Trinta e Um

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- Façam silêncio, ele está acordando! - a voz de uma mulher dispara.

Sinto uma coceirinha na bochecha. Ouço risadinhas à minha volta. São risadinhas graciosas e femininas. Penso que suas vozes fazem parte do sonho que estou tendo, mas elas são altas demais para que eu continue ignorando. Movo uma sobrancelha e abro os olhos bem devagar, sentindo um corpo deitado sobre o meu.

Resmungo, enviando a mão para a testa ao sentir uma pontada de dor. Aquela mulher desliza sua coxa sobre a minha cintura e fico prestes a pedir que ela saia de cima do meu corpo quando escuto outras vozes.

- Eu disse que ele não estava morto, as pálpebras estavam mexendo.

- Mas como ele consegue ser assim tão lindo? Nunca vi humano igual a esse.

- Podemos ficar com ele?

- Eu quero os olhos dele.

- Eu quero a boca.

A sensação de estar sendo coagido me faz despertar com mais pressa e enrolar meus dedos no antebraço da mão que acaricia o meu cabelo. Tiro-a de mim e afasto seu corpo do meu. Dou uma olhada ao redor, percebendo que estou cercado por mulheres.

Cabelos encorpados, curvas sinuosas e mantos cheios de tecidos em cores leves. As peles naturalmente queimadas de sol, olhos marrons clareavam ao cruzar da luz solar. Tento me levantar, mas a mulher que estava em cima de mim me segura pelos ombros.

- Não se assuste, não deixaremos ninguém te machucar. Só se você pedir.

- Ai... - faço uma careta ao tentar mover o pescoço.

Empurro as mãos que voltam a me tocar. Percorro os dedos sujos de areia pelo cabelo, então espalmo as mãos e me levanto, ainda frágil, ainda cambaleante. No horizonte, era possível ver uma bola queimando em laranja, afundando a cada segundo que se passa. O mar mudou de cor e está muito mais claro do que antes, as nuvens escuras desapareceram.

Lembro da tempestade e daquela tripulante que se perdeu no mar. Volto a me desesperar.

- Escutem, onde fica o posto mais próximo da guarda costeira?

Ganho uma leva de olhares silenciosos em resposta.

- O que ele está pedindo? - uma sussurra.

- Teve um acidente, uma mulher caiu no mar! - aponto para o mesmo, mas elas ainda não sentem urgência com a minha aflição. - A gente precisa acionar a Marinha, a capitania do portos, não sei, qualquer coisa! Alguém precisa ajudá-la.

Olho para a frente e tudo o que posso ver é uma vegetação carregada por árvores em espécimes variadas, a montanha rodeada por uma neblina fina. O lugar é tão imenso que meus olhos não são capazes de captar tudo de uma vez.

- Que lugar é esse?

- Você está acima da cidade paraíso - outra me responde.

Não entendo o que quer dizer, mas sou impedido de questionar. As meninas se reúnem em um círculo e começam a conversar baixinho, mas sou capaz de ouvi-las.

- O que devemos fazer com ele?

- Podemos descer e avisar a todos que o encontramos!

- Mas não podemos contar a ninguém, sabe quanto tempo faz que ninguém cruza a ilha?

- Selina deve ser a primeira a saber que um homem pisou aqui.

- Harin tem razão.

- Mas isso é loucura, ele é tão lindo, se ela vir ele aqui, nem sei o que pode fazer...

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora