Capítulo 1

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4h:50 am
14°c

Frio. Muito frio!
Acordar com esse clima torna tudo mais difícil, parece que a qualquer momento vai deixar de sair ar dos meus pulmões e passar a sair fumaça gelada.

Apesar de não ser muito agradável, eu gosto! O frio me lembra que estou vivo, ou seja, a qualquer momento posso morrer.

Não é um pensamento legal para se ter assim que acorda, eu sei, mas é o momento reflexivo que temos para hoje.

Levantar da cama é um sacrifício, mas preciso estar de pé o quanto antes. Não me entendam mal, acordar de madrugada se tornou um hábito, mas não é porque eu gosto disso - e de frio - que eu não posso desejar simplesmente não ter que sair agora.

Minha vida está um caos. Daqui à dois meses eu tenho uma luta muito importante, caso eu ganhe, me classifico para o campeonato mais esperado do ano.

MMA Champions League.

Do contrário, entro para os classificáveis e tenho que vercer mais duas lutas antes de entrar de forma definitiva. Meu treinador não me deixa respirar, e nem eu quero. Não se isso me tirar do foco.

Na força de vontade que tenho, finalmente, me levanto e me praparo para o dia, que com certeza, vai ser puxado.

Me preparando para sair, me visto de modo que eu não morra de frio e que me deixe confortável, calço o sapato de corrida e pego meu fone e celular que estavam na cabeceira da cama.

Confiro se está tudo em ordem e saio. Detesto bagunça, comigo tudo tem que ser extremamente organizado.

Ligo o fone e corro pelas ruas de São Paulo, quem me vê pensa que estou ouvindo um Full Metal, mas na realidade, coloquei "Dia de branco" para tocar. Essa música me faz pensar em muitas coisas que ainda quero realizar e viver.

Passada exata 1h de corrida, retorno para casa, tomo um banho quente e preparo meu café.

Forte e sem açúcar.

Abro o aplicativo de mensagens em meu celular, e a primeira mensagem, claro, é do meu treinador. Todo dia é a mesma coisa, a mesma mensagem dos últimos anos.

"Bom dia campeão, tá preparado? Nada de baixar a cabeça, mais um dia para vencer!"

Luiz é o meu treinador, o cara que confiou em mim mais do que qualquer outra pessoa. Na verdade, ele e meu grande amigo Santos. Foram eles que me colocarem nesse mundo do MMA, antes disso eu já era lutador profissional, só que de Jiu-Jitsu, campeão panamericano e bimundial, inclusive. Mas, no MMA, eles que me incentivaram e acolheram.

Eu tive momentos muito complicados, onde eu não sabia o que fazer, do que abrir mão e porquê de fazê-lo, mas eles estavam sempre ao meu lado, me ajudando e me fazendo lembrar do que é importante para mim e, a eles, eu devo minha eterna gratidão.

Já travei muitas batalhas na minha vida.
Com 7 anos de idade fui diagnosticado com Síndrome de Tourret - tenho tics musculares que não consigo controlar - mas, essa não é a única síndrome que tenho, a Síndrome do Pânico também é uma companheira fiel e de longa data. E, não bastasse isso, a ansiedade também me atormenta.

Eu sou um pacote completo.

Um pacote completo de problemas.

Mas apesar das adversidades impostas a mim pela vida, eu nunca desisti de que eu queria. Determinação e disciplina sempre foram pontos importantes nas minhas conquistas.

Nada vem fácil, tudo que conquistei foi com muito esforço. Muitas vezes foi difícil não me deixar abater pelos minhas dificuldades, mas foi nelas que eu aprendi a ser forte, pois isso exige de mim mais do que achei que fosse capaz de dar. Todas essas batalhas forjaram o homem que sou hoje, e eu agradeço a Deus por me fazer um vencedor diantes de todas elas.

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