CAPÍTULO DEZ

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No dia seguinte ao acontecido, enquanto o corpo era preparado para o velório, fui visitar o local do acidente. O cocheiro explicou que choveu muito e o papai estava com pressa, então a carruagem derrapou e pendeu para o lado fazendo a lateral dela se dilacerar acertando quem quer que estivesse dentro. Por isso o ferimento.

Eu estava sendo forte, me esforçando para ser forte, precisava saber os motivos, então procurei qualquer coisa que fugisse do comum.

A carruagem ainda estava lá, tombada. O cavalo morto também estava lá, começando a ficar rígido.

Apontei ao que parecia restos de folhas e o cocheiro suspirou.

— Era um buquê — respondeu Jeffries e eu engoli o nó em minha garganta — Ele falou que iria dançar com a senhorita.

— Entendemos, por favor, chega — disse Esdras de forma dura, ele parecia cansado, não o julgo, ele tem estado ao meu lado desde então.

Respirei fundo, então assenti. Efraim   tinha confirmado que o ferimento tinha sido causado por um pedaço de madeira e lá estava a carruagem, ou o que restou dela.

Jeffries foi olhar o cavalo, ele estava esperando ajuda para tirá-lo do meio da estrada.

Me afastei, tentando não chorar.

— Eu sou tão idiota, se eu não tivesse ido, se eu tivesse ouvido a sugestão dele... — falei sentindo aquela dor aguda e o desespero se alastrar por mim.

— Você não tinha como saber o que aconteceria — disse Esdras, um pouco apático.

— Mas... — senti meus lábios tremerem, era inevitável. Se eu tivesse ficado com papai, talvez pudesse ajudá-lo, não sei... — Eu...

Então ele me puxou para ele, abraçando-me com força. Diferente da última vez, Esdras estava quentinho.

— Cala a boca... — disse ele, me apertando. — Se você ficar repetindo essas coisas, vai acreditar em cada uma delas, e elas vão nortear a sua vida. Você não tem culpa do seu pai ter morrido.

Dei um grunhido fino, chorosa.

— Você não tinha como saber que isso aconteceria, nem ele esperava. Se não fosse por causa da chuva, do acidente, teria qualquer outro motivo por trás, mas não seria sua culpa. Nada disso é sua culpa, Sissi. — A voz dele tremulou um pouco e eu me perguntei se Esdras também chorava. — Pare de se culpar pelas coisas que acontecem com você, nem tudo tem haver com você, as coisas simplesmente acontecem...

Então ele ficou em silêncio e eu também. Fechei meus olhos reprimindo qualquer pensamento ruim que chegava até mim, então passei os braços ao redor do seu corpo e suspirei, mais calma.

— Esdras... não há nada que eu possa fazer... E eu queria tanto fazer alguma coisa!

— Eu sei disso...

Chorei.

Eu não veria mais o papai.

E não tinha a quem culpar, nem a mim mesma.

Não seria justo comigo mesma, se eu me culpasse.

***

Aquele homem no caixão não podia ser o papai... Mas ao mesmo tempo, se parecia muito com ele.

***

Não parecia muito coerente, mas eu esperei que papai estivesse em casa, mesmo o enterrando horas atrás.

***

Estava tão cansada, só precisava dormir um pouco.

***

UMA DAMA E QUATRO CAVALHEIROS Onde histórias criam vida. Descubra agora