Nove

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     Jungwoo aceitou mais facilmente a decisão de Doyoung do que nas vezes que tentei. Bastou pedir uma vez para que ele não quisesse mais ir à universidade comigo pelo resto da semana, encerrando esse segredo.

Sei que era o certo, mas todos esses dias perto dele foram o suficiente para mudar a minha visão da faculdade. Não vejo mais aquele corredor de tijolos brancos da mesma maneira. Tudo ficou monótono. As aulas parecem mais sucintas e demoradas. Enquanto estou na minha carteira ou mudando de aula, não posso evitar olhar o relógio a todo momento, imaginando o que Jungwoo pode estar fazendo na minha ausência.

Quando saio de casa pela manhã, Jungwoo, em geral, já está deitado na rede da sacada. Segura um bloco de rascunhos numa mão e na outra, um lápis com uma borracha na ponta. Estica os pés, com os tornozelos cruzados. Às vezes responde o meu "até mais tarde", outras vezes, sequer desgruda os olhos do que faz.

"Você está indo para a aula?" — perguntou para mim na primeira manhã.

Na segunda e terceira vez que saí, apenas fez um sinal com a cabeça, sem dizer nada. Nem parecia que um dia achou minha faculdade o lugar mais legal daqui e ameaçou fugir se eu não o levasse comigo. Cheguei a pensar que ele não sentia minha falta, mas todas as noites quando chego, Jungwoo é o primeiro a me receber.

Ontem ele contou que conheceu o proprietário da casa que mora no andar debaixo, o Tio Gong. Ele o ajudou a podar as árvores da fachada. Até colheu legumes na sua horta, ganhando uma cesta de cenouras orgânicas como agradecimento.

O Tio Gong não tem uma idade ultrapassada, quem sabe tem entre 30 e 40 anos. Mesmo assim ele aparece muito pouco e vive como um idoso, por isso, Doyoung e eu costumamos chamá-lo de Tio, como um apelido. Sei que ele vive com a sua esposa e não tem filhos. É comum vê-lo tomando sol na varanda debaixo quando saio de manhã. Também nos encontramos quando ele vem recolher o aluguel ou passear com seu cachorro. Nunca teve conversas prolongadas com ninguém, mas conversou com Jungwoo.

Sempre Jungwoo. Fico apaixonado pelo jeito como ele brilha naturalmente, sem se esforçar. Como quase todos ao seu redor o recepcionam e gostam dele. Não entendo como alguém consegue ganhar tão fácil as pessoas, como ele ganha. Talvez a energia mística e encantadora seja uma verdade irrecusável. E eu o invejo por isso.

***

Numa tarde de sábado ensolarada, fiz questão de levá-lo comigo para a pesquisa da faculdade junto com os outros. Sei que não vou conseguir lhe dar toda a atenção, não como quero, mas ter a sua companhia deixa o meu dia mais bonito.

Seria a primeira vez que voltaria ao meu barco, e o primeiro passeio após um tempo.

No mar, as ondas estavam calmas, não ganhavam muita força, logo, não balançávamos muito dentro do barco. A água possuía um tom turquesa e mais para a margem da areia, era possível ver estrelas do mar no fundo arenoso e cintilante. A Praia de Cahye era a minha favorita de toda a costa de Ulsan, por ser a mais bonita, acolhedora e silenciosa.

Ficamos parados no cais, esperando a chegada de Doyoung e Youngho. Desci para pegar os instrumentos necessários para recolher as amostras. Encontrei Jungwoo sentado na borda, sozinho. Parecia um tanto maravilhado em observar o mar do lado de fora.

Usava uma viseira de baseball que emprestei e que serviu perfeitamente em sua cabeça, protegendo seu rosto do sol. O calor deixa a pele dele sensível, o que não acho uma surpresa, Jungwoo tem o corpo frio demais para aguentar altas temperaturas.

Pedi para que ele ficasse lá dentro onde tem sombra, mas é claro que ele teimou em estar aqui fora e chegou a tirar a camiseta para se refrescar. Então peguei o protetor solar na bolsa.

O Segredo do Oceano •  JaeWooOnde histórias criam vida. Descubra agora