Não era capaz de nomear exatamente a situação que estava agora, sabia que estar perdida e estar vazia não eram coisas tão incomuns no momento. O céu noturno de Tóquio era uma coisa da qual nunca se cansaria de ver, as milhares de estrelas se misturando graciosamente com o brilhar dos faróis ou das esculturas cintilantes que sempre faziam questão de montar próximo ao inverno. Seus olhos tinham uma faisca de beleza envolta daquela imagem, pode notar os pássaros voando em conjunto se benefíciando dessa dádiva de poderem fugir de seus problemas apenas com um bater de asas, se perguntava se eles já tinham ido para algo além do Japão, talvez a Coreia do norte ao sul ── possuiam esse privilégio e você os invejava por isso. Caminhou por mais vinte minutos antes de avistar o prédio abandonado que costumava fugir quando era uma pessoa com uma alma inteira, não sabia se mesmo depois de recuperar as lembranças tinha reatado algo. Suspirou profundamente antes de subir as grandes e velhas escadas de concreto, se orgulhava dessa parte sobre o Japão, até as construções mais esquecidas não eram totalmente apagadas, aquele edifício estava vazio a mais de doze anos e mesmo assim poucas pessoas faziam questão de mante-lo em pé, seja pelas memórias ou por terem um senso de limpeza absurda o bastante para não quererem manter algo feio em suas vistas, seja la qual for o motivo os agradecia pelo seu pequeno lugar de descanso mental ainda estar de pé. Tateous as paredes sentindo a textura das paredes e da tintura azul claro, o barulho de seus tênis batendo contra o piso era o único som que era capaz de ouvir. Sua cabeça lhe pregrava peças as vezes, as mais cruéis claramente eram dos momentos com seu avô, quando pequenos sinos ecoavam dentro de si e tudo que era capaz de se lembrar era da quantidade de sangue que possuia nas mãos.
As mais tristes, é claro eram sobre seus pais.
Se lembrava da sua mãe e de como seus longos cabelos negros eram macios, lembrava das maçãs de seu rosto e o quão coradas eram, como se ela estivesse sempre com uma aparência apaixonante. A forma que ela cantava para você, como dizia que seu nascimento era um presente e do quanto te amava, quando ela se foi e de tudo que fora capaz de sentir era o choque. Porque sabia que jamais seria agraciada com suas canções e tortas, que jamais poderia abraça-la e dizer que tinha orgulho de olhar todo dia em seus olhos, que ela não te levaria mais para o balé e te daria brigadeiro direto da colher na panela. Seu pai era uma figura extraordinária também, ele tocava piano e dizia que por isso havia conquistado sua mãe ── Porquê a música é uma forma de revelar nossas ambições ── e que por mais sujo que o sobrenome Haitani fosse, vocês eram uma familia e tudo sobre suas origens seriam descartadas no momento em que lutassem apenas uns pelos outros. Rindou e Ran sempre foram daquele jeito, protetores e amorosos ao ponto de sentir que sempre teria uma divida enorme com eles, que devia sua vida a eles, que teria de orgulha-los pelo menos uma vez na vida. Afinal quando seus pais morreram e a coisa mais assustadora do mundo foi posta em seus ombros, eles ainda não conseguiam parar de se preocupar com você. Era tudo pela familia, tudo por ti. Se recordou dos últimos anos, de como os pesadelos não paravam e de como se sentia presa dentro do próprio corpo, lembrou de Rindou, que sabia que você odiava tomar os remédios que a psicóloga havia passado, então pra tornar menos dificil ele aprendeu o básico sobre farmácia para ler todas as malditas bulas e mostrar pra você que a composição não era tão perigosa, seriam apenas malditas cápsulas, e mesmo que não tenha diminuído sua raiva pelo medicamento, lhe fez apreciar a nobresa e generosidade em seus atos.
Eles sempre faziam questão de dividir sua dor com eles, como se tivessem a obrigação de fazer isso para o resto de suas vidas. Mas se perguntou sobre esses últimos cinco anos, eles te viam definhando a procura de si mesma, e não fizeram nada além de te esconder a verdade.E então a pior parte, se lembrou de todas as crises que havia sofrido durante esses cinco anos. Quando não conseguia parar de gritar porquê sempre tinha o mesmo pesadelo: Um homem lhe atacando com uma barra de ferro. Agora sabia que não eram pesadelos, e sim uma forma que seu coração achou para lhe mostrar que estava perdendo suas melhores memórias, lhe mostrar lapsos daquela noite de merda em que Kisaki fodeu com sua vida.
Mentiram no seu pior momento.
