Cap 38.2 | Fazer parte de momentos

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David

Missão cumprida.
Essa é a sensação. Descobri que Toni é realmente um cara legal e não me incomodei nem um pouco quando o vi andando pela beira do mar de mãos dadas com Marina, depois de saírem da nossa rodinha não tão de fininho assim. Deixa a menina viver. É claro que na minha investigação eu me diverti um pouco com a cara dele, mas ei, faz parte da minha personalidade.
Agora estou aproveitando o que acredito ser o oitavo cupcake do dia, o Sol já bem próximo de se pôr. Sinto que minha atividade de observar o mar será logo interrompida, pois Tyson e Clarisse se aproximam a passadas rápidas. Clarisse parecendo prestes a cometer um crime e Tyson claramente se divertindo às custas dela.
– Você quer fazer o favor de falar pra esse lambisgóio, – Tyson ergue as sobrancelhas, se divertindo com o xingamento, – que ele tá totalmente errado sobre o desenvolvimento de personagem da Azula?
– Você tá totalmente errado sobre o desenvolvimento de personagem da Azula.
– Mas você nem sabe meu posicionamento?!
– Não preciso. Com esse olhar homicida que a Clarisse tá, a melhor decisão é concordar com ela. Até porque, a Azula é uma das personagens favoritas dela, eu que não vou mexer nisso.
Ele suspira, na dramaticidade típica de Tyson, e se joga no chão ao meu lado.
– Obrigada, David. De vez em quando você serve pra algo. – É o que a garota que se diz minha melhor amiga fala antes de sentar do meu outro lado.
– Disponha, eu acho.
– Nossa, mas você perturbou a Marina hoje, – Tyson diz, depois de um breve silêncio, a boca meio cheia de salgadinhos que ele trouxera dentro de um copo descartável.
– Só tava fazendo meu trabalho.
– Trabalho de que? Irmão? – Clarisse provoca, meio rindo.
– Algo assim.
– Uau. Às vezes eu realmente acho que entrei numa realidade paralela.
– Seria tão incrível uma realidade paralela onde você não me enchesse a paciência todo dia, – Clarisse se estica pra roubar o copo com salgadinhos dele, mas ele desvia. O olhar assassino rapidamente volta ao rosto da garota.
– Que isso. Se quer minha comida, podia pelo menos ser legal comigo.
– Prefiro passar fome.
– Como quiser.
Ele vira todo o conteúdo do copo de uma vez na boca, as bochechas dobrando de tamanho com o conteúdo. Penso em sair dali, uma leve sensação de que estou interrompendo algo.
– Nojento.
– Você não tem mesmo medo do perigo né? – digo, meio pra aliviar o clima, meio que pra lembrar os dois da minha presença ali. – Tipo esses dias com o grupinho do Manson. Nossa, eu sou sempre o primeiro a defender uma boa piada, mas aquele dia achei que eles iam te trancar no armário de novo.
– Como assim de novo? O grupo do Manson já mexeu com você?
– Ah, sabe como é. Eles mexem com todo mundo. – A voz dele está diferente, mais tensa do que um segundo atrás e posso jurar que ele usa o movimento de tirar os farelos do rosto pra enrolar e ganhar tempo. – Nada demais.
– Nada demais? Eles realmente te trancaram no armário?
– Bom, sim. – Os olhos deles não encontram os nossos e, tardiamente, percebo que fiz merda e toquei num tópico mais sensível do que imaginei. Merda. – Mas eles destrancaram depois… quer dizer, o meu amigo filho da dona da cantina destrancou. Mas o que importa é que eu saí de lá e minha piada foi ótima.
– Tyson! Eles acham que são quem? – A voz dela tremia de ódio. – Aqueles otários que se acham grande merda quando estão em grupo. Foi a primeira vez que mexeram com você ou já fizeram antes?
– Só quando estão entediados. Sabe como é, são uns desocupados. – A expressão está neutra e a voz forçadamente leve. – Será que se eu pedir com jeitinho, a sua mãe me faz uma piña colada alcóolica?
– Peraí. Não muda de assunto não.
– Deixa pra lá, Clarisse. – A irritação está cada vez mais clara na voz de Tyson. Olho para Clarisse, que parece não perceber o desconforto dele.
– Não deixo, não. Nossa, segunda-feira todos eles vão conhecer como é o interior do intestino um do outro e depois…
– Clarisse, – enfatizo o nome dela, tentando cutucá-la. – Ele disse pra deixar pra lá.
– Nem vem, David. Eu vou…
– Não vai nada. – O tom que ele usa tem o peso de mil punhos e sinto todos eles no peito. – Para de fingir que se importa.
Acho que Clarisse sentiu o peso também, pois o encara atordoada.
– Do que ta falando, garoto?
– Ah, esquece.
Ele se levanta, tão rápido que o movimento faz um pouco de areia chover em nós, e se afasta. O Sol já está bem mais baixo agora e o rosto dele se esconde no início da penumbra noturna. Minha amiga não faz nenhum movimento para segui-lo, mas acho melhor assim. Mas também não sei muito bem o que falar pra ela, se continuar sentada ao meu lado. Queria que essa cena tivesse acontecido na frente de alguém que saberia o que falar. Marina seria bom, Bianca melhor ainda. Até Lester, eu acho. Mas não, estávamos nós dois, os mais sem tato do nosso grupo, encarando o resto do pôr do Sol.

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