David
- Marina, - sussurro, entredentes, - você quer, por favor, parar de sussurrar? Eles com certeza já estão aqui, então tenta ser discreta, tá bom?
- E o que você acabou de fazer, gênio?
- Foi pra você parar de... olha, só para.
A garota comprime os lábios, obviamente contrariada pela bronca, mas, graças aos deuses, fica quieta. Ela usa a maior parte do trajeto até ali pra conjecturar teorias do que eles querem falar com a gente. Porque é claro que querem falar com a gente. Esse papo de "vou te buscar na casa do David" não colou nem um pouco. Achei meio desnecessário ficar teorizando, porque era bastante óbvio, mas a empolgação de Marina a motivava a explorar as possibilidades.
Abro a porta, já imaginando que Percy estaria lá dentro, pois a gente já viu o carro dele na calçada.
- Mãe, cheguei.
- Aqui na sala, - é a resposta.
Indico com a cabeça pra Marina me seguir e ela assente, mas antes de cruzar o batente da sala, sussurro o mais baixo que consigo.
- Só... tenta não dar pulinhos, está bem?
Ela revira os olhos e entra na sala.
Qualquer dúvida que eu pudesse ter sobre o que eles querem nos contar desaparece quando os vejo sentados no sofá como um casal prestes a sair para o baile na formatura. Não há nenhum traço de nervosismo, apenas... animação? Deuses é pior do que pensei. Na mesma hora entendo o que vai acontecer, o discurso e tudo o mais e decido ir direto ao ponto.
- Vocês estão juntos? Legal.
Marina me olha horrorizada, como se eu tivesse roubado o momento dela. Percy dá risada.
- Bom, isso facilita as coisas. - Minha mãe apenas balança a cabeça, pra mim e pra ele.
- David, Marina... - Ela chama, dando tapinhas no sofá ao lado dela. - Por favor.
Marina é a primeira a se sentar, claro, e me jogo ao lado dela. Percy relaxa ao lado de minha mãe, nos observando divertido e tranquilo. Será que alguma coisa consegue estressar esse cara?
- Percy e eu decidimos começar a sair. Sei que isso não é muito surpreendente pra vocês, porque notamos os planos das últimas semanas para ajudar. - Tento não me sentir muito ofendido pelo seu tom com a palavra ajudar. Ora, Marina e eu ajudamos sim. Merecemos pelo menos 40% do crédito desse relacionamento. - Mas é verdade que saber que vocês se sentiam ok com tudo nos deixou mais tranquilos pra dar uma chance pra nós. - Quando diz "nós", ela se vira pra Percy e olhar que ele lhe devolve é tão emocionado que quase me faz desenvolver diabetes aos 14 anos. Me remexo no sofá e desvio os olhos pra Marina, apenas para encontrá-la encarando a cena com olhos brilhantes, como se assistisse um filme ou sei lá. Ótimo. Se alguém algum dia me acusar de não ter autocontrole, vou me lembrar desse momento porque não revirei os olhos nem sacudi a cabeça. - Vocês estão mesmo bem com isso?
- Uhum. - Respondo, tranquilamente, os braços estendidos no encosto do sofá. Sei, quase telepaticamente, que se estivéssemos sentados em uma mesa, Marina já teria me chutado por debaixo dela.
- Claro que estamos. Só queremos ver vocês felizes, não é, David?
Concordo com a cabeça e espero que eles entendam o gesto como genuíno. Porque é. Só de olhar para os dois dá pra ver que Percy pularia de um precipício por ela. E esse brilho nela é algo que eu nunca havia visto antes. Como poderia me opor? Talvez fosse esquisito, às vezes. E ainda penso muito no meu pai, mas Percy não está se candidatando a esse cargo, está se candidatando a namorado da minha mãe. Com isso eu posso lidar.
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Take it Lightly | au Percabeth
RomansaHá maneiras melhores de se conhecer do que ser chamado na diretoria porque sua filha adolescente arrumou confusão com o filho de outra pessoa. Mas quando se olha a vida com leveza, essa não é a pior das maneiras. Postagem todo sábado 😊