Seis

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     Ontem, quando pedi a Doyoung para que abrigássemos Jungwoo em nossa casa, ele me olhou torto e disse que não estava de acordo, já que não o conhecia direito. Tentei convencê-lo de que seria só por alguns dias, mas ele não sossegou e até que eu estipulasse um prazo: duas semanas.

Segundo ele, tenho duas semanas para decidir o que fazer em relação a Jungwoo.

Aceitei, mas já sei o quanto estou perdido. Duas semanas parece pouquíssimo tempo, ele com certeza vai me cobrar esse prazo mais tarde e aí não terei como fugir.

Além disso, Doyoung só deixaria Jungwoo viver com a gente se eu o abrigasse em meu quarto, alegando que ele era o meu convidado, portanto, deveria estar comigo. De início pensei ser brincadeira, mas sei muito bem quando Doyoung está falando sério. E ele estava.

Duas semanas, comigo, no meu quarto.

Eu posso aguentar. Vai ser fácil.

Tinha que ser.

Tinha, mas já não está sendo.

Jungwoo estava sem tomar banho há dias, na verdade, desconfio que antes de mim, ele nunca havia visto um chuveiro antes. Claramente não sabia se lavar por si só e até chegou a me pedir ajuda.

Lembro até agora da sensação de congelamento que tomou meu corpo durante seu pedido espontâneo. Lembro que travei e não entendi.

Foi uma pergunta inocente, quase todas as suas perguntas são inocentes.

Mas ainda assim, nunca sei quando ele está falando sério ou quando está só tirando uma com a minha cara. Preferi evitar descobrir. O deixei tomar banho sozinho e até que ele se saiu bem para uma primeira vez.

Ao anoitecer, organizei cobertores no chão, sem travesseiros. Mas assim que apaguei a luz para deitar, Jungwoo foi se enfiando na minha cama confortável alegando que já tinha dormido por dias no chão e que agora era a minha vez.

De novo, fiquei sem saber como reagir. Não sabia se o expulsava dali ou se teimava e me deitava ao seu lado. Sei que no fim das contas, não resisti por muito tempo e fui pro chão.

Apesar de me deitar resmungando, acabei dormindo bem. Melhor do que pensava, na verdade. Pela primeira vez em dias, fiquei livre de pesadelos e de acordar no meio da noite na companhia de uma sensação ruim.

O que aconteceu, eu não sei. Talvez o meu corpo finalmente entendeu que pode descansar. O que sei é que Jungwoo acordou sem energia. E sem humor.

Enquanto esperava ele ficar pronto, passava geléia nas torradas que fiz para o café, complementei quebrando ovos para uma omelete de dois ingredientes. Servi uma xícara de café para mim mesmo assim que ele deixou o meu quarto. Observo a minha camiseta branca vestida agora nele.

Jungwoo come de tudo, experimenta aqui e ali. Parece gostar mais de coisas salgadas do que doces, o que achei incomum. Provei minha própria torrada e concluí que estava deliciosa, mas por causa da geléia açucarada, ele preferiu a omelete.

Sento de frente para ele e enquanto como, noto que ele me observa em segredo usando os palitinhos, com a mesma curiosidade de ontem durante o jantar.

Já entendi tudo.

Pego o outro par e coloco nas mãos dele.

— Segure esse lado, desse jeito — O instruo, controlando sua mão com a minha. — O de cima é o qual sempre vai se mover, o debaixo vai servir apenas como um apoio.

— Faço assim?

— Isso aí, agora tenta pegar algo — Puxo o prato com a porção de omelete cortada em pedacinhos enrolados.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora