CAPÍTULO TRINTA E CINCO

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O sol nascia quando eu já estava desperta. O assunto de estar grávida não saía da minha cabeça. Ao mesmo que me perguntava se deveria dizer a Esdras e como dizer a ele, pensava que talvez não fosse verdade, eu não me sentia grávida, a mulher tinha que sentir, acordar e sentir " Me sinto gravida", como pode ser algo assim? Silencioso...

Outra coisa... que maldito cheiro é esse? Rodei no meu próprio quarto e quase vomitei. Cheiro de sujeira, não sei explicar!

Precisava de ideias do que fazer para me manter ativa, atividades novas longe do meu quarto, além de nomes para a criança, não tinha ideia nenhuma, menos Brigitte, Judith e derivados, claro.

Eu tinha que contar a ele sobre a minha gravidez, mas não quero usar isso, não mesmo. Desde a nossa conversa ontem, não me sinto preparada sequer para olhar seu rosto, quem dirá dizer-lhe alguma coisa.

— Matilda, tem certeza que não está sentindo esse cheiro? — indaguei, apontando para uma penteadeira velha no canto. — Eu tenho certeza que tem alguma coisa ali.

Ela parou de abotoar meu vestido, levantou o nariz e cheirou o ar.

— Não sinto nada mesmo.

— Estou desconfiada, toda vez que o senhor Pantufas vem pra cá, ele fica olhando debaixo da penteadeira, tal como se tivesse alguma coisa lá — Me arrepiei. Não mesmo, não vou dormir até descobrir o que seja isso.

Intrigada pela minha fala, Matilda foi até a penteadeira e num puxão rápido, tirou-a do lugar. Era uma senhora forte, de fato. Nada aconteceu, ela olhou para trás da penteadeira e levou a mão à boca.

— Céus! — disse.

— Aí! Eu disse, não disse! O que tem aí?

— Baratas. Muitas delas.

Corri em direção a porta. Não mesmo, não ficaria em um lugar repleto de baratas. Jamais!

— Não sabia que baratas tinham cheiro — disse Matilda, confusa.

— Elas fedem! — arfei. — Claro, são sujas!

— Vou chamar as empregadas para fazermos uma limpeza nesse lugar — disse Matilda. — Vou transferir suas coisas para o último quarto do corredor, tudo bem?

— Certo, faça isso , por favor! — supliquei, então senti ânsia de novo quando aquele cheiro horrível chegou ao meu nariz. Estou indo, não mesmo que ficarei aqui.

Olhei de longe os empregados levarem meu baú com roupas, e saí de perto quando um grupo de mulheres muito destemidas travaram uma batalha árdua contra aquele ninho de baratas. Elas eram bem corajosas, da última vez que tentei matar uma, ela voou para cima de mim, não ouso desafiar essa classe, odeio baratas quase o mesmo tanto que odeio rãs.

Senti ânsia de novo de novo. Sem condições. Então sai dali e me dirigi para meu lugar favorito daquela propriedade: o campo onde eu podia observar as ovelhas e pensar em muitas coisas, ou nenhuma. Aquele lugar virou meu refúgio quando eu sentia falta do papai, ou quando queria só ficar sozinha.

E se abrisse uma joalheria para vender as pedras do papai cravejadas em jóias belíssimas? O nome da Joalheria seria " Pedra preciosa". Seria um ótimo destino as jóias encontradas, além da venda, claro. Se tivéssemos a nossa própria linha...

Sorri. Não era uma má ideia. E isso ajudaria aumentar, ainda mais, a nossa renda e, por tanto, a do meu filho. Levei a mão à barriga.

Minha nossa! Nem sei se estou grávida, não devia ser tão emocionada.

— Papai gostaria tanto de te conhecer — disse ao bebê.

Espera, eu tenho uma questão importante a ser considerada, como uma pessoa decreta que está grávida? Tem que esperar a barriga crescer? Já vi mulheres que quase não tinham barriga, se não for dependente só das regras, imagine o susto.

Ela sente uma dor de barriga e oh, um bebê!

Neguei com a cabeça. Que desespero seria.

Deve haver sintomas além da falta de regras. Será que tem algum livro a respeito disso?

Voltei para casa, decidida a procurar algo que falasse sobre isso e passei boas horas enfunada naquela imensa biblioteca.

— Senhora... — A governanta arregalou os olhos quando me viu sair do cômodo. — Encontrou-se com o Milord? — perguntou.

Neguei com a cabeça, por que eu me encontraria com ele? Tenho o evitado desde a nossa discussão ontem.

— Por que?

— Acho que houve um desencontro, então, ele estava a sua procura, parecia bem nervoso.

Por que? Aconteceu alguma coisa?

Fui para o meu novo quarto no fundo do corredor, Matilda ajudava as meninas a darem os últimos retoques, respirei fundo, esse sim, não cheirava a barata, não cheirava a nada.

— Esse está perfeito — disse, juntando as mãos. — Obrigada!

As meninas pareceram felizes pelo feito.

— O antigo quarto está limpo, tem certeza que não deseja voltar? — indagou Matilda.

— Não há necessidade, ao menos não por enquanto — comentei, indo para a minha nova cama, não era tão macia quanto a anterior, mas estava segura de demônios.

Tomei um banho demorado e vesti a minha camisola mais leve, mas... por mais que eu quisesse me concentrar no livro que lia sobre gravidez — que achei depois de uma procura árdua na biblioteca — me pergunto por que Esdras tem isso, mas ele tem tanta coisa, um arsenal inteiro sobre fisiologia, biologia e natureza humana, negócios de todos o tipos, arquitetura, artes, gramática, enfim. Por mais que quisesse prestar atenção no que lia, não conseguia parar de me sentir preocupada. Esdras nunca volta tarde para casa, o que será que houve?

E como se ele tivesse ouvido meus pensamentos, ouvi um trotar de cavalos de longe, era ele, em alta velocidