Capítulo 34

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Boa leitura!

Antonella

Nada melhor do que estar em casa e o Ettore é a minha casa. O vazio que me consumiu nessas ultimas semanas sumiu no instante em que senti os braços deles me envolverem. Todos esses dias terríveis de medo e solidão se tornaram nada perto do meu alivio em tê-lo seguro e comigo. Sem querer romantizar todas as merdas que em aconteceram, mas eu não posso deixar de pensar no final elas valeram a pena. Estamos juntos.

Encaro o teste de gravidez em cima da pia do banheiro e ele serviu apenas para confirmar o que eu já sabia, um fruto do amor que eu e o Ettore sentimos um pelo outro cresce em meu ventre e eu não vejo a hora de olhar nos olhos azuis mais lindos que já em toda a minha vida e dizer que sermos pais.

Talvez esse não seja o melhor momento ou quem sabe esse bebê traga a renovação que tanto precisamos, ele seja o nosso recomeço, ainda mais agora que tudo finalmente, se resolveu e que a nossa família ganhou mais três membros, a Atena e os seus dois filhos, Nina e Heitor, que eu já tive o prazer de conhecer.

—Como foi com a sua irmã? —Saio dos meus devaneios no instante em que o Ettore atravessa a porta do quarto de hospedes em que estamos e basta uns segundos olhando para seu rosto para que eu note que ele chorou. —Amore mio... —Saio do banheiro às pressas e abraço-o apertado e sinto seus braços me apertando de volta e um choro repleto de dor tomar com dele.

As lagrimas do Ettore molham meu ombro e ficamos por um longo tempo abraçados no meio do quarto enquanto, ele libera a dor que comprime seu peito. Eu fico calada apenas acariciando sua nuca, sendo seu alicerce, transmitindo a força que ele precisa agora. Se eu pudesse tomaria toda essa para mim, apenas para não o ver destruído como agora.

—Eu tenho uma irmã, Antonella! —Ele diz abatido e toco seu rosto com carinho limpando suas lagrimas. —Eu não pude protege-la daquele monstro. Eu não estive lá quando ele a machucou. Ele a feriu de tantas formas. A minha irmãzinha é uma mulher quebrada e porra, ela só tem vinte e três anos!

—Todos nos estamos quebrados, amore mio! Talvez uns mais do que outros, mas cada um de nós temos que lidar com as nossas rachaduras, com as mazelas de nossas almas! —Seguro seu rosto entre as minhas mãos. —A Atena é uma sobrevivente como você e como as suas irmãs. E não coloque a culpa em você de coisas que não estavam em seu controle, Ettore, coisas das quais você se quer tinha conhecimento.

—Mas, eu devia... —Ele tanta falar, mas eu me afasto dele, cortando-o.

—Devia o que? Tê-la protegido? Você compreende que não é nenhum super-herói? —Olho em seus olhos e ele abaixa a cabeça. —Você é um homem que fez o que pode com o que tinha em mãos! Por Deus! Suas irmãs jamais teriam sofrido qualquer coisa se você estivesse lá, todos sabemos disso, mas você não pode estar com elas, então, pare de se culpar por coisas que não estavam em seu controle! —Suspiro frustrada, o Ettore nunca vai ser um homem completo se não se desapegar do passado e da culpa. —Se você não se perdoar ninguém vai poder fazer isso por você. Você precisa deixar o seu passado e o das suas irmãs para trás. Não percebe que ao se culpar apenas revive essa dor no coração de todos vocês?

—Você fala como se fosse simples, Antonella! —Ele diz em um tom baixo e duro e seus olhos me encaram frios como quando eu o conheci. —Olha o que meu passado fez com você, onde as minhas escolhas levaram você. Você foi parar na casa daquele monstro por minha culpa e apenas a imaginação do que ele possa ter feito com você me deixa doente. Como eu posso deixar o meu passado para trás se ele sempre volta à tona e fere todos os que eu amo? —Sua voz soa quebrada. —Você e as minhas irmãs vivem pegando pelas minhas escolhas ruins. Você não devia ter aceito as chantagens do Franco, não devia ter se submetido a nada disso por minha causa! Eu não sou digno dos sacrifícios de ninguém!

Fico por longos segundos observando o homem que amo. A postura derrotada, os olhos tristes, esse habito de sempre pensar o pior sobre ele mesmo, que o Ettore tem, me machuca profundamente. Eu queria que ele pudesse se olhar pela minha perspectiva, que ele pudesse enxergar o homem que eu enxergo.

—Suas escolhas? Eu escolhi salvar você! Eu escolhei salvar a nossa família! Foi uma escolha minha! —Grito para quem ser ouvida por ele, porque o Ettore não sabe ouvi ninguém além de si mesmo.—E não é você quem decide quais decisões eu devo ou não tomar, entenda de uma vez por todas, que eu andaria sobre brasas ardentes por você, que eu mataria por você e não tem nada que você diga que possa mudar isso! —Olho em seus olhos e vejo como as minhas palavras mexeram com ele. —Digno ou não, eu amo você!

—Eu amo você, Antonella e por te amar tanto que eu sei que não a mereço. Eu sou um demônio em pele de homem e você é um anjo lindo. —Ele ergue a mão para tocar o meu rosto e eu me esquivo. —Eu devia deixa-la ir. Você merece mais do que a vida ao lado de um assassino, do que viver cercada pelos perigos causados pela minha profissão.

—Então, vai! —Aponto para a porta sentindo meu coração se partir. —Eu não vou tentar te convencer a ficar, eu não vou tentar abrir os seus olhos para todos os seus equívocos. Se quer ir, vai! Se não se acha digno é porque talvez não seja mesmo. —Desvio meus olhos dos dele para não enxergar a dor que as minhas palavras causaram nele, mas, o Ettore precisa mudar essa visão deturbada de si mesmo ou nós nunca vamos dar certo. —Eu não vou te impedir de fugir mais uma vez, nem tentar te convencer que está errado sobre você mesmo. —Caminho pelo quarto, sentindo meu peito se rasgar em dor. — Você se sacrificou por todos e quando eu faço o mesmo por você, a sua atitude é dizer que não merece e que deve me deixar?

—Antonella... —Sinto sua mão segura meu pulso com delicadeza me impedindo de me afastar e seus dedos tocarem o meu rosto. —É melhor assim...

—Para você é mesmo! É mais fácil viver com essa visão deturbada sobre você e se deixar corroer por culpas que não são suas. Você nunca será digno de nada de bom que te acontecer, enquanto você não acreditar que é merecedor. —Seguro sua mão que toca meu rosto.

—Eu amo você! —Ele sussurra com a testa colada na minha e eu coloco a minha mão em seu coração sentindo-o pulsar forte.

—Não ama o suficiente para ficar e lutar por nós, para lutar contra os seus demônios! —Sinto uma de suas lagrimas molhando meu rosto. —Eu nunca vou implorar para o pai do meu filho ficar comigo...

Antes que possa me conter as palavras saem pela minha boca e tudo em nossa volta. Ouço a respiração acelerada do Ettore e posso jurar que sou capaz de ouvir as batidas frenéticas do seu coração.

—O que disse? —Sua voz soa quase inaudível e eu me sinto incapaz de formular qualquer frase agora. —Você disse pai do seu filho?

Aceno com a cabeça e sinto um bolo se formar na minha garganta. Medo dele desistir de vez de nós por achar que não será um bom pai. Meu coração bate frenético e lagrimas molham meu rosto no instante em que ele ajoelha, erguendo a minha blusa. Sua testa encosta na minha barriga e eu apenas permaneço estática diante da cena que se desenrola diante dos meus olhos. De repente tudo parece se iluminar quando nossos olhos se encontram. O sorriso em seu rosto é mais lindo que vi, a sombra em seus olhos parece ter desaparecido. O que sempre esteve quebrado nele parece ter sido consertado. Esse bebê em meu ventre mesmo tão pequeno acabou de salvar o seu pai de ser engolido pela escuridão de vez. 




Será que finalmente, o Ettore vai para de fugir e se dar uma segunda chance? 

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Até sexta! 

Ettore -Série Irmãos Valente (Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora