Capítulo 18

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Alice de França

Finalmente em solo baiano. Eu amo tanto o Nordeste! Apesar de ter sangue sulista, meu coração é nordestino. Graças a todas as maravilhas que eu já vivi aqui.

Já de posse da minha mala, direciono meus passos em busca da área de desembarque, grande é a surpresa que tenho quando dou de cara com meus pais e irmão com uma faixa gigante escrita: "Bem vinda de volta, minha bonequinha. Papai, mamãe e o irmãozinho te amam". Eu não sabia se corria de volta para o avião ou se fingia que não era comigo, mas logo descartei essas ideias terríveis quando vi tanta emoção e amor nos olhos das três pessoas mais importantes da minha vida.

Corri até eles.

Minha mãe foi a primeira a largar a faixa e vir ao meu encontro. Como é indescritível a sensação de estar dentro de um abraço materno cheio de amor e saudade.

- Quanta saudade eu estava sentindo, filha. - minha mãe diz com os olhos carregados de lágrimas.

- Eu também, minha mãe. Eu também!

A abracei mais apertado e logo em seguida senti que mais braços nos rodeavam.

Meu pai e meu irmão.

Esse é o tipo de abraço que é capaz de curar todas as nossas dores e de dar alívio a nossa alma. Como eu senti falta do toque da minha família, do cheiro, da sensação incomparável de estar em seus braços.

Passamos mais alguns segundos assim, como se não existisse nada mais importante do que aquele momento, porque de fato, não existia, até que nos separamos.

- Como é bom poder te abraçar, minha filha. O pai estava com tanta saudade...

- Eu também estava com muita saudade do senhor, pai. De todos vocês, na verdade.

- É bom que a senhorita esteja preparada para os mais de mil abraços que ainda virão - meu irmão diz agarrando minha cintura e me sustentando no ar.

- Lucas, para. - peço rindo - Me coloca no chão agora, seu pirralho.

- Nem vem, me chamar de pirralho não me afeta mais - diz me colocando no chão novamente - Agora eu sou um homem lindo e adulto.

- E muito modesto também. - minha mãe aponta e eu balanço a cabeça em confirmação.

- Isso se chama amor próprio. Você deveria experimentar, irmã.

- Ei, seu abusado, eu experimento isso todos os dias quando me olho no espelho, e sem me esforçar, ao contrário de você que precisa ficar repetindo isso como um mantra.

Meu irmão me olha com uma indignação tremenda. Acertei o alvo!

- É, filho, eu acho bom você aceitar a derrota, porque esse golpe doeu até em mim.

- Deixa ele, pai - sorrio para ele e levo meu olhar de volta para o meu irmão - Está pensando o quê, Lucas? Se você vir de trinta e oito para cima de mim, eu vou de bazuca para cima de você, meu filho.

- Meu Deus, mãe, olha o que São Paulo fez com essa garota...

- Você sempre perdeu para mim, São Paulo não tem nada a ver com isso, aceite.

- Tudo bem, crianças, já chega. Alice, pare de "bater" no seu irmão, e Lucas, aceite que nessa luta você sempre sai perdendo.

- Ai...

- Dona Alice, o que eu acabei de falar?

- Não está mais aqui quem falou, dona Regiane.

E é nesse climinha gostoso que vamos para casa. Como é bom estar de volta nos braços da minha família.

...

- Está tudo do mesmo jeitinho. - digo já sentada no grande sofá da sala.

- Claro filha, fazem só alguns meses de diferença.

- Eu sei, mas eu amo tanto vocês mãe, que meses distantes se parecem anos.

- Eu também tenho essa mesma sensação. - senta no espaço ao meu lado.

- Até nisso vocês são parecidas. O que é injusto, porque eu não pareço nada com você, mãe. - Lucas diz se jogando entre nós duas.

- Talvez porque você tenha sido adotado. - brinco.

- Hahaha, muito engraçado. Isso é uma grande mentira, eu me pareço com meu pai.

- Será mesmo? Ou será que acreditar nisso torna mais fácil superar? - sorrio.

- Já vão começar de novo, o que eu falei mais cedo? - minha mãe fala séria.

- Só estamos brincando, mãezinha. Não é Lucas?

- Sei, era sempre assim que começavam as discussões quando vocês eram pequenos, um brincava aqui, outro alí, quando de repente, estavam os dois correndo pela casa, ora um corria para atacar, ora quem atacava era o outro.

- Bons tempos... - falo rindo.

- É verdade. Saudade desse tempo, era tudo tão simples. - meu irmão concorda.

- Nem me fale, Lucas. Nem me fale...

- Algum problema, minha filha? - minha mãe pergunta.

- Nada além de coisas de adulto, não precisa se preocupar.

- Tem certeza?

- Absoluta. - dou um sorriso na esperança de convencê-la, mas não surte tanto efeito.

- Lucas, meu filho, você ainda está desorientado da resposta que levou de sua irmã mais cedo? - meu pai grita da porta da cozinha - esqueceu do que mandei você fazer?

Salva pelo gongo, ou melhor, pelo meu pai.

- Ah é, tinha esquecido mesmo. É Alice perturbando minha cabeça. - reviro os olhos - O pai está chamando para irmos para a mesa lá fora, a carne já está na churrasqueira.

- Oba, churrasco. Que delícia! - digo e imediatamente ouço um barulhinho, acho que é minha barriga informando que também estava com saudade de casa.

Vamos todos para a área de convivência, é uma área verde cheia de grama, árvores e plantas. A cara da minha mãe e meu lugar preferido. A mesa fica bem embaixo de uma grande mangueira, que inclusive está com seus últimos frutos. Ainda bem que eu consegui pegar pelo menos essas últimas mangas, lá em São Paulo tem na feira, mas nada melhor do que sendo direito do pé.

- Podem sentar que o churrasqueiro aqui vai servir vocês. - meu pai diz com um espeto repleto de carne em uma mão e uma faca na outra.

- Por favor, estou faminta.

- E quando você não está, minha filha? - meu pai pergunta e Lucas ri.

- Até você, pai? - pergunto com a mão na cintura imitando minha mãe quando ela está brigando com a gente.

- É que você parece uma dragãozinha toda vez que vem nos visitar.

- Emanuel, já não bastam as picuinhas entre Alice e Lucas, agora você quer entrar no bolo também? Já vou avisando que a bronca vai ser para os três. - minha mãe briga com as mãos na cintura, do jeitinho que eu a imitei a pouco, e uma expressão nada amigável.

Meu pai divide o olhar entre Lucas e eu, como se pedindo ajuda. Lucas olha para mim e fica impossível segurar a risada. Nós dois rimos juntos da cara de desespero do meu pai, dona Regiane até tenta manter a pose mas também não consegue segurar. Aos poucos meu pai vai suavizando a expressão, passando de desespero para amor, o mais puro amor que alguém é capaz de sentir. Nossas risadas também vão cessando, e o que fica estampado em nossos rostos é um sorriso de reconhecimento, porque nós também sentimos todo esse amor que está sendo emanado através dos seus olhos.

Minha família é tudo de mais precioso que eu tenho, não há nada nesse mundo que eu não seria capaz de fazer por eles. Eu tenho muitas dúvidas na minha vida, mas se tem uma coisa que eu tenho plena certeza, é do amor que nos envolve e que tanto traz afago para nossas almas.

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Que recepção maravilhosa, nossa doutora que o diga, rs.

Quanto amor a família 'de França' exala. Estou emocionada!

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