𝐎𝐩𝐩𝐨𝐬𝐢𝐭𝐞 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 『 𝗡𝗔𝗥𝗨𝗛𝗜𝗡𝗔 』

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Você me combate como um bombeiro
Então me diga porquê você ainda se queima
Você diz que não, mas ainda é um mentiroso
Porque é pra mim que você sempre corre
— Hurt So Good; Astrid S

A música alta que soava pelas caixas de som atormentavam seus tímpanos, certamente as doses de bebida que já ingeriu naquela noite também faziam parte como fator da dor de cabeça que a assolou. Deveria ter dado ouvidos ao namorado e pegado leve, já que na manhã seguinte teria de acordar cedo pois teria ensaio com os demais cheerleaders.

Mas também, nem mesmo ele estava ao seu lado para dar algum sermão inútil – como sempre. Permaneciam ao seu redor pessoas que gostam de fingir uma intimidade inexistente, apenas porque estar do lado da mais popular, a influenciando beber outra vez e agir loucamente como se não houvesse um amanhã, parecia ser mais divertido do que fazer alguma outra coisa. Ouvia dizeres sobre como seu cabelo estava lindo, ou suas roupas sob medida caírem perfeitamente em suas curvas, captou também um comentário sobre ser a melhor na matéria de química e em como isso é bom para quem quer ir para uma universidade.

São tantas baboseiras que quase mandou todos irem tomar naquele lugar, porque estar ali mais de uma hora com pessoas desconhecidas fazia seu estômago embrulhar, principalmente quando fingia ser quem não é. A maioria deles poderia até ser do mesmo colégio que o seu, contudo sua memória para rostos e nomes era falha, por isso considerava aqueles estudantes estranhos.

Cansou-se daquilo há tempos, os elogios vazios, a babação de ovo lhe dava nos nervos além das bajulações fora de hora das partes extremamente interesseiras. A cada minuto, sentia-se sufocada, ter tanta gente ao seu redor era tenebroso. Manter as aparências custava caro, muito caro.

Aquelas vozes nem faziam mais sentido, ignorava tudo e todos, sem nem mesmo ser xingada ou mal dita, faziam-na parecer uma rainha que jamais deveria ser contrariada.

Teve vontade de rir com o pensamento.

Mal sabem eles que ela é uma pobre plebéia. Sua alma não tinha quaisquer resquícios de realeza e toda atenção que recebe é em grande parte por conta de ser a pessoa que lidera a equipe de torcida nos jogos do colégio. Talvez essa fosse a única função que tinha na vida, que realmente valesse a pena. Pode ser que tenha nascido apenas para isso, já que nas demais áreas era o fracasso em pessoa. Sua família que o diga.

Droga, estava tendo devaneios no meio de uma maldita festa, cercada de adolescentes que bebiam até desmaiar achando que isso era um máximo.

Tão fúteis. Tão vazios.

Iguais a ela.

Levantou-se da bancada, saindo da cozinha e indo em direção a sala, onde a maioria se concentrava. Tinha certeza que horário estava avançado e não demoraria muito até algum vizinho ligar pra polícia e reclamar da aglomeração e volume alto. Só adolescentes mesmo para fazer uma festa no meio de semana. Repugnante.

Andou entre os corpos dançantes, mais da metade completamente embriagados, seja pelo álcool ou alguma substância. O dono provavelmente investiu bem no jogo de luzes, se assemelham bastante as de boates e casas de show.

Tentou achar a cabeleira que tanto conhecia, somente para dizer que estava farta e queria ir embora logo dali, pois sua parte do acordo já foi cumprida com bastante êxito. Agora gostaria de sua cama macia e poder dormir as horas que lhe restavam antes do sol nascer e ter que ir para outro compromisso – um de verdade.

Vasculhou com seus olhos claros a multidão, procurando o casaco do time que ele costuma usar todas as vezes que saem, foi o combinado pois assim ela o encontraria mais facilmente. Bom, em prática na verdade dava sempre errado.