Capítulo 3

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Chego na academia já preparado para o Luiz alugar meu ouvido.

- Cara, você tá ferrado - Santos me encontra na portaria. - o Luiz tá uma fera. Você atrasou as programações do dia inteiro, e ainda por cima deixou o cara soltando fumaça pelas orelhas.

- Eu ia chegar na hora, mas tive um imprevisto no caminho.

- Então é bom que esse imprevisto seja um muito bom. Porque ele tá vindo aí e a cara dele não tá nada boa. E eu vou sair de fininho para não sobrar para mim. - que belo amigo o Santos é, e isso foi irônico.

- Aonde você pensa que vai, Santos? O que eu falei lá atrás? Eu seria o primeiro a falar com o Júnior. - ele falou calmo demais para o meu próprio bem. - Você vai ficar bem aí.

- Mas a conversa é com o Júnior não comigo.

- Não interessa, você estava defendendo ele lá dentro e já veio o preparar para o sermão, você também vai ouvir. E calado!

- Sim, senhor!

Santos é meu melhor amigo aqui dentro. Estamos sempre um para o outro, defendendo e protegendo. Não esperava menos dele.

- Júnior, pra que serve a porcaria desse celular se quando a gente liga você não atende?

- Eu estava muito cansado ontem a noite, deixei o celular no silencioso, por isso não ouvi.

- E o despertador? Porque não ligou o despertador para estar aqui na hora certa?

- Esqueci - ele me encara, e encara feio - foi o cansaço.

- Foi o cansaço ou tanto soco na cabeça afetou sua memória?

- Pode ser. Você sabe, pancada demais afeta o cérebro, não é minha culpa.

- Você tá brincando comigo?

- Não, senhor! Eu nunca faria uma coisa dessas. - claro que eu faria.

- Você tem noção que atrasou toda a programação da academia? Estava cada coisa no seu horário determinado, e você era o primeiro a apresentar seu método de treino para o intensivo. Você mesmo é extremamente organizado e gosta de cada coisa no seu devido lugar e horário. - é, nisso ele tem razão, sempre faço o máximo para não me atrasar para os meus compromissos. - Eu vou perguntar uma vez e você vai me responder com a verdade, sem gracinha. Por que você não estava aqui no horário que era para estar?

- Tive um imprevisto. Eu acordei atrasado, é verdade. Mas eu conseguiria chegar aqui na hora, se não fosse por um novelo de lã no meio do caminho.

- Eu disse sem gracinha, Júnior. - brigou.

- Eu não estou de graça. Quando eu estava no caminho, uma mulher invadiu minha rua com o carro, não aconteceu nada, mas eu parei para ver como ela estava - expliquei - Ela tava muito nervosa, dei um amparo para ela, ela precisava.

- Mas ela está bem? - perguntou preocupado.

- Estou sim, obrigada! - ironizei.

- Não perguntei sobre você, perguntei sobre ela.

- Valeu por explicar, não tinha percebido, acredita? - sorri de canto.

- Você parou para a ajudar a moça, admiro isso.

- Pois é, mereço que você me perdoe pelo atraso. - me aproveitei da boa vontade dele.

- Claro, foi uma bela atitude. A maioria das pessoas brigariam ao invés de oferecer ajuda. Por isso que você vai fazer só três séries de 100 flexões, e não as cinco séries que eu tinha decidido.

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