XXXI. Imperialistas

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O forte soprar do vento prenuncia a nevasca que se estende pelo horizonte, o inverno impiedoso transforma tudo em seu alcance em branco. As árvores, já completamente secas e sem demonstração de vida, temem o balançar de seus galhos, haja vista a queda de suas semelhantes a cada tempestade caótica.

No meio dessa confusão gelada, não há espaço para plantações ou criação de animais, quem não estocou alimentos para o grande inverno passará fome ou morrerá de frio ao buscar mantimentos.

Em uma caverna já tomada pelo branco, uma fumaça cinzenta escapa por suas fendas em direção ao céu escuro. Lá dentro, diversas pessoas se abrigam do mundo de fora, porém, esta comunidade não demonstra ser formada de refugiados.

Suas instalações parecem ser militares, uma vez que enormes galpões e tendas guardam armas para um exército inteiro. Tais objetos são distintos entre si, pois não vieram de uma mesma forja, foram saqueados gradualmente nos inúmeros ataques realizados por aqueles bárbaros.

A bandeira estendida na maioria das construções não disfarça os ideais daquele povo, são os remanescentes do Império Valôm. Todavia, a maioria de seus membros não pertence à nobreza ou ao antigo exército imperial. Eles lutam, em sua maior parte, por vingança aos revolucionários, por desdém aos Sacros-Reinos-Libertos.

Suas vidas foram arruinadas pelas inúmeras batalhas sangrentas na guerra civil, este ódio foi direcionado a só um dos envolvidos, afinal, mesmo sujeitos a um império expansionista, o cotidiano não era tão opressor, existia paz. Com a "libertação" de suas vilas, somente as cinzas restaram para o consolo daqueles que perderam tudo em troca da independência.

Os revoltosos ao novo regime se uniram a uma imagem forte, um ser que promete instalar uma glória jamais vista em Valônia, um poder absoluto e indivisível. No entanto, o seu discurso não o coloca neste pedestal, o grande imperador prometido governará por décadas, até mesmo séculos, só falta o convencer de tal cargo.

"A paz se erguerá pelo medo dos caóticos perante a imagem de um imperador invencível." Este é o discurso que convenceu milhares a seguir este sonho perturbado.

Sobre os mesmos ideias e ódios, a população de mercenários vive em plena harmonia, há um enorme respeito pelas regras e pelas patentes dos soldados, mesmo que a grande maioria dos homens nunca teve uma real educação militar.

Neste dia específico, as poucas forjas do local foram acendidas para a fabricação de armaduras de malha, além de servirem como uma fonte de calor para os soldados. Por consequência, a fumaça se acumulou na enorme caverna, dificultando a visão e a respiração.

Devido a isso, os sentinelas que guarnecem a entrada têm a baixa visibilidade piorada pela tempestade e pela nuvem de fuligem. Por conseguinte, alguns vultos conseguem se aproximar da fumegante gruta sem retaliações adequadas, praticamente ficaram cara a cara com os soldados.

Suas armas são levantadas para a defesa da entrada, no entanto, quando seus semblantes tomam forma ainda borrada, um apaziguamento acontece rapidamente, por vestirem as roupas imperiais. Um grupo formado majoritariamente por jovens, mas comandado por alguém perto dos 30 anos, chega ao covil de seu movimento.

— O que querem? — Pergunta o que se parece o líder dos sentinelas. — São de qual divisão?

— Somos da brigada de Sunderland. — Responde o homem mais velho. — Viemos passar uma informação para o grande general.

— Sua entrada não está permitida. — O sentinela responde com pouco apresso. — Falem logo o que querem e passaremos a informação para a cúpula.

— Não viemos de tão longe somente para voltarmos. — Retruca o recém-chegado. — Precisamos falar isso diretamente como grande general.

— Sem uma convocação oficial, vocês não podem entrar. — O soldado se enraivecesse. — Voltem para sua terra e continuem com seu trabalho, vocês nem devem ter dispensa.

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