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There is a swelling storm
And I'm caught up in the middle of it all
And it takes control
Of the person that I thought I was
The boy I used to know
Waves, Dean Lewis

Foi antes do nascer do sol que se levantou, sem o auxílio do despertador. Calçou seus tênis e saiu de casa, aproveitando a pouca movimentação nas ruas para poder correr, porque o ambiente que vivia é pesado demais para se estar todos os dias.

Depois de alongar o corpo e colocar os fones de ouvido, permitiu-se não focar em mais nada, a não ser correr sem rumo, se deixando levar para onde seu corpo suportava.

O clima estava perfeito na sua opinião, haviam poucas pessoas na rua, alguns carros passando em velocidade média onde provavelmente o destino seria seu respectivo trabalho. Independente do curso que fizessem, Naruto jamais os veria novamente – ou talvez sim, nunca se sabe quando a vida poderia colocar alguém aleatório em sua vida.

Mas, se ele pudesse optar, quanto menos gente, melhor para ele. Houve uma época que ele era alguém que gostava muito de conversar, tinha facilidade ao fazer amigos, a pessoa mais social do seu bairro. Nas festas de fim de ano, batia o pé querendo que tivesse alguma outra criança nas casas chiques onde era privado de gritar ou correr. Muita chatice.

Agora, no entanto, tornou-se bastante recluso.

O processo para se socializar, normalmente envolvia ambas as partes dizerem sobre si. Os sonhos, vontades, metas, cor favorita, comida favorita, dentre tantas outras besteiras, daquelas que melhores amigos sabiam e usavam da informação para zombar e fazer gracinhas. Ele também teve essa época.

Existiam coisas na vida, contudo, que acabam por mudar o comportamento do ser humano. Sendo assim, a criança alegre e espontânea deu lugar ao introspectivo. Dizer coisas sobre si no presente para outros se tornou algo extremamente desconfortável, e graças a isso passou a diminuir seu círculo de amizade. Nem mesmo para seus amigos mais íntimos, conseguia externar. Parecia difícil demais.

Falar virou algo complicado, geralmente é fácil, muito fácil para alguns. Não para ele.

Estar inerte na maioria das vezes é seu meio de comunicação, quem quer que estivesse ao seu redor tinha de decifrá-lo, ou então, se afastaria. As tentativas eram frustrantes, poucos tinham paciência.

O silêncio sim fazia mais parte da sua rotina, exceto em algumas ocasiões – quando estava com os amigos, afinal eles eram barulhentos a beça. Fora isso, nada melhor do que estar abraçado ao caos interior que, grande parte das vezes, o sufocava.

Fugir seria uma boa opção? Talvez. Mas só os covardes fazem isso, gritava sua mente. Pode ser que ele realmente fosse um. Arregar as vezes parecia ser a melhor solução do que bater de frente sabendo que vai apanhar feio. No sentido figurado ou não.

Era normal estar com dezesseis anos e pensar dessa forma? Ter tantas crises existênciais? Sua mente ia e voltava diversas vezes, bem como um ioiô da sua infância, a qual tinha muita saudade. Já que, naquela época também, faziam questão de serem mais discretos. Com o passar do tempo, não fizeram mais questão de esconder, e quando saía de fininho, acabava sobrando para si.

Só agora compreendia melhor como as coisas funcionavam no mundo. Não bastava implorar, não adiantava tentar negociar, ou talvez ele fizesse do jeito errado? Ficava meditando nisso quando estava no quarto, fitando o teto por minutos demais.

Resolveu voltar para ir a aula.

No percurso da volta, percebeu o quanto o sol brilhava naquela manhã já não tão nublada, fazendo seu corpo se aquecer ainda mais. Recebeu cumprimentos de alguns vizinhos, e de maneira educada, retrubuiu. Chegando em casa, ainda na porta, ouviu o barulho de algo quebrando parecendo vir da cozinha. Automaticamente reagiu, correu até o cômodo com o coração palpitando muitas vezes mais rápido, sentindo os músculos enrijecerem. Chegando lá, viu sua mãe ajoelhada no chão catando os cacos de vidro do que parecia ser um copo.

𝐎𝐩𝐩𝐨𝐬𝐢𝐭𝐞 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 『 𝗡𝗔𝗥𝗨𝗛𝗜𝗡𝗔  』Onde histórias criam vida. Descubra agora