Ritual da lua cheia.

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Capítulo 11.

Diferente do festival da fogueira em homenagem ao deus do sol, o ritual da lua cheia era algo íntimo entre os casais, principalmente para o casal imperial, que tinha privilégio de se reunir no templo junto dos oradores para fazer suas orações para desejar por fertilidade e fartura para gerar herdeiros saudáveis, toda lua cheia.

Aquele era o ritual mais importante para Gulf.

Devido à sua infertilidade e a constante humilhação em relação a isso, todos os anos, Gulf fazia orações fervorosas e intensas para que sua situação fosse mudada. Rogava à deusa da lua por piedade, para que ela lhe proporcionasse o privilégio de conceber uma criança.

Após o casamento, este ritual exigia um sacrifício. Aquele que desejasse conceber, deveria oferecer à deusa sua beleza em troca de frutos para a união.

Assim, quando a lua cheia brilhou no céu, em toda a sua imponência, Mew e Gulf caminharam juntos até o belíssimo templo da deusa da lua, vestidos em robes brancos e véus claros que combinavam com a pedra pálida usada na construção diante deles.

Eles seguiam de mãos dadas até os pés da estátua da deusa da lua, ajoelhando-se diante da fonte de água cristalina, que era decorada com flores brancas que flutuavam de forma etérea.

Cada um segurava um ramo de lírios brancos, prestando suas orações à deusa enquanto tinham a cabeça molhada com a água da fonte pelos oradores, que faziam um cântico antigo ao som de sinos e harpas.

Mew abriu o olho de canto, apenas para espiar ao seu marido, surpreendendo-se ao encontrá-lo completamente focado em sua oração. Suas sobrancelhas estavam juntas, como se implorasse à deusa com veemência. Entretanto, o que mais lhe surpreendeu foi a lágrima que presenciou escorrer do olho dele.

Não era a água da fonte que descia de sua cabeça e sim uma lágrima solitária e triste.

Um pigarro chamou a atenção de Mew e ele viu sua mãe o encarando em reprovação, então logo tornou a fechar os olhos e terminar suas orações rotineiras.

— Agora, a oferenda — Um dos oradores falou — A beleza em troca de bênçãos de nossa adorada deusa.

Quatro mulheres se aproximaram deles, vestindo leves roupas brancas, tinham seus rostos cobertos por véus. Duas carregavam tigelas prateadas e as outras duas tesouras. Elas se dividiram, ficando duas para cada imperador.

Elas os ajudaram a entrar na fonte, até que estivessem com a água até a cintura, suas roupas cerimoniais flutuando.

Então, com a permissão concedida, elas cortaram algumas mechas do cabelo de Mew e colocaram na tigela. Enquanto a Gulf, que tinha os fios até a altura dos ombros, teve grande parte de seu cabelo negro cortado, deixando-o acima de suas orelhas.

Aquele que concebe era quem mais deveria cortar o cabelo, para que a deusa lhe desse uma atenção especial na hora das bênçãos.

Para Gulf aquilo não importava, poderiam raspar sua cabeça com uma navalha se isso significasse que seria capaz de gerar filhos.

Ter cabelos longos na família imperial era uma vergonha, pois era sinal de que a pessoa não fornecia herdeiros para a linha de sucessão. Indira era a única imperatriz que não se importou com aquilo e concedeu ao reino apenas um herdeiro, mas, em compensação, ela era da linhagem imperial, seu marido quem viera de terras distantes.

No caso de Gulf, o considerado forasteiro era ele. Todos o olhavam com desdém, desacreditados que ele seria capaz de trazer prosperidade ao reino, já que sua única função era dar filhos para o imperador, mas o casamento sequer havia sido consumado.

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