Vinte e Oito

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JUNGWOO

O sol declinava por trás da Serra de Linyi, acima da cidade de Meri. Os seus últimos raios refletiam nas límpidas águas do Yeong-ri, que preguiçosamente deslizavam rio abaixo formando a majestosa cascata na qual as outras sereias e tritões se banhavam. Uns exibiam suas pernas e seus corpos altos, outros estavam em suas formas, com caudas brilhantes e escamosas.

Um pardal saltava de um galho a outro de uma mangueira, como se estivesse apenas se exercitando, ou talvez procurasse um galho seguro onde pudesse repousar durante a noite que se aproximava. O dia, agora agonizante, dava seus últimos suspiros. Um morcego sobrevoou a cachoeira, que cantava suavemente enquanto percorria as curvas sinuosas do Rio Yeong-ri. Um grilo já cantava intermitentemente. Uma coruja surgiu. Distante, uma gigante bola alaranjada mergulhou por trás da serra.

Jungwoo parou na margem do rio. Olhou para o alto, podendo ver um pássaro sobrevoando a cheia do rio. A Serra de Linyi era uma ilha secreta acima da cidade paraíso. As terras são um verdadeiro refúgio, esquecidos pelo mundo.

Humano nenhum pisaria ali sem a permissão da sereia guardiã, e se pisasse, corria o risco de nunca mais acordar.

Jungwoo cresceu entre os recifes, nadando sobre as águas claras do mar por trás da serra. Desde novo ele avistava as montanhas de Linyi, mas foi proibido a vida inteira pelo próprio pai de pisar nessas terras como as outras sereias faziam, a fim de impedi-lo de voltar a criar seus pés humanos e ter vontade de ir para a terra firme dos homens humanos.

Isso não funcionou.

Mesmo antes de tudo, Jungwoo foi devoto à vontade de seu pai, acreditando que o tritão mais respeitado entre os outros estava apenas garantindo a sua segurança, então nunca foi até a ilha. Mas agora que seu pai está morto, ele pode pisar e andar por aí o quanto quiser.

- Mayim! Tire esse manto depressa e venha! - Haye lhe grita, do outro lado do rio.

A jovenzinha repousava sobre uma pedra, a sua cauda cor de anil, puxava para um tom arroxeado conforme era tocada pela luz do dia.

Jungwoo obedeceu ao chamado dela, desamarrou os laços de seu manto branco como algodão, quase transparente. O tecido derrama como leite ao redor de seus pés. Um vento frio corre pelo corpo nu. Corre e salta na água. Seu corpo estica, a sensação da sua parte inferior se tornando apenas uma toma todo o seu ser.

Se torna uma criatura marinha, com uma nadadeira dourada e escamosa.

A noite caiu.

Todas as outras sereias já tinham descido para o mar. Até mesmo Haye se transformou de volta e vestiu o seu manto para regressar. Apenas Jungwoo insistia em permanecer.

Ouviu um leve chiado de folha seca. Sua visão, feito um raio, foi em direção ao som e parou em uma figura imóvel sobre as pedras acima da bica. Firmou o olhar. Uma mulher. Selina? Sim, era ela. Sacudiu a cabeça. Esfregou os olhos e olhou novamente. Ela já havia saltado lá de cima e, sem manto ou pudor - nem mesmo havia uma pena para cobrir suas vergonhas -, passou a banhar-se onde tantas vezes já se banhou até que retornou da água em sua forma verdadeira.

Era a sua guardiã, era a guardiã da ilha, era ela quem mantinha qualquer humano longe dali. Ela quem protegia a todos.

Receoso, ele se aproxima dela. Não havia outra coisa a fazer. Ele precisava ver se era verdade o que seus olhos revelavam. O rumor das outras sereias era verdade, Selina estava de volta, e não havia mudado absolutamente nada.

Uma coroa de flores silvestres sobre seus cabelos negros e longos, uma nadadeira acarminada como sangue. Os seios brancos e firmes, expostos com um cristal vermelho-citrino colado entre eles.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora