Sete

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     Jungwoo duvidou de mim desde o momento em que lhe contei. Ele não acreditava que eu teria coragem de levá-lo para conhecer os meus pais e sinceramente, nem eu. Mas um acordo é um acordo, afinal. Eu lhe dei um banho de loja e em troca, ele vai ter que me acompanhar.

Quando anoiteceu e estava perto da hora de ir, pedi para que ele fosse se vestir enquanto eu tomava um banho fresco. Entrei no chuveiro, me lavei e saí, e Jungwoo ainda não estava pronto, ficou enrolando e rabiscando no bloco de notas. Me vesti casualmente e o deixei se preparando com calma no meu quarto.

Em frente ao espelho da entrada, escolhi um relógio de pulso melhor e mais caro. Penteio meus cabelos escuros com os dedos, os enviando para trás.

Ao me barbear, verifiquei com cuidado se não havia deixado restar nenhum pelo, encontrando minha pele macia e limpa como gosto. Tive certeza de que me vesti adequadamente para a ocasião. Gosto de estar bem vestido na frente dos meus pais, apesar de tudo.

Olho para o meu relógio e percebo que Jungwoo estava demorando mais do que o esperado, de novo. Penso em ir bater na porta, mas Doyoung chegou bem na hora, carregando nos braços os livros que não couberam em sua mochila apertada.

— Já está de saída? — Ele se senta no sofá, esticando os pés na mesa.

— Sim, vou levar Jungwoo comigo.

— Por quê?

— Acho que vai ser mais fácil não discutir com meus pais se levar algum convidado.

Doyoung ri leve, mas entende.

— Espero que dê certo.

— Me ligue se precisar de algo.

Jungwoo finalmente ficou pronto, mas já estávamos em cima da hora. Peguei tudo que fosse necessário e partimos. Papai não se importou com as minhas contestações e insistiu em enviar o seu motorista pessoal para vir nos buscar. Acho que ele não está animado só com a minha visita, mas também com a ideia de ter um convidado a mais essa noite.

A casa dos meus pais ficava distante da minha, o que foi uma viagem. Olhei para Jungwoo diversas vezes. O banco de trás era espaçoso, mas por estarmos em um ambiente fechado, eu podia sentir o cheiro do sabonete que exalava da sua pele até mais do que o meu próprio perfume.

Ele não disse nada o caminho inteiro. Apreciava a vista da cidade noturna através da janela, mas não olhava para mim. Penso no seu silêncio e é estranho vê-lo tão quieto.

Quando chegamos, descemos do carro e caminhamos pela trilha que levava àquela nobre casa. Era ampla, polida e iluminada com luzes amarelas em todas as janelas. Inalo o cheiro verde do jardim, sentindo uma nostalgia vazia. Pouca coisa mudou por aqui, nada além do formato dos arbustos podados, ou o brilho da madeira.

Paramos em frente às portas da frente e antes que eu pudesse esticar a mão para tocar a campainha, Jungwoo segura o meu braço.

— A casa dos seus pais? Sério isso? — Ele finalmente fala comigo de novo.

Ao que parece, não acreditou mesmo quando eu disse que o traria comigo essa noite e estava esperando que fosse piada. Mas agora já era tarde. Dou risada e aperto o botão.

— Qual o problema?

— Você tinha um milhão de favores para me pedir.

— Entre um milhão de favores, eu escolhi esse.

— O que vou dizer a eles? Que vim do fundo do mar?

— Diga que somos amigos de escola e que foi fazer um intercâmbio nos Estados Unidos, o resto, deixe comigo...

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora