Algo diferente.

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Capítulo 22.

Por entre as nuvens cinzentas e carregadas, era difícil dizer a hora do dia. O que passou a guiar os aldeões de Solaris era o frio. Quanto mais frio, mais cedo estava. Ao longo do dia a temperatura poderia aumentar, mas voltava a baixar com o cair da noite.

Gulf tentava acompanhar, mas se cansaço começou a impedir que acordasse cedo. O frio somente o incentivava a se encolher nas cobertas e se sentar próximo à fogueira de seu quarto.

Certa vez, a madame Rashida chegou ao quarto para acordá-lo e tomou um susto ao encontrar a cama vazia, apenas para encontrar o imperador Genitor deitado próximo a lareira, perigosamente próximo do fogo.

— Majestade! — Ela exclamou, correndo até ele e puxando-o para trás — Estava dormindo no chão? E quase tocando as chamas, que perigo!

— Está muito frio... — Gulf reclamou, ainda um pouco sonolento — Estava apenas tentando me aquecer.

— Não está tão ruim assim, majestade. Os lagos nem congelaram ainda — Ela explicou — Está todo agasalhado, enrolado em um lençol grosso, como pode estar com tanto frio?

— Eu não sei, mas o dia está congelante — Gulf tentou se arrastar de volta para o fogo, mas foi impedido pela madame.

— Deverei insistir que fique de pé — Rashida falou, acenando para os servos de companhia — O dia já começou.

Gulf foi vestido pelos servos com certa pressa. Insistiu que colocassem um casaco extra sobre ele, mas o frio ainda o estava consumindo. Ele caminhava pelo palácio sentindo como se andasse por uma floresta congelada.

— Está tudo bem, vossa majestade? Está tremendo... — Bright comentou.

— Este frio está acabando comigo — Gulf se encolheu levemente — Como está aguentando andar de armadura?

— Elas são revestidas com couro — Apontou para o peito de prata — E hoje não está tão frio assim.

Gulf o olhou com uma expressão ultrajada, mas continuou seu caminho sem reclamar novamente. Todos pareciam loucos; como ele poderia estar congelando de frio e ninguém mais sentia? Chegava a ser vergonhoso.

— Será que estou doente? — Pensou em voz alta.

— Está se sentindo doente? — Bright perguntou logo — Devo chamar Win- digo, o médico?

— Não é necessário — Gulf dispensou rápido, dando alguns passos à frente.

Desde que havia chegado à capital se recusava a ser examinado pelos médicos. Temia que eles descobrissem sua infertilidade e contassem a Mew. Se aquele assunto vazasse, poderia ter o casamento cancelado.

— Não me sinto doente — Garantiu — É apenas a falta de costume ao frio.

Aquilo pelo menos era verdade, ele não se sentia doente. Não espirra, nem sentia dores; era apenas aquele frio constante.

Assim que entrou no escritório, agradeceu que a lareira já estava acesa. Colocou um pouco mais de lenha e se sentou na cadeira.

Ele adorava a sensação de conforto que aquela cadeira lhe passava. Além de realmente ser agradável para suas costas, sentia-se abraçado pelo próprio Mew quando se encolhia nela.

Sentia falta de seu marido, não suportava os dias sem ele. Saber que estava em um acampamento de guerra, neste frio inabalável, não ajudava em nada sua mente. Queria ser embalado pelos braços de Mew, que sabia serem a única coisa capaz de realmente aquecê-lo.

Quando Gulf percebeu, já estava encolhido na cadeira, abraçando as próprias pernas e com a cabeça deitada no apoio para as costas.

Ele soltou um longo suspiro e arrumou sua postura, logo começando a trabalhar, analisando as cartas que haviam chegado de outras províncias.

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