Capítulo 4

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Alice de França

- Alice de França, quer me explicar o porquê de você ter chegado só agora quando era pra estar aqui a pelo menos uma hora?

- Não quero não.

- Ah, mas você quer sim. Você vai me explicar e é agora.

- Eu quase matei um homem no caminho.

- VOCÊ O QUÊ? MEU DEUS, ALICE. - gritou para o hospital inteiro ouvir.

- Fala um pouco mais alto, acho que os ratos do esgoto não conseguiram ouvir. - ironizo.

- Fiquei nervosa. Me dê um desconto. - fala ofegante.

- Não precisa ficar nervosa, não aconteceu nada demais - tento acalma-la.

- Você acaba de dizer que quase matou um homem e não quer que eu fique nervosa? Tá de brincadeira, né?!

- Exatamente, eu quase matei um homem, Pam. Não matei de verdade. Pode respirar tranquila.

- Preciso de um tempo, calma. - talvez a Pamela seja um pouco exagerada - Inspira e expira, inspira e expira.

- Tá. Estou acalmando, pode ir me explicando essa história direitinho - decreta.

- Eu vim dirigindo.

- Tá explicado! - olho feio para ela - Tá bom, não está mais aqui quem falou, continue.

- As corridas que eu pedi foram todas canceladas e eu não poderia me dar o luxo de ficar tentando a manhã toda, então decidi eu mesma me trazer. Afinal, eu tenho um carro é para usar. - apesar de eu não saber usar muito bem, mesmo tendo habilitação para dirigir.

- E como exatamente você quase matou um homem?

- Eu peguei um atalho. Pela rua principal ia demorar e eu já estava atrasada por conta das corridas canceladas.

- Mas um atalho não ia fazer você quase matar um homem. Repito: matar um homem.

- Olha, se você me deixar explicar, você vai entender que não foi por causa do atalho exatamente. - falei já sem paciência.

- Oh, desculpe! Pode falar.

- Eu entrei na rua de vez, sem dar nenhum sinal. Vinha um carro na pista, e por pouco não me acertou. O motorista foi bem ágil e puxou o carro para a outra faixa. Ele se salvou e de quebra, me salvou também.

- Você é uma grande idiota que adora aumentar as coisas. Você quase me fez ter uma parada cardíaca só por isso? POR NÃO DAR SINAL? - exagerada, não falei?

- Aumentar as coisas? Eu não tô aumentado nada, ele poderia ter morrido mesmo. - me defendo.

- Mas você nem bateu nele.

- Mas poderia ter batido.

- Mas não bateu.

A encaro.

Nós estamos paradas no meio do corredor que liga a recepção e a sala de espera, discutindo sobre o fato de eu poder ter batido ou não no cara.

- Você é estranha! - falo para a Pam.

- Você que é! "Quase matei um homem", ah por favor, né?

- Não vou mais discutir isso.

- Que bom, porque não bateu.

- Isso não interessa mais, realmente, o pior não aconteceu.

- Tem razão. Mas fala aí, ele deve ter ficado furioso.

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