Pela manhã meu corpo funciona no automático, apenas cumprindo com todas as minhas obrigações e me tornando o rosto bonito que os negócios precisam que eu seja.Todos ao meu redor se moviam com agitação para terminar os últimos preparativos da minha festa, mas tudo que eu queria era me deitar novamente e deixar que outra garota vivesse esse dia em meu lugar. Uma ocasião que a anos atrás seria meu maior sonho, agora se tornou meu maior e mais temido pesadelo.
Movo meu corpo como um fantasma até as escadas e subo com cuidado pelos degraus, enquanto olho em volta e vejo meus irmãos mais velhos me olhando com preocupação. O problema de ter irmãos protetores é que nem sempre eles vão poder me proteger, ainda mais se for sobre nossas obrigações com a Roses.
Quando chego até a porta do meu quarto, entro no cômodo e vou em direção ao meu banheiro para começar a me aprontar para a festa. Retiro minhas roupas sem nem ao menos ter tocado na porta. E quando adentro no lugar onde farei minha higiene, avisto um espelho grande bem diante de mim, onde posso olhar meu corpo dos pés a cabeça.
Antes que pudesse começar a admirar meu próprio reflexo no espelho, vejo um tipo de bilhete colado no canto direito do vidro. Assim que o pego em mãos, sinto todo o meu corpo se eletrizar com as palavras contidas no papel branco.
"Espero que consiga se ver como a mulher que eu vejo. Faça dessa noite a melhor da sua vida, quebre regras, seja a mulher que quer ser e não a que eles querem que você seja. Foda-se essa merda, piccola dea
Com carinho, seu admirador que nunca será secreto."
Um sorriso involuntário se formou no meu rosto, fazendo com que a menina em mim se sentisse mais segura por saber que alguém ainda a estava vendo bem ali, pouco assustada por ter que crescer de um dia para o outro, mas se sentindo segura agora.
Estranho como em três dias, Hacker tem mudado tudo aqui dentro.
Termino meu banho e assim que volto para o quarto, vejo minha melhor amiga e minha mãe paradas diante de mim, enquanto tagarelavam sobre eu estar vermelha pelo banho quente e que em algum momento vou assar minha própria pele.
— As meninas estão perguntando se podem entrar para começar a te maquiar e vestir você— Mel me perguntou com animação na voz
— Eu não tenho muita escolha, então podem entrar sim. Meu futuro marido precisa me ver perfeita, não é mesmo?— Pude ver o corpo da minha mãe se tensionar e sua expressão se tornando neutra aos poucos.
— Então vamos começar logo que está perto do horário— Minha mãe caminhou até a porta, enquanto seus saltos caros como um estádio de futebol faziam um barulho baixo ao baterem no piso branco como a neve.
— Vadia inútil— Atiro na testa da mulher ruiva que estava interrogando a alguns minutos.
Depois de horas sujando as mãos em seu sangue fodidamente podre, tive certeza que já havia extraído todas as informações importantes da mulher grega. Seu corpo estava amarrado na cadeira de madeira, enquanto jorrava sangue para todos os lados daquele galpão escuro.
Caminho até a pia no canto de umas das paredes e lavo minhas mãos manchadas pela vida de uma traidora. Esfrego meus dedos sem sentir culpa alguma por ver o vermelho manchando toda a cuba branca. Depois de tudo que vi e fiz nesses últimos dias, aquele era apenas mais uma para a minha pilha de corpos.
Sinto olhos queimando minhas costas e nem preciso me virar para identificar aquele que tem me treinado sem se importar com a minha idade. Eu sabia o que viria agora, então apenas me preparei e comecei a repassar as informações descobertas a pouco.
— Ela vendeu algumas armas para uma máfia que está se iniciando agora no Brasil, soube que eles começaram como agiotas e resolveram expandir seus negócios pelo mundo. Precisavam de um novo carregamento de armas para crescer, começaram a pesquisar sobre nós até encontrar um elo fraco na corrente, então usaram ela como vadia e ladra para conseguir isso— Respiro um pouco antes de sentir a primeira chicotada vir de encontro a minha pele recém cicatrizada— Toda a sua família já está morta e todos no Brasil estão sendo exterminados nesse exato momento. Os soldados que estavam no último estágio de treinamento foram designados para cumprir a missão e se fizerem tudo certo, vão ser liberados para voltar para casa logo após a execução.