Se sentou em cima da sacada, colocou os pés para fora e sentiu a brisa noturna lhe beijar o rosto. Pensou em Keisuke e no quanto o amava e que isso estava te consumindo e te queimando ao ponto de incomodar, ele havia mentido e por deus como você detestava mentiras. E então tomou sua primeira decisão da noite, como a [Nome] de cinco anos atrás e atual. Discou o número de Baji e notou que seis segundos pareciam uma eternidade, até que finalmente ouviu a voz dele ecoar, grave como se estivesse dormindo.
─── [Nome]? ── Susurrou. Por um momento toda sua linha de pensamentos se foi, escutar sua voz era como uma chamada em seu mundo particular. Apreciou os segundos silenciosos que se sucederam, foram suficientes para aue segurasse as lágrimas. ── Sabe, quando liga para alguém às dez horas da noite de uma quinta-feira, você meio que precisa dizer algo.
─── Você me ama? ── Foi a única coisa que perguntou. A voz um pouco fraca demais e apertando o celular em sua mão como se fosse seu ponto de segurança. Baji pareceu surpreso porquê demorou para responder, mas você sabia que de qualquer forma seus sentimentos ainda estavam ali.
─── A mais tempo do que eu gostaria. ── Respondeu. Dessa vez mais firme do que da última.
─── Eu teria lutado por você Baji. ── Foi tudo o que você disse antes das primeiras lágrimas descerem. E então como um estalo tortuoso ele também percebeu.
Era como se a guerra tivesse acabado e a luz no fim do túnel finalmente fosse a esperança.
─── Você se lembrou? ── Ele perguntou, mas não o respondeu ── Por deus se você teve algum pingo da memória precisa me dizer eu ten──
─── Não, agora vai me escutar. ── Você o cortou ── Eu teria lutado por nós. Eu não teria te deixado no escuro por cinco anos, eu não teria fingido que o amor da minha vida não estava precisando de mim, perdido dentro de si mesmo. Teria te contado a verdade e sinceramente? Foda se quem estivesse apontando a arma pra mim, porquê eu jamais te ocultaria o direito de saber sobre a SUA vida. Eu levaria essa bala por você Baji, eu te contaria sobre todas as vezes que te amei, que olhei em seus olhos e vi meu futuro, te falaria sobre o quão forte meu coração bate toda vez que cito seu nome. Eu te contaria do meu desespero ao saber o que Kisaki fez, eu manteria a promessa que fiz. ── Parou por um momento. O suficiente para que o choro piorasse e pudesse respirar. ── Você lembra do que prometemos um ao outro?
─── Não se vá. ── Respondeu ── Essa era a promessa.
─── Você me deixou ir. E o pior é que eu nem tinha consciência que realmente deveria ter ido. Sinceramente, me sinto traida por todos vocês, eu fui privada durante esses cinco anos. Privada do meu amor, eu perdi você e me perdi no processo Keisuke, e isso não deveria ser o amor, essa merda toda não deveria doer tanto. ── Riu fraco, a ironia certeira em seu tom de voz.
─── [Nome] você precisa me escutar, tudo acontece por uma razão. Eu nunca quis te deixar, nunca foi uma opção, eu preciso que me entenda. ── Ele parecia preocupado, não era o Baji de sempre.
─── Somos uma tragédia anunciada Keisuke. Isso não é uma história de amor, é o começo de uma dor maior. E sinceramente? Não me importo mais, eu só quero viver uma vida franca e repleta de verdades. ── Disse, com a voz agora calma. ── A realidade Baji, é que a dez anos atrás quando te vi pela primeira vez, eu deveria ter deixado para trás com sua mão machucada. Tudo que eu sei é que teria poupado bastante sofrimento se tivesse apenas voltado pra casa.
Suas palavras pareceram atingi-lo de certa forma porquê escutou o suspirar pesado e por alguns segundos jurou ter ouvido um choramingo.
── Esta nervosa, não sabe o fala. ─── Respondeu.
─── Tudo que eu sei, é que as coisas vão voltar a ser como eram. Eu não te conheço mais e vai continuar assim de aqui em diante. ── Decretou ── Acabou Baji, adeus.
E então desligou.
Fechou os olhos e sentiu as lágrimas descerem quentes, a partir daquela noite você prometeu a si mesma. Que nada relacionado ao passado retornaria a sua vida, e o capitão da primeira divisão da Tóquio Manji, estava no topo da lista.
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HAITANI, baji keisuke.
Fanfiction❝ acho que você não tem coração, tola fui eu que pensei em lhe dar o meu ❞ onde uma memória recuperada foi o bastante para causar uma guerra em tóquio e despertar o mais genuino amor. keisuke baji x oc fem © kz2tora.