XVIII. Concessão

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As tropas marchavam em seu cerco, não havia escapatória e nem esconderijo. Os soldados batiam nas portas ferozmente, exigindo suas entradas, caso não fosse aberta, era arrombada e invadida. Lá conferiam todos os armários e iluminavam os moradores com tochas, procurando por alguém cujo rosto estava desenhando em um papel.

Era a face de Aurora, apesar disso, nenhum dos guardas sabia realmente de quem pertencia tal feição, ninguém se lembraria do rosto de uma já esquecida princesa morta.

Três pessoas se esgueiravam na escuridão, se escondendo entre vielas deixadas das casas, todavia, a cada passo de um soldado, ficavam mais acuados na pequena vila. O terror os dominava, parecia iminente as suas descobertas, não havia uma brecha, parecia que aqueles soldados haviam sido avisados sobre a arquitetura local para um cerco perfeito e sem falhas.

Enquanto isso acontecia, a igreja já havia sido tomada, com todos os refugiados e feiras sendo rendidos até segunda ordem, todavia, na sala do padre, duas pessoas conversavam, ou melhor, uma era interrogada.

— Qual o objetivo de Meroveu ao vir aqui? — Rell questiona enquanto passa o dedo na sua espada.

— Meroveu nunca veio aqui. — O padre René tenta negar, dizendo com uma voz convicta.

— Hum... Me encontrei com ele na estrada, não adianta vir com mentiras, santo padre. — Rell tinha um tom de sarcasmos em sua fala. — Por que ele veio nessa vila abandonada por Deus?

— Deus não abandona seus fiéis.

— Não mude de assunto, apenas me responda.

— ... Se não o quê? Você é dos revolucionários, se fizer algo contra um padre, a igreja ficará furiosa.

— Hahaha! Acha mesmo que ligo para isso? Além do mais, um padre morrer em um desastre é algo acreditável, não é? — Rell pergunta em uma clara ameaça.

— O que quer dizer?

— Apenas responda minhas perguntas.

René não tinha muitas opções, sabia que uma invasão acontecia   pelos barulhos por trás das paredes, porém, não havia nenhum sinal ainda de matança, quanto tempo isso duraria? Por outro lado, contar o interesse daquele homem seria a causa de sua morte. Não havia boas saídas.

Como aquela mulher sabia disso? Ela estava espionando? O próprio Meroveu contou a ela? Essas dúvidas não o ajudariam naquele instante, assim, confessa pelo bem dos seus seguidores. Alguns minutos se passam com o padre revelando tudo que havia dito e ouvido na noite anterior. Rell apenas escutava sem reação enquanto passava o dedo no fio de sua espada.

Ao terminar o monólogo, ela abre um sorriso.

— Não sabia que aquele homem gosta tanto de mitologia. — Sua voz era o puro sarcasmo.

— ...

— Era só isso, sacerdote. — Ela diz enquanto se levantava. — Oh! Quase me esqueci... Meroveu lhe mandou um presente.

Sua lâmina corta rapidamente a garganta daquele homem, o qual não tem outra reação a não ser tentar estancar o sangue com suas próprias mãos. O medo da morte o consome, o fazendo assim a olhar com desespero, percebendo que ela mantinha um sorriso sádico.

Entretanto, aquela morte seria tratada como assassinato caso achassem o corpo. Por isso, Rell faz um pequeno movimento com as suas mãos, as chamas começam a saltar de suas tochas, incendiando o corpo do desesperado.

Queimando na agonia de morte, rapidamente começa a perder seus sentidos: visão, olfato, tato, paladar, todos consumidos pelas chamas. Surpreendentemente a audição se mostrou mais duradora que os demais, o fazendo escutar algo além da sinistra risada da general, uma última voz vinda daquela desgraçada: "Agora estamos quites, negociador". Depois disso só um grande clarão, acompanhado de um perpétuo zunido, estava morto.

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