Outras três chicotadas desceram sem dar tempo para que eu pudesse me recuperar. Sentia meu sangue escorrer e lavar toda a minha camisa branca, mas não me movi ou gritei enquanto sentia a pele ser rasgada.
— Alexandre...— Chamo pelo seu nome com a voz pouco rouca pela dor latente em minhas costas— Ela vazou a localização da festa de Alyson.
— Acha que não sei, menino idiota?— Outra vez a queimação veio, essa foi mais forte que todas as outras. Segurei as bordas da pia com força, me negando a cair de joelhos— Acha que não sei da porra do seu presentinho para o diamante Michel?
Ri baixo com a informação recebida, claro que seria por esse motivo que ele estaria me castigando sem que tivesse feito nenhuma burrice na Roses. Alexandre me mataria quando soubesse que seu diamante já me pertence a mais tempo do que é de seu conhecimento.
— Você será escalado para ser um dos seguranças da festa essa noite, rapaz— E assim, toda a dor sumiu e deu lugar a uma esperança que nunca havia sentido antes— Mas não irá tocar na minha sobrinha. O seu castigo será ver a garota que tanto quer, sendo entregue a uma pessoa de muito mais importância do que um mero soldadinho.
Nesse momento a esperança morreu, dando lugar a um ódio muito mais profundo e anestesiante. Me virei para o homem que se preparava para levantar o chicote mais uma vez e avancei com tudo contra o seu corpo. Golpeei como nunca fiz nos treinos. Sou rápido e letal quando chuto sua costela, socando seu rosto com toda a força e repetidas vezes sem nem o deixar recuperar o fôlego
Não paro de acertar o corpo já fraco do homem sem ar, apenas quando me coloco por cima do seu corpo, posicionando meu joelho no seu pescoço e forço meu peso para terminar de sufocar o velho cansado que rasgava toda a minha pele a minutos atrás. Quando noto o ritmo da sua respiração começar a se tornar lento e seus braços pararem de lutar para me tirar de cima de si, me levanto do chão com um sorriso no rosto.
— Só não vou te matar hoje, pois é aniversário da minha futura esposa. Mas saiba que você só tem poder até onde eu permitir que tenha, não sou apenas um soldado, eu sou a porra do braço direito do futuro capo— Ajeito meus cabelos louros que estavam caídos na testa suada pelo combate corpo a corpo— Mas eu aceito ser segurança da minha mulher sim, só não te garanto que não vou tocar nela.
Termino de falar e me volto novamente para seus olhos, vendo somente agora que o merda estava inconsciente e perdendo todo o meu discurso.
Nem vou tentar lavar as mãos novamente, vai que agora vem um avô da minha noiva tentar me chicotear também. Caminho para fora com as roupas banhadas do meu próprio sangue e dos vermes que deixei no galpão. Sigo meu caminho como se tivesse ganhado na loteria, mas eu apenas matei uma pessoa, espanquei outra e para melhorar, vou ver ir ver a minha Piccola dea.
— Fala, Julian— Cumprimento o soldado velho e mudo, sentado na porta de saída da mansão— Sua mulher dormiu de calça jeans hoje? Não quer me responder, está aí sem falar nada
Vejo sua mão enrugada se erguer para me dar o dedo do meio, mas eu poderia o estressar mais do que isso.
— Quando ela dormiu comigo não estava de calça jeans não, Julian.
Assim que termino minha provocação, sou obrigado a correr com toda a velocidade, já que meu querido amigo começou a atirar na minha direção. Para falar ele não se esforça, mas para tentar me matar o velho se torna uma máquina. Mas hoje nada poderia estragar o meu bom humor.
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Rose Dans Le Crâne
RomanceParece faltar algo em sua vida, uma parte da garota a deixou naquele dia. Assim como as paredes brancas daquela casa se tornaram vermelho sangue, algo dentro de Alyson se foi junto com as lembranças bloqueadas pela sua mente. Como seria possível sen...