Quatro

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     Eu sempre, sempre sei quando vou me arrepender, espero que isso tenha ficado claro.

Paro em frente à porta de casa e Jungwoo esbarra em minhas costas.

— Dá para fazer silêncio? — Sussurrei alto.

— Desculpe, ainda não me acostumei com elas... — Ele provavelmente se refere às suas pernas.

Coloco a digital no aparelho de segurança, destravando a porta. Nós dois somos banhados pela escuridão e o silêncio da casa. Doyoung já estava dormindo, o que me fez tirar os sapatos e pisar com cuidado na madeira lisa e gelada. Jungwoo me acompanha, na verdade, ele fica feliz de finalmente poder tirar os crocs.

Vou para a bancada da cozinha, vendo Jungwoo tomar liberdade para sentar no sofá. Noto o quanto ele parecia cansado de andar.

— Você vai dormir aí — digo a ele. — Amanhã vamos decidir o que fazer e...

Minha fala morre, dando lugar a um suspiro cansado de toda essa loucura. Abro a geladeira.

— Preciso de uma cerveja.

Jungwoo levanta e vem para a bancada me cercar.

— O que é cerveja?

— Em Meri não tem cerveja?

Ele continua a me olhar em um silêncio que me diz a resposta.

— Que triste.

Recolhi duas garrafas e fechei a porta com o joelho.

— Aqui, experimente.

Jungwoo observou atentamente a maneira como eu abri a garrafa para fazer igual a mim. Ele a aproximou do nariz para sentir o cheiro antes de beber um gole do líquido amargo. Sua expressão seguiu agradável.

— Nada mau. — sorriu e virou a garrafa, dando agora goles grandes e sedentos.

— Ei, que sede é essa? Vai com calma...

— Gosto de cerveja.

Dou uma risada contida, atraindo sua atenção. Abro a geladeira de novo e vejo um pote redondo com as sobras do tteokbokki que Doyoung preparou. Eu o dividiria com Jungwoo.

Aproveito o momento descontraído para saber:

— Quantos anos você tem?

— Vinte e cinco.

Levanto uma sobrancelha ao duvidar e é o bastante para que Jungwoo me conte a verdade:

— Tenho vinte e um.

— É mais novo do que eu.

— Também sou mais forte, aparentemente.

Levo os olhos para a bancada e fico tímido de novo. Ele estava certo.

— Você pode matar?

— Tudo pode matar.

— Mas... Você... Não vai me matar, vai? Eu te dei cerveja.

Jungwoo me mostra um sorriso. Pego dois garfos no faqueiro e dou um a ele.

— E você? Vai me matar?

— Ah, eu quis quando você invadiu meu barco e também quando me chutou... lá embaixo.

Agora ele dá uma risada solta.

— Você mereceu.

— Doeu pra cacete.

A sala inteira é acesa, tirando-nos do escuro. A figura de Doyoung aparece de pijama no corredor, completamente sonolento e perdido.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora