Capítulo 22

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Alice de França

Hoje me despeço da minha família. Foram duas semanas de muito amor, amor esse que transborda pelos meus olhos em forma de lágrimas de saudade nesse momento.

- Eu amo tanto vocês! - digo com a voz embargada pelo choro.

- Nós também te amamos, minha filha. Muito! - Seu Emanuel, meu pai, fala com a voz chorosa.

- Você sabe, não é, irmã? Você é chata mas eu te amo, vou sentir muita saudade. - Lucas me abraça apertado e sinto uma lágrima pingar em meu ombro. - Odeio despedidas.

- Eu sei, somos iguais. Também odeio despedidas.

Ficamos ali por mais um tempo até a hora do check in, ora rindo, ora chorando, até que minha mãe me chama em um cantinho.

- Filha, quero te falar algo.

- Pode falar, minha mãe.

Ela me olha profundamente nos olhos e respira fundo antes de começar.

- Eu não sei o que está se passando na sua vida nesse momento, minha filha, não sei como anda sua cabecinha com tantos pensamentos pensantes - sorrio, quando criança, costumava dizer que estava com pensamentos pensantes quando minha mãe perguntava no que eu estava pensando - mas sei que algo acontece aí dentro. Não me pergunte como, eu apenas sei. Mas, quero te dizer filha, que estarei sempre aqui para qualquer coisa que precisar, assim como seu pai e seu irmão, tenho certeza. Sei que tem momentos em nossa vida que ficamos sem saber em qual direção seguir, mas lembre-se sempre disso, Alice: na dúvida, siga seu coração, ele sempre lhe indicará o caminho.

Choro como uma criança nos braços da minha mãe. Eu, naturalmente, já me emociono com as belas palavras que ela usa, mas agora, parece que essas perfuraram meu coração de maneira antes realizada. Não sei se o clima de despedida junto com minha mudança de país contribuíram para isso, pode ser, já que agora vai ficar mais difícil estar com minha família, mas no fundo eu sei que não é só isso, e quando me atrevo a pensar mais um pouco e forçar minha mente a descobrir o que é, a imagem de Júnior aparece refletida quase que diante dos meus olhos.

Talvez, seja esse um dos grandes motivos para tamanho sentimento de tristeza. Vou ter que deixá-lo também, vou guardar na gaveta do meu coração, memórias e idealizações do que poderíamos ter vivido e que não tivemos a oportunidade de viver.

...

No avião a ansiedade me consome, dentro de apenas alguns minutos estarei em terra firme. Em casa.

Amo minha família e amigos que deixei na Bahia, mas nada melhor do que estar no conforto do meu lar.

Finalmente pousamos, rapidamente desço do avião e sem perder tempo rumo em direção a área de desembarque, antes, pego minha mala que foi despachada.

Saio do interior do aeroporto e logo sinto a brisa fria de São Paulo me beijar a face.

Fecho os olhos por um tempo para aproveitar essa tão maravilhosa sensação. Permaneço de olhos fechados por alguns segundos e sinto braços ao redor do meu corpo como em um abraço. Num primeiro momento me assusto, mas quando o seu cheiro toma conta do ambiente e invade minhas narinas, a única coisa que faço é relaxar, e ainda de olhos fechados, me acomodar em seu peito.

- Oi, linda. Senti sua falta. - sua voz preenche os meus ouvidos e silenciam todo o barulho à nossa volta. Não deixamos de nos falar um dia sequer, mas ouvi-lo assim, tão perto, me traz sensações que um aparelho celular jamais seria capaz de proporcionar.

- Oi. Também senti sua falta.

Viro-me para ele e olho em seus lindos olhos castanhos. O brilho que eles possuem... Gosto de pensar que é por minha causa.

- Não passe mais tanto tempo longe de mim, não sei se aguento. - fala sorrindo e meu peito aperta. Não respondo, não sei o que dizer nessa situação. Eu ficarei longe novamente, e dessa vez, por muito mais tempo.

- Está frio aqui. - mudo de assunto, rapidamente.

- Sim, está. Nada comparado ao calor do Nordeste.

- É verdade. - sorrio.

- Mas, não se preocupe, eu trouxe isso aqui para você. - tira de uma bolsa de loja um suéter na cor creme e me entrega.

- Você sempre pensando em tudo.

- Sempre pensando em você!

O sorriso que toma forma em meus lábios é inevitável.

A tristeza em meu peito também.

- O que estamos fazendo, Júnior? - olho em seus olhos.

- Infelizmente, nada. Mas poderíamos ter feito tantas coisas que eu até sinto saudade de algo que nem pude viver.

- Não fale isso. Não brinque comigo assim. - sinto um aperto no peito, Júnior não pode brincar de ter sentimentos por mim, me faz imaginar se fosse verdade.

- Isso não é uma brincadeira, Alice. - se aproxima e coloca uma mecha do meu cabelo que estava solta para trás. - Esses dias foram duros sem você aqui, me fizeram chegar a conclusão que eu preciso ter você na minha vida, na posição que você quiser tomar, me oferecendo apenas o que quiser me dar, porque seja o que for, eu aceito, Alice. Aceito tudo de você.

Júnior chega ainda mais perto sem desviar seus olhos dos meus, como se pedisse autorização para isso. Não falo nada, não consigo, mas espero que ele veja nos meus olhos a permissão que tanto quer.

Parece que ele vê, porque ele, lenta e cuidadosamente, encosta seus lábios nos meus.

Ficamos ali, sem nos mover, apenas de lábios selados apreciando quão boa é a sensação de nos ter tão próximos um do outro, até que ele decide por se afastar.

Nos separamos e nossos olhos estão vidrados um no outro, tentando encontrar qualquer sinal de arrependimento.

Não encontramos.

E como se eu fosse um ímã, seu corpo é atraído de volta e seus lábios mais uma vez encontram os meus. Dessa vez sem leveza, apenas com cuidado e com uma voracidade que me fez esquecer onde estávamos e focar apenas com quem eu estava.

À medida que os segundos se passavam, o beijo se intensificava e eu me entregava cada vez mais àquela sensação. Beijar Júnior era como se eu pudesse flutuar entre as nuvens, como se meus pés se desprendessem do chão e eu voasse para um lugar lindo e cheio de amor e encanto.

Mas, mais uma vez nos separamos e nos encaramos, no entanto, não buscamos um no outro resquício algum de arrependimento.

Nós sorrimos!

E, ainda sorrindo, Júnior beijou minha testa antes de dizer:

- Vamos para casa, linda.

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Ainda sem acreditar, confesso que não foi isso que programei para esse capítulo, mas parece que alguém aqui (um certo lutador), tem vontade própria. Hahaha!

Esse é o fim da nossa mini maratona, espero que vocês tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever.

Um grande beijo, meninas.

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