CAPÍTULO ONZE

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Eram raros os dias em que eu acordava com ânimo, mas quando me ocorria, aproveitava para passear um pouco no jardim da casa. Eu não era uma tutelada muito difícil de ser cuidada, penso eu. Sempre estava presente na hora do almoço e jantar, e evitava estar com eles em qualquer outro momento que não fossem esses.

E mesmo depois de 1 mês que papai se fora, eu ainda sentia tanta falta dele como se fosse ontem. Talvez porque ele era a única família que me restara. Certamente, se tivesse outra família, não seria responsabilidade de Liam.

Sei que a senhora Sullivan não gostou muito da notícia, muito menos Safira, então não quis me envolver mais nessa história, me bastava uma dor apenas. Ver Liam com ela não chegava nem aos pés da falta que eu sentia do papai.

— O que está fazendo? — perguntou Liam, eu estava em uma das salas laterais, uma que quase nunca era usada e encontrei uma espécie de refúgio. Lia uma história de amor entre uma senhorita e um cavaleiro que a salvou de um monstro. Olhei Liam, sentindo-me nervosa pela sua chegada repentina. Além de um pouco apreensiva.

— Lendo um livro — respondi o óbvio, melhorando minha postura na sua presença.

— E sobre o que se trata a história? — perguntou ele, sentando-se na poltrona, próximo a mim.

Mostrei a capa.

— Foi um dos livros que trouxe lá de casa, é um romance — contei.

— Você lê com tanto ânimo que parece ser muito interessante.

Suspirei.

— E é interessante, o senhor deveria tentar ler também, o que acha?

Liam sorriu.

— Não me vejo lendo esse tipo de coisa, sequer tenho tempo para tal. São muitas coisas que preciso resolver. Mas... como está se sentindo? — perguntou, aparentemente, atento a minha resposta.

Suspirei pensando no melhor a responder a ele, mas antes que o fizesse, Liam continuou.

— Não sei se minha mãe está sendo gentil com você, mas se não tiver, por favor, releve...

A mãe dele nunca chegou a me faltar com respeito, mas eu sei que não era querida por ela. Até mesmo o tio de Safira, que vez ou outra estava em casa, não se aproximava de mim. Tudo bem que não dava abertura nenhuma, sempre estava trancafiada no meu quarto.

— Sei que ela não gosta da minha presença — falei e ele pareceu ainda mais preocupado. — Mas ela é uma senhora muito gentil e nunca me faltou com respeito.

— Não é que ela não goste de você, Sissi... Ela só... está tentando fazer o melhor pela nossa família.

Assenti e Liam ficou em silêncio, como se quisesse dizer mais alguma coisa. E eu soube que o que viria da boca dele machucaria-me.

— Bom... eu... na verdade, nós estamos planejando um baile mês que vem e... eu ... e será anunciado o meu noivado com a Safira.

Minha boca ficou seca, mas eu reagi melhor do que eu imaginava. Senti uma certa dor no peito, mas de alguma forma, ele parecia um pouco mais calejado.

Assenti, me convencendo de que perderia Liam também, mas certamente era melhor vê-lo feliz do que se ele morresse.

— E... querendo ou não, a sua presença vai ser necessária, as pessoas estão curiosas a seu respeito.

Eu sei, li no jornal local que virei a órfã garantidora de uma ação de caridade para lá de invejável vindo de um marquês solteiro.

"Quem dera que todas as órfãs tivessem a mesma sorte" era o que dizia.

UMA DAMA E QUATRO CAVALHEIROS Onde histórias criam vida. Descubra agora