Trinta

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JAEHYUN

Os dias vão trazendo de volta o calor. Não está confortável o bastante para vestir uma regata, mas o gelo derrete na cidade a medida que o sol volta a cada dia mais quente.

O meu curso avança de modo que não tenho muitas aulas teóricas, passo boa parte do tempo dentro do laboratório ou até mesmo no mar, o qual tem sido o meu melhor amigo. Descobrir aquelas cartas do meu avô e a sua história de amor me deixou inspirado para também escrever um pouco.

Ao longo dos últimos três meses, escrevi ao todo, cinquenta cartas que não têm endereço de chegada, não há alguém para recebê-las. Escrevi sobre o meu dia, sobre o quanto eu estava morto de saudade, sobre como as coisas estão indo por aqui, sobre eu ter encontrado a sua mãe, sobre como eu ainda espero que volte.

Papel e caneta têm sido a minha melhor companhia como também foram a companhia dele enquanto esteve aqui. Lembrar do passado me faz sentir arrependido de não ter agarrado ele no primeiro momento em que percebi o que sentia.

Em certos momentos, a sua ausência me fazia imaginar que tudo isso é besteira e que não há ninguém a esperar. Em outros, sinto como se estivesse dormindo ao seu lado e que ele apenas acordou no meio da noite para ir até a cozinha tomar um copo de água, que voltaria com a boca molhada dizendo ter sentido sede e voltaria a se aninhar pertinho de mim.

O meu cabelo continua acastanhado, o tempo fez com que ele crescesse a ponto de alcançar as orelhas e cobrir a nuca, lugar onde Jungwoo mais gostava de mexer e brincar quando a gente dormia abraçado. Enquanto escuto a aula, penteio meus cabelos com os dedos, percorrendo a maciez e não prestando atenção em nada do que o professor está dizendo.

A minha turma diminuiu um pouco, uns mudaram de faculdade, outros escolheram outro curso. Youngho trancou todas as disciplinas que Doyoung e eu fazíamos com ele, disse que se matriculou em outras matérias que teve interesse.

Eles realmente se afastaram um do outro a ponto de fingirem que não se conhecem. Hoje, durante uma troca de aula, Doyoung e eu seguimos até o laboratório e encontramos Youngho no corredor, carregando seu habitual tablet. Ele falou comigo e ignorou a presença de Doyoung, que fez o mesmo a ele, seguindo seu caminho sozinho.

É fato que as coisas estão diferentes por aqui.

***

O professor circula sua caneta na lousa para explicar o conteúdo.

- No mar de Seul-do é onde habitam a maior parte dos mamíferos marinhos nessa época em que o mar está se aquecendo. A espécie mais conhecida são os sirênios, que nos trouxe o famoso mito das sereias.

- O que são sirênios? - uma colega minha pergunta.

Eu abaixo minha caneta e decido responder:

- São animais marinhos mamíferos, conhecidos como peixe-boi.

- É isso mesmo, Jaehyun, obrigado.

- Não entendi, o que eles têm a ver com o mito das sereias?

O professor responde:

- O mito surgiu com os europeus na época das grandes navegações. Eles trouxeram vários relatos da existência de sereias que chegavam perto dos navios em alto mar, mas na verdade, eram só peixes-boi.

- Não consigo entender - outro colega coça a cabeça. - Como eles viram um peixe grande e feio e confundiram com uma mulher linda?

- Talvez não tenha sido um peixe grande e feio... - eu resmungo, escutando a voz do professor retomar a aula.

A manhã na faculdade terminou, mas o meu dia não estava nem perto do fim. A minha aula sobre animais marinhos mamíferos me deu uma certa motivação para visitar o mar de Seul-do e tentar ver essas criaturas com meus próprios olhos. O meu barco precisa sair para dar uma arejada e eu também preciso refrescar a mente.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora