Quando o sol domina o ponto mais alto do céu azul, um estrondo metálico ecoa pelas densas e prósperas vielas de Sunderland, o bater do maior e mais alto sino da cidade indica o meio-dia. Todavia, seu som é rivalizado na catedral por um grito.
Não é medo ou tremor, pelo menos sua entonação não se parece com tais sentimentos agoniantes, pelo contrário, induzem ao mais belo dos prazeres, a alegria. A autora de tal grito é a mesma que outrora gritou de dor naquela mesma manhã, Aurora.
Seus olhos enchessem de lágrimas, as quais refletem o brilho de seus olhos verdes, suas córneas parecem um pouco mais esmeraldas do que um minuto antes. O pavor do abandono, o peso da culpa e a sensação de fraqueza se diluem ao ver aquele sorriso amigo, um sorriso que ela tanto precisa.
Aurora se joga para frente, ignorando as fraquezas e a dor de seu corpo, aquele momento é mais importante que tudo isso. Respondendo ao ato, Sadh dá um passo para abraçá-la, nesse meio tempo, a cabeça da jovem já não a tormenta, um pouco de sossego para aquela parte sofrida.
O cruzar dos olhares molhados é acompanhado por enormes sorrisos mútuos, afinal, depois de tanta luta contra a morte, ali se confirma a vida, momentaneamente.
— Você veio! — Aurora expõe toda a sua felicidade.
— Claro que eu vim! — Sadh também demonstra a mesma feição.
— Vou deixar vocês sozinhos. — Amice se retira, todavia, nenhum dos dois parece notar.
— Fiquei preocupada! Vocês não apareciam! — A jovem fala ainda chorando de felicidade.
— Venho toda semana! Você que demorou para acordar. — Sadh responde limpando as lágrimas dela.
— Eu dormi por muito tempo? Claro que eu dormi por muito tempo. — Aurora se responde sozinha pela pergunta burra. — Mas valeu a pena! Meus curativos estão quase cicatrizando! Daqui a pouco voltaremos para as aventuras!
— O importante é você estar bem. — Sadh se senta ao lado de Aurora. — Ainda sente muita dor?
— Sim! Bem... às vezes, principalmente nos exercícios! — Aurora olha para a sua perna. — Mas não se preocupe, eu já estou melhorando e ficando mais forte!
— Hahaha, eu sei que está. — O olhar de Sadh parece hipnotizado, a pessoa que ele tanto admira finalmente sorriu em sua frente mais uma vez. — Mas tente descansar o máximo possível, você tem se machucado bastante nos últimos tempos!
— Está bem! Ah! E o Wem? Como ele está? — Aurora demonstra com seu corpo a mudança de pensamento.
— Ele? Está bem, eu acho. — Sadh parece rancoroso. — Não o vejo desde que chegamos a Sunderland, ele não entrou na cidade, não queria chamar atenção.
— Ué? Mas você não se encontrou com ele nenhuma vez? — Aurora pergunta confusa.
— Não, você ainda não havia acordado, não tinha nada para informar. — O meio jovem responde nitidamente incomodado, menos para a Aurora, que não percebe tais coisas.
— Ah! Entendi... mas ele deve estar bem, é o Wem afinal! — Aurora ri um pouco. — É bom saber que vocês estão bem!... Não os prejudiquei perdendo aquela luta. — Aurora sorri forçadamente.
— Relaxa, você lutou bem considerando as situações. — Sadh percebe o semblante tristonho dela. — Eu não conseguiria lutar tão bem daquele jeito.
— Não exagera! Nem deu para você ver o que aconteceu lá dentro! — Aurora parece um pouco melhor. — Obrigado por me apoiar.
— Amigos são para isso. — Sadh pensa em mudar de assunto. — Aqui tem sido entediante?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cursed Dreams
AdventureQuanta dor é necessária para se corromper um sonho? Em um mundo destruído pela recente queda de um império expansionista, Aurora, uma jovem rodeada de mistérios sobre suas ambições e seu passado, procura por pessoas amaldiçoadas para que, de alguma...