Capítulo 14

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Alice de França

Hoje eu já comecei o dia ligada no 220 que é para combinar com a energia caótica do hospital. Faz menos de vinte minutos que cheguei e já estou atolada no trabalho - não que eu esteja reclamando - Como chefe de UTI, além de trabalhar com meus conhecimentos medicinais, ainda trabalho na parte burocrática, ou seja, exerço basicamente duas funções. Hoje é dia que definir as equipes dos plantões da semana, ver alguns relatórios, fazer requerimento dos materiais que estão faltando, enfim, uma loucura.

Ouço duas batidas e logo em seguida um rosto conhecido aparece pela pequena brecha da porta.

- Doutora, posso entrar?

- Claro, Marta!

Marta é uma das mulheres que são responsáveis pela limpeza da ala da UTI.

- Está em pé por quê? Pode ir sentando. Nada de cerimônia comigo, em?! - Ela sorri e senta em uma cadeira posta á minha frente.

- Doutora, eu sei que você está bem ocupada essa manhã, mas eu preciso muito falar com a senhora.

Apesar do sorriso que ela me deu a pouco, seu olhar é triste.

- O que houve com você, Marta? Pode falar, não se preocupe.

- Eu não estou conseguindo mais trabalhar. Há muito tempo eu venho sentido um cansaço em meu corpo, tudo dói. As vezes sinto que minhas pernas estão fracas e que posso cair a qualquer momento.

- Aconteceu algo específico que tenha implicado nessa dor?

- Não doutora. Na verdade, eu não sei. Eu só sei que eu estou me sentindo esgotada, nem forças para levantar da cama e vir trabalhar eu tenho mais, venho porque preciso. Eu já tomei alguns remédios que geralmente eu tomava para dor, mas agora eu os tomo com bem mais frequência, só que mesmo assim, eu não fico bem. Eu não sei o que pode ser, só sei que a sensação é de esgotamento. Por isso vim aqui na senhora, queria um remédio que fizesse isso passar.

- Marta, ao que me parece, seu esgotamento, antes de corporal, é mental. Você está tendo uma necessidade de maior esforço para realizar suas atividades diárias, uma certa falta de motivação... Claro, isso pode ser devido a algum problema exclusivamente no corpo, mas pode também não ser apenas isso. - nesse instante ela me olha um pouco apreensiva - vamos fazer o seguinte, eu vou lhe dar um atestado de 3 dias e prescrever uma medicação leve para fadiga e cansaço muscular, mas, me escute bem, assim que você sair dessa sala, você vai até o doutor Ricardo conversar com ele, e vai dizer tudo o que você me disse aqui. Eu não quero lhe assustar com isso, mas é importante entendermos a causa de certas dores e nisso, o Ricardo que é psicólogo, pode te ajudar melhor que eu.

- Doutora, a senhora acha que eu estou com algum problema mental?

- Não! Não enxergue dessa forma. Você pode sim estar com um esgotamento mental, falta de motivação, certa apatia, mas isso não é um problema mental, é algo que pode acontecer com qualquer pessoa. Não se coloque nesse lugar, tudo bem?

- Sim, mas tem certeza que eu preciso de um psicólogo? - ela pergunta tristonha, já com os olhos marejados - Marta, escuta bem o que vou lhe dizer, não ache que por ter sido indicada uma conversa com um psicólogo, você tem algum problema. As vezes nós sentimos coisas que não conseguimos compreender ou saber de onde vem, e alguém que tem um conhecimento técnico sobre aquilo, pode nos ajudar. Eu como médica, consigo olhar para você, lhe ouvir e já ter algumas percepções sobre seu caso, mas como essa não é minha especialização, eu não posso afirmar nem negar nada. - ela puxa uma respiração pesada - por isso estou pedindo para que você vá ao doutor Ricardo, porque eu sei que com certeza ele vai poder lhe ajudar muito mais que eu. Mas, não se preocupe, que no que eu puder lhe ajudar também, eu ajudarei.

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