Capítulo- 22

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Depois de finalmente deixar Michel na empresa e ignorar completamente os acontecimentos passados, fui em busca do casarão. Charles estaria lá a minha espera com duas mulheres alemãs, a que tentou me envenenar e a garçonete.

Agora que a chuva estava bem mais fraca as estradas estavam pouco mais movimentadas, mas nuvens negras ainda ocupavam todo o espaço nos céus e o frio era de gelar completamente os ossos. A partir do momento em que eu colocasse meus pés dentro daquele lugar, tudo mudaria, eu voltaria a ser a personificação da morte. Ao fazer a última curva e parar diante dos portões do lugar já conhecido por mim, meu celular começou a tocar incessantemente

— James, eu vou te matar se não soltar o meu pai! Juro que invado seu casarão e te deixo sem um único soldado— Como era de se esperar, uma hora ou outra eu iria receber uma ameaça de outro dos Michel

— Bom dia, Lorenzo— Sorri enquanto os portões se abriam para mim e meus soldados abaixavam a cabeça como símbolo de respeito— Não quero

Desliguei a ligação e sai de dentro do carro, Charles me esperava de cara fechada mas sorriu assim que me viu de pé ao lado do meu carro. Charles foi como um irmão secreto, ninguém sabe quem ele é ou que nos conhecemos. Só sabem que existe um homem nas sombras que trabalha para mim, agora ele não será tão secreto pois foi quem cuidou de Roger Michel durante toda a sua estadia aqui.

— Vamos, temos três visitas a fazer. Roger é um homem cativante, me ameaçou em idiomas que eu nem conhecia

— Você ama muito o seu trabalho né, Charles?— Perguntei já sabendo de sua resposta

— Sabe, Charlezinho de onze anos queria ser policial e matar bandidos. Mas hoje em dia eu arrumei algo muito melhor, eu mando nos policiais e mesmo assim, ainda posso matar bandidos. Eu amo a minha vida.

Ri em resposta e continuamos a caminhar pelo salão, combinamos que iríamos primeiro na mulher que tentou me matar. Seu cabelo estava raspado, seu rosto inchado de choro e roupas sujas de sangue, não tínhamos nem tocado nela ainda, a garota depenada ficou aqui nessa sala de molho por uma semana me esperando voltar.

A mulher a minha frente não sorria mais como antes, agora só sabia implorar para viver e chorar. Seu corpo esbelto tremia da cabeça aos pés, as unhas que antes eram rosa claro, agora continham o vermelho de seu sangue após fazer força pra tentar cortas as cordas com as próprias garras.

— Comece a falar, querida— Peço com a voz calma, ela está abalada o suficiente para não precisar da força bruta.

— Eu não sei de nada Hacker, me deixa ir por favor — Ela gritava com a voz aguda e o rosto inundado por lágrimas

Logo me aproximei de seu corpo amarrado e acariciei seu belo rosto, eu nem ao menos sei o nome dela, mas sei sua história.

A puta alemã, a adolescente que fugiu de casa por não querer se casar com um herdeiro indiano, morou nas ruas e viveu de fodas com homens ricos. Fazia isso para que tivesse um lugar para dormir e o que comer quando os homens velhos estivessem satisfeitos e adormecidos. Até que a puta alemã foi encontrada pelo chefe de seu pai, ele a levou para casa e fez dela sua protegida. Óbvio que a esposa do homem odiou a presença da ex prostituta em sua casa, mas a palavra do marido era lei. Essa menina nunca teve escolhas, ela sempre lutou pra sobreviver.

Mesmo que tenha tentado me matar a momentos atrás, estava apenas cumprindo ordens do alemão desgraçado

— Me diga seu nome — Não sou um santo, mas nem sempre sou um assassino — Estou esperando.

— Anelise, meu nome é Anelise— Seus olhos revelavam todo o seu desespero— Mas sou conhecida como a puta alemã, senhor

— Seus atos foram por necessidade de sobrevivência, não exatamente foram consentidos e você é uma criança ainda, garota— Segurei seu queixo, forçando a ficar erguido e me olhando nos olhos com fúria. Ela não é uma mulher, é uma menina com muita raiva acumulada e desejo de uma vida limpa— Você não é uma puta alemã, querida. Agora você é o meu brinquedinho e eu vou te tornar uma arma, uma que só eu vou poder atirar.

A garota se mantinha quieta quando levantei o rosto e olhei na direção de Charles, que esperava uma tortura mas que ao ouvir o apelido da garota, compreendeu minha decisão como Capo e assentiu para mim. Soltei o rosto da garota e caminhei em direção a porta.

Ela não vai falar nada agora, mas posso usá-la para atingir o alemão. Eu vi potencial em Anelise, a raiva que brilha em seus olhos é mesma que vejo quando olho no espelho. Posso treiná-la e fazer coisas maiores.

— Onde vamos agora? Ainda temos dois para pegar informações— Não olhei nos seus olhos enquanto caminhava em direção a porta preta dá cela de Roger

— Mate a garçonete, ela só estava aqui para vigiar a Anelise. Não tem serventia para nós. E vou entrar sozinho agora

Abri a porta e olhei nos olhos do meu maior inimigo de toda a vida, Roger fodido Michel. Como um homem tão desgraçado fez uma filha tão maravilhosamente pior que ele.

Mas a Alyson é bem mais bonita

Seus olhos baixos levantaram para me ver chegando, seu rosto não tinha expressão alguma mas eu vi ódio puro em seu olhar. O homem me odiava desde que eu era menino, a mesma raiva que eu vi em Anelise, Roger viu em mim a anos atrás. Potencial, era potencial puro.

— Eu te disse que um dia trocaríamos de lugar, Roger. Disse que um dia faria você implorar

— Se for para me matar, faça logo menino. Nunca tive paciência para jogos

— Só para aqueles que eram seus, seu filha da puta!— Me alterei e vi um sorriso crescer em seus lábios— Eu não vou matar você, muito pelo contrário, eu te quero bem vivo para fazermos essa aliança

— Eu sabia que você seria fraco novamente, ela sempre enfraqueceu você— O imbecil fala da própria filha como se fosse um objeto.

— Não, eu vou deixar você vivo para que veja como ela nem precisa se lembrar de mim, para rastejar até a minha cama— Seu sorriso morreu aos poucos, o jogo agora é meu— E quando isso acontecer, e vai! Eu vou te ligar, e falar que você venceu, Roger. Vou dizer que a podemos sim fazer essa aliança, mas enquanto eu falar isso a você, Alyson Michel estará cavalgando na porra do meu pau e dizendo que é minha.

Xeque-mate, Michel.

Rose Dans Le CrâneOnde histórias criam vida. Descubra agora