Catorze

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     Compro uma garrafa de água na máquina de refrigerante. Youngho compra chá de pêssego. Passamos os quinze minutos de intervalo encostados na porta da Biblioteca Central. Estudantes e acadêmicos entravam e saíam, mas ainda assim o movimento estava baixo.

Tento não pensar em Jungwoo e no que quase fizemos mais cedo e por isso estou me agarrando em qualquer distração, mas não significa que esteja funcionando.

Se eu não tivesse sido impedido, teria avançado. Teria colado sua boca à minha. Teria sido o primeiro a lhe dar um beijo. Me revirei em ansiedade no caminho para cá, repeti a cena falsa na minha cabeça. Imaginei como deve ser a boca dele, se ele avançaria de volta para mim ou se afastaria.

Deveria ter arriscado? Mas e se eu tivesse o assustado? Jungwoo já está estranho comigo desde que ouviu aquelas coisas horríveis sobre ele. Preciso convencê-lo de que ele nunca foi um peso para mim, pelo contrário, desde a sua chegada, eu nunca havia me sentido tão leve.

Mas enquanto não sei como fazer, evito. Ou pelo menos tento.

— Soube que está procurando um emprego — Youngho comenta.

— Doyoung é um fofoqueiro, não estou procurando emprego, estou pensando na possibilidade.

Meu amigo ri.

— Se você quiser, posso te ajudar com isso.

Ele abre a tampa da garrafa e toma alguns goles de chá, ao terminar, passa o pulso nos lábios e continua:

— Tenho um amigo que está precisando de alguém para trabalhar no negócio dele, se quiser, posso te indicar.

— De onde você o conhece?

— Eu o conheci quando levei Dalhoon num restaurante italiano que por sinal é muito bom. O negócio dele fica logo acima, no mesmo prédio. Não sei direito o que ele faz, mas sei que paga bem — guarda a garrafa na bolsa. — Bem o suficiente para você, eu acho.

— Não sei se parece uma boa ideia...

— Ao menos dê uma chance, você vai ver, quando começar a ganhar o próprio dinheiro, não vai nunca mais querer depender de ninguém — ele garante.

— É fácil para você falar, os seus pais ainda te ajudam.

Youngho move os ombros.

— Falamos disso depois — eu peço. — Temos que voltar agora.

Voltamos do intervalo para a nossa mesa onde diversos papéis e livros estavam devidamente organizados. Doyoung também retorna trazendo consigo um copo pequeno de café. Ele senta em seu lugar na mesa redonda.

— Tomando café a essa hora? — Youngho pergunta, tirando seu tablet da bolsa. — Ao menos é descafeinado?

— Eu ainda não tomei café hoje.

— Sempre que toma café tarde você fica inquieto — ele balança a cabeça, então desliza a sua caneta sobre a tela.

E tinha toda razão. Não passou nem trinta minutos e eu já estava me cansando da maneira como Doyoung estava mexendo a sua perna freneticamente por baixo da mesa, como alguém que está ansioso o bastante para sequer notar que não consegue ter controle do próprio corpo.

Ignoro e busco prestar atenção nas imagens de microrganismos, mas qualquer deslize me fazia voltar direto para a sala de estar na casa de Yuta. Para o sofá cor de vinho macio como uma nuvem, para o peso do corpo de Jungwoo sobre o meu.

Balanço a cabeça e torno a evitar.

— Onde irão passar o Chuseok? — Doyoung pergunta enquanto escreve.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora