Falta.

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Capítulo 23.

Gulf estava apreensivo, já fazia dois dias que ele não recebia uma carta de Mew. Cada dia sem que Nyctea bicasse sua janela era um dia sem que dormisse direito.

Soube pelas fofocas dos servos que uma grande luta estava acontecendo no campo de batalha, que os exércitos se enfrentavam com força total.

Tendo apenas aquelas informações, Gulf passou a jantar em seu quarto para que pudesse monitorar sua janela, caso Nyctea surgisse.

Passava tardes caminhando no jardim, olhando para o céu, em busca da coruja branca. Mesmo que quase congelasse de frio, se encolhendo em seus casacos, tremendo da cabeça aos pés.

— Majestade, vamos voltar para dentro — Bright pediu, preocupado — Pedirei para alguém ficar de olho na coruja. Caso ela apareça, será imediatamente informado.

O imperador Genitor pareceu tentado a voltar para o conforto do palácio e sair daquele frio, mas ainda estava relutante, olhando para o céu.

— Majestade — Bright chamou novamente — Acenderemos a lareira e mandarei que lhe tragam um chá, que tal?

Aquilo fez Gulf desviar seus olhos e soltar um suspiro longo, que liberou uma fraca nuvem no ar gelado.

— Está bem — Concordou — Vamos entrar.

Quando se viu próximo à lareira novamente, Gulf respirou aliviado.

O imperador Genitor estava sentado em seu lugar de sempre no escritório, próximo à lareira e cercado de papéis, mas ele apenas os encarava, sem saber o que fazer.

Gulf estava disperso, não conseguia se concentrar no trabalho sem que sua mente o levasse até cenários assustadores do porquê não recebia mais notícias de Mew.

Se sentia preso e ineficaz.

Ele olhou para sua janela, onde a neve se acumulava no peitoril. Movendo-se no automático, foi até a janela para retirar a neve. Mesmo que o frio quisesse impedi-lo.

Assim que chegou à janela, Gulf observou a vila ao longe, com fumaça de lareiras saindo da chaminé de quase todas as residências, aquela distância fazia parecer que as pessoas eram minúsculas. O palácio havia sido projetado para que aquele que olhasse pelas janelas se sentisse grandioso, imbatível, o maior dentre todos os seres humanos. Inalcançável.

Tudo para que o imperador tivesse a sensação de que era o ser mais poderoso existente.

— Bright! — Gulf chamou, não demorando para que seu guarda aparecesse à porta — Prepare meu cavalo — Ordenou — Nós vamos sair.

A viagem até a vila não era longa, mas a neve nas estradas a tornava lenta. A ventania gelada fazia Gulf se encolher em seus casacos, seu corpo pedia para que voltasse ao conforto do palácio, próximo ao fogo quentinho.

— Uma visita ao vilarejo foi uma decisão ousada, majestade — Um dos servos de companhia comentou.

— Perigosa, você quis dizer. Vossa majestade está se arriscando sem necessidade — Outra serva pontuou — Estamos em uma guerra, não pode se expor desta forma.

— Pode haver inimigos nos observando neste exato instante — Um outro servo se encolheu na cela do próprio cavalo.

— É por esta razão que estamos sendo escoltados por 20 guerreiros — Gulf apontou para os guardas ao seu redor, armados e montados em cavalos de pernas fortes.

— Mas é inverno, vossa majestade poderia adoecer.

— Por isso é tão importante visitar a vila — Gulf bufou, liberando uma névoa no ar gelado — Precisamos ver como estão as coisas e resolver o que precisar ser feito.

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