CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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Quando me livrei da peruca, na manhã seguinte, meu couro cabeludo gritava um "amém". Observei Esdras sentado na minha frente, na carruagem, calado.

Na verdade, ele passou a maior parte da manhã calado. Ele agindo assim, era inevitável não ficar ansiosa. Será que ele não gostou de algo que eu fiz?

Não, não vou me culpar por nada mais!

No meio da tarde, descemos no centro de um vilarejo próximo, então eu aproveitei para ir a uma loja de tecidos e roupas prontas, onde logo obtive duas camisolas mais recatadas. E estava observando os vestidos quando vi Esdras observar os tecidos expostos em um balcão tal como se os estudasse, ele parecia muito interessado no algodão utilizado e travou um diálogo bem animado com o dono da loja. O jeito com ele falava, tão convicto, tão cheio de si, como escutava o que o homem dizia e como colocou os óculos para ver o tecido de perto... era simplesmente adorável.

Eu estava admirada. Suspirei.

Ainda assim, naquele breve passeio, eu guiei a maioria das nossas conversas, não entendia por que ele estava tão sério. E isso estava acabando com minha paciência.

Comprei um livro também, preparando-me para me distrair durante a viagem já que um certo homem não estava nem um pouco disposto a conversar. E foi o que eu fiz, comecei a lê-lo assim que voltamos para a carruagem.

- Sobre o que é? - perguntou ele, enquanto a carruagem balançava.

- O que?

- O livro.

- Ah... é um romance - respondi, então marquei a página que estava lendo e o fechei. - Entre um detetive e a filha de um nobre.

Esdras assentiu, então prensou os lábios.

- Desculpe por ontem... eu acabei passando dos limites - falou.

O olhei séria. Não, eu não desculpo!

- Prefiro que se desculpe por hoje, não por ontem - respondi mais rápido que meu raciocínio.

- Como?

- Você não falou nada quase o dia todo, é aborrecedor.

- Desculpe. - Ele parecia surpreso.

- Quanto a ontem, uma hora ou outra vai acontecer, certo?

- Pare de dizer isso. - Esdras pareceu aborrecido.

- O que?

- Como se fosse algo ruim, inevitável, forçado.

Estranho ele se importar com isso.

- É inevitável... você mesmo disse.

- Mas...

Esdras cruzou os braços, ele estava se contradizendo.

- Não me forcei a nada - continuei e isso pareceu aliviá-lo.

- Certo.

O fitei, depois daquele beijo de ontem, me dei conta de três coisas que mudaram um pouco a minha perspectiva a seu respeito.

Primeiro, foi diferente. Diferente de tudo o que me ocorreu. Diferente do beijo dos meus sonhos - que por sinal, não foi um sonho -. Diferente do beijo com Liam que não me fez sentir nem metade das coisas que senti com Esdras.

Segundo, eu estava atraída por Esdras. Não só atraída, eu estava desejosa que ele me tocasse, que ele fosse além comigo. Era estranho pensar nessas coisas, mas não posso simplesmente dizer que não sentia nada, ou que não queria nada. Ficou bem óbvio quando ele me deixou ali, em chamas.

UMA DAMA E QUATRO CAVALHEIROS Onde histórias criam vida. Descubra agora