Capítulo 25

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Alice de França

Acordei depois do que parecia ter sido 48h seguidas de sono, o peso na minha cabeça ainda estava lá, mas mais suportável que antes.

Antes de descer do quarto decido tomar um banho. Pode parecer loucura, mas às vezes penso que não há nada que não seja lavado e parcialmente - pelo menos - curado depois de um bom banho, ou talvez seja só um delírio e eu esteja completamente enganada.

...

- Oi. - falo timidamente encontrando Júnior sentado no sofá da sala.

Ele não fala nada, apenas me puxa para o seu colo e me aninha ali como uma criança que acabou de acordar de um pesadelo.

- Se sente melhor? - Depois de alguns minutos naquela posição, ele pergunta.

- Não sei. Talvez. - Eu acho que estava enganada mesmo, um banho qualquer não cura nada.

- Acho que a culpa disso é minha. - Ele diz me tirando do seu colo e me colocando no estofado do sofá para que possa olhar para mim.

- Não é bem assim, eu também tive minha parcela de culpa.

- Pode ser, mas suas ações foram consequências das minhas, então bem, eu continuo sendo o responsável. Eu não tinha entendido o porquê de você ter ficado daquela forma, mas então eu vi a carta amassada escondida na poltrona e entendi tudo. Eu realmente escrevi aquela carta, isso não tem o que discutir, mas não era para você. - Fiz, muito provavelmente, uma careta muito esquita. Como assim não era para mim, e era para quem? Júnior deve ter percebido a confusão em minha cabeça e tratou de se explicar. - Quer dizer, hum... Era para você, mas não era para você ler. Em momento algum cogitei contar a verdade para você assim, o que estava escrito era apenas uma forma de organizar meus pensamentos e uma espécie de treinamento antes de lhe contar tudo. É ridículo, mas eu precisava saber as palavras certas para não lhe magoar, ou pelo menos não lhe magoar tanto, mas você está magoada então parece que não adiantou muita coisa.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas nos encarando e tentando transmitir nosso sentimentos através do olhar, mas as vezes, pasmem, palavras são extremamente necessárias em uma conversa. Por isso peguei em sua mão como um incentivo para que ele continuasse. Júnior me contou tudo, e eu juro que escutei atentamente, mas a única coisa que tomou conta dos meus pensamentos foi que ele estava partindo. Não daqui um ano ou dois, mas daqui a duas semanas.

15 dias. Esse era o tempo que eu tinha ao lado dele.

A tristeza mais uma vez começou a envolver meu peito, mas eu não podia me sentir daquela forma. Estar triste por saber que Júnior tinha que ir embora e que nós tínhamos pouco tempo juntos, era o ponto alto da minha hipocrisia, já que eu também tinha que ir, e os mesmos 15 tristes dias que eu tinha para estar com ele, eram os menos 15 tristes dias que ele tinha para estar comigo, de qualquer forma, porque eu também tinha que partir em duas semanas.

E eu escondi isso dele.

Essa lágrimas, essa dor, essa tristeza que estou sentindo por ele ter que partir, não passam de pura hipócrisia. Eu não tenho o direito de sentir nada além de vergonha nessa situação.

Toda a vergonha que estou sentindo deveria me fazer contar a ele a verdade, mas não irei fazer isso. Por agora, vou transformar esse momento sobre ele, apenas ele, seus olhos demonstram preocupação o suficiente para que eu continue sendo hipócrita e egoísta por mais algum tempo.

- Me desculpa! Acho que passei tempo demais no campo da imaginação. - Falei percebendo que passei mais tempo em silêncio do que eu gostaria.

- Não se desculpe por isso, linda. Eu sei que é difícil para você, porque é igualmente difícil para mim.

- Bom, já que não podemos fazer nada quanto a isso, que tal me contar para onde você vai? Não tinha isso na carta. - Tento parecer minimamente empolgada e interessada, não na ida dele, mas no motivo: sua tão esperada volta aos octógonos.

- Flórida. Estou voltando para Miami.

- Mais uma vez meu mundo parece ter parado. Agora de uma forma totalmente diferente. Júnior vai para Miami, eu vou para Miami. Nós vamos juntos para Miami, o mesmo lugar. Meu Deus, eu chorei tanto pela dor da despedida, pela separação dos nossos caminhos, para no fim estarmos destinados a nos encontrar no final, mesmo que tenhamos tomado caminhos distintos? Que pegadinha do destino é essa?

Queria poder colocar toda água que despejei pelos olhos de volta no lugar. 

Argh! Vou beber muita água depois disso.

- Você tem certeza que vai para Miami? - quero confirmar mais uma vez.

- Claro, linda. Por que não teria?

- Ah, não sei. Vai que você se enganou ou eles tenham mudado a luta de lugar...

- Não tem a menor possibilidade de isso acontecer. Foi investido muito dinheiro na organização dessa luta. Os patrocinadores estão todos de olho e ansiosos para esse dia, afinal, o campeão, vulgo eu, voltou. Todos os olhos então voltados para mim.

- Eu tinha esquecido do quanto você é humilde. Sua modéstia me comove.

- Sabe como é né, novelo de lã? Eu sei do que sou capaz, na minha cabeça eu sou o melhor, e ninguém pode me convencer do contrário.

- Você me chamou de novelo de lã? Parece que voltamos ao início. - falei sorrindo com as lembranças do nosso começo.

- No início eu falava apenas para te ver irritada, mas agora, olhando bem, você realmente parece um novelo de lã. - Ele pisca pra mim.

- Eu sou mesmo fofa como um, então não vou discutir. - Sorrio e Júnior me acompanha.

- Linda?

- Hum...

- Eu sei que é um assunto delicado e que eu deveria aproveitar esse momento em que você parece estar feliz e um pouco melhor que antes, mas eu preciso te falar algo. Eu quero que você saiba que não vou desistir de nós. Não importa se estaremos longe um do outro por um tempo, ao menor sinal de que você está disposta a seguir com isso - ele aponta para nós dois - então eu vou dar tudo de mim para para tornar possível. Eu não estou nem um pouco tentado a desistir de você. A única coisa que preciso saber é se você está disposta a lutar por mim.

Júnior me olha com um misto de expectativa e receio. Ele espera um resposta positiva, mas tenta se preparar para uma resposta contrária. Há uma confusão em seus olhos.

A decisão que eu tinha tomado em não lhe contar que também estava indo embora, permanece a mesma, mesmo agora sabendo que nosso destino é o mesmo. Hoje eu quero que seja tudo sobre ele, vou o deixar feliz e tranquilo, apenas para depois encerrar com chave não apenas de ouro, mas de ouro cravada com diamantes. Vou lhe contar sobre tudo e ficaremos os dois felizes, podendo compartilhar nossos sonhos e nossas vidas.

Nada poderá ir contra isso.

Eu só não contava que nem sempre as coisas acontecem como nós desejamos, e que o destino adora nos fazer pensar que somos capazes de voar apenas para nos ver cair tentando.

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Júnior e Alice vivem numa montanha russa de emoções, coitados...
E a gente também, quando pensamos que "agora vai", não vai de jeito nenhum. 🥺

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⏰ Última atualização: Jan 18 ⏰

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