Vinte e Um

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     Jungwoo se foi.

Desde aquela noite, não o vi mais.

Pensei que sua ida não passaria de um mês. Mas passou. Passaram-se dois, três, cinco meses. Quando completou meio ano, as árvores já estavam secas, sem sinal de flores. O verão deu lugar ao outono, que por sua vez trouxe consigo o inverno. Cortei o cabelo, mas tudo cresceu novamente. Os dias chegavam e iam embora, mas eu não me sentia em paz.

A cidade litorânea foi envolvida em gelo, casacos grossos e bebidas quentes. Decorações natalinas foram espalhadas por toda parte, pinheiros enfeitados para todo lado e todos ansiosos para conseguir montar bonecos de neve no pouco de neve que costuma cair nessa época do ano.

Ele prometeu que voltaria, mas estava desaparecido.

Era angustiante não saber se o que me disse era verdade, eu desacreditava. Eunwoo também desapareceu. Não sei o que ele fez a Jungwoo e tenho medo de saber.

Fui condenado a um luto o qual não posso viver. Tenho medo de nunca poder vivê-lo.

O semestre terminou e tivemos uma pausa para as comemorações de fim de ano. Durante as férias, quando eu não estava no Aquário Ecológico ou na Biblioteca, ficava navegando pela costa de Ulsan. A neblina cobria o mar azul, que estava congelante. O frio fazia doer os ossos. Assistia as ondas em silêncio, procurando algum sinal enquanto bebericava uma caneca de chá.

Quando cansava de encarar o sonar, fechava os olhos e era envolvido pelo calor do verão novamente. Jungwoo foi a melhor coisa que me aconteceu. O que vivemos foi forte a ponto de me fazer sentir o verão em plena nevasca.

Abri os olhos quando escutei um barulho no andar debaixo. Tirei as mãos aquecidas dos bolsos e desci, encontrando Youngho envolvido num casaco grosso.

— Sabia que estaria aqui — a fumaça branca escapa de seus lábios ao falar.

— O que aconteceu?

— Ué, você sumiu. Por que não atendeu?

— Eu estava lá em cima, não percebi.

— Bem, é noite de ano novo. Doyoung foi para Seul e você está aqui sozinho. Vai ter uma confraternização no Pub mais tarde e eu finalmente convenci Dalhoon de ir comigo, só falta você.

— Valeu, mas estou bem.

— Ano passado foi a mesma coisa — reclamou ele. — Doyoung viajou e você ficou a noite inteira no quarto, sozinho.

— Não vejo problema em estar sozinho.

— Eu aposto que você iria se ele estivesse aqui — rebate, certamente incomodado.

Sei a quem ele se refere e prefiro evitar essa conversa. Me volto para dentro do barco. Youngho me segue.

— Eu sei que Jungwoo era importante para você, cara, mas só porque ele se foi, não significa que está sozinho. Estamos todos aqui por você.

Não gosto da maneira como ele se refere a Jungwoo como se tivesse morrido e nem como se eu tivesse ficado inútil depois da ida dele. Ainda tento evitar essa conversa.

— Já faz quase um ano. Não pode deixar de viver a sua vida.

Dou o tempo necessário para que ele entenda que não quero falar sobre isso. Youngho não insiste. Quando tenho o seu silêncio, resolvi lhe contar o meu plano:

— Fique tranquilo, não vou passar o ano novo sozinho. Verei os meus pais.

Sim, eu iria até a casa dos meus pais por vontade própria. Jantaria com eles, os abraçaria e então voltaria para dormir em casa.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora