais fortes?

Um confronto de grandes generais ocorre dentro da mais poderosa cidade, quem imaginaria que tal conflito fosse acontecer justamente ali? Será o começo do fim da próspera cidade das cinzas?

Por enquanto, o embate se limita aos confins da Catedral de São Rafael, todavia, isso não é um indicativo de falta de poderio. A luta acabou de começar.

Uma parede de madeira escura é rompida com uma enorme força. Do outro lado, Moretti se ergue ileso, como se nem tivesse sido jogado, ele usou suas sombras para abrirem um buraco no recinto antes que colidisse. Desse modo, evitou maiores danos.

Sua respiração se mantém ofegante, o rei não esperou se encontrar com Wem daquela forma, pelo menos encurtou o tempo de tortura e da busca. Seus olhos se mantêm furiosos para a nuvem de poeira, finalmente terá sua batalha prometida na noite tão clara.

O sem mãos não hesita em roubar todas as sombras que pode, mesmo que tenham um formato patético, talvez servissem como atraso daquela fera. No mesmo ritmo, as manchas negras em seu braço se expandem, necrosando a carne conforme o poderio de Moretti se expande. Uma troca equivalente.

Os passos para trás daquele homem servem para se distanciar do eterno, já que ele ainda é um humano. Se o Wem o acertar precisamente, sua maldição não o salvará. Por causa disso, o rei manterá uma postura defensiva e uma luta à distância, são suas melhores chances de êxito.

Como o previsto, Wem surge através do buraco na parede, sua enorme velocidade devido ao impulso de seu braço cristalizado o auxilia a se aproximar do oponente. Entretanto, seu impulso é gradativamente diluído por dezenas de sombras até ficar praticamente parado.

Nesse momento, Wem já teve sua sombra roubada, o rei sempre a prioriza nos duelos. Todavia, a sua escuridão não parece deter a mesma força que o ser original, ela sozinha não é o bastante para deter o imortal.

Isso é devido às particularidades das sombras, a sua força está ligada ao ser amaldiçoado, não ao verdadeiro dono. Por causa disso, Moretti mantém um corpo forte e treinado, para que sua maldição seja mais efetiva, todavia, seu esforço não se compara à aberração que enfrenta, o ápice do corpo humano.

Wem se aproxima lentamente, mesmo com diversos cortes e lesões que aparecem em diversos locais em seu corpo. Apesar de se deixar ser ferido, a regeneração suicida não é ativada, haja vista a impossibilidade do brutamonte em prever ou se defender de um inimigo invisível e intangível.

Moretti sabe disso, cada custo e poder daquela maldição já foram catalogados e repassados para todos os militares importantes dos Sacros-Reinos-Libertos. No entanto, é sensato presumir que tal vantagem é mutua, Wem também deve conhecer bem a maldição de Moretti, já deve ter a enfrentado em outro ser amaldiçoado no passado.

O rei ignora os pequenos avanços do brutamonte, sua atenção é focada no ambiente em sua volta, precisa de mais escuridões ao seu lado. O cômodo é um salão lotado de macas e pessoas doentes, há muitas sombras humanoides a serem roubadas, as preferidas do grande general.

Aproveitando desse momento de descuido, Wem ergue seu braço de cristal e golpeia o ar, culminando em uma forte rajada de vento em direção ao sem mãos. Porém, tal ataque à distância é interceptado por uma tábua de madeira que se desprende do chão, a destruindo em 5 partes. O rei deixou algumas sombras de guarda para sua proteção.

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