Cap 14.1 | Gostaria de ouvir você

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Percy

Eu estou muito bravo. A velocidade que sinto meu sangue correr venceria facilmente um GP, mas sei que isso não vai ajudar Tyson. Então respiro e tento canalizar toda a parte de mim que é filho de Sally Jackson, torcendo pra eu ter herdado o suficiente dela. Olho de relance para Tyson, sentado no banco do carona ao meu lado no carro, enquanto dirijo.

— Vai me contar o que aconteceu?

— Já sabe o que aconteceu.

— Gostaria de ouvir de você.

Ele suspira, não de forma impaciente, apenas cansada e desencosta a cabeça do vidro da janela.

— Eles são uns babacas, foi isso que aconteceu. Ficaram caçoando de um garoto novo hoje de manhã e eu rebati, zoei com a cara deles pra desviar a atenção do garoto e a sala toda riu. Eu talvez tenha dito que a idade mental deles é tão baixa porque acompanhou o crescimento de certas partes do corpo deles. Eles não gostaram ué.

— E por que não foi embora com a Marina depois da aula?

— Falei pra ela ir sozinha hoje, que eu tinha um trabalho em grupo pra resolver. Eu sabia que eles poderiam dar o troco e não queria que Marina estivesse junto se acontecesse.

Os nós dos dedos estão brancos pela força com que seguro o volante.

— Se achava que eles poderiam estar te esperando no ponto, por que não me ligou antes? Eu te pegava na porta.
Ele não responde de imediato, apenas enruga o nariz, como se segurando uma careta.

— Seria só adiar. E nem aconteceu nada, olha, só um corte na boca.

— Então se eu pedir pra você levantar a camiseta não vou ver hematomas vermelhos aí. — A surpresa de canto de olho dele me divertiria, se, de novo, eu não estivesse puto da vida. — Sei como é, Ty. Batem onde é fácil de esconder pra eles não se encrencarem depois. — Ele apenas volta a encarar o trânsito pela janela. — Vamos falar com Quíron amanhã.

— Isso só vai piorar as coisas. — Ele nem sequer descola a testa do vidro pra falar.

— Isso é caso de expulsão, Tyson. Tirar esses meninos da escola.

— Mas é minha palavra contra a deles.

— Quíron vai acreditar em você e vou estar junto.

— Mas os pais dos garotos também vão, e daí? Por mais que você vá estar lá, eles vão chamar meu pai e você já sabe que isso não vai ser bom.

— Até mesmo seu pai, vendo o que aconteceu, vai...

— Não, Percy, ele não vai. — Ele olha pra mim e, mesmo eu não podendo olhar de volta, os olhos na estrada, sinto o cansaço e frustração emanando dele. — Já fizeram bullying comigo na escola e eu contei pro meu pai. Sabe o que ele me disse? Que eu devia resolver e parar de ser frouxo. Gritou comigo e depois saiu de casa, porque não queria ver minha cara de frouxo. Se eu aparecer em casa falando que apanhei e ainda por cima não revidei, nossa, ele vai perder a cabeça.

O garoto despeja tudo de uma vez e eu espero. Não é a primeira vez que Tyson desabafa essas coisas comigo. Desde que a mãe dele foi embora, ele passa quase tanto tempo na minha casa quanto na própria. Muitos dos desabafos me espantavam e até tentei algumas vezes conversar com o pai dele, sem nenhum sucesso. O homem é uma porta irredutível de se achar o poço de razão superior e deixou bem claro que não admite nenhuma “intromissão em como educa o pirralho dele”. Então tento proteger Tyson como posso, já que ele e Marina são amigos desde os seis anos. Sei que não é ideal nem estável para ele, mas não posso deixar de fazer algo. Mas também não posso pegar o menino e levar pra casa de vez.

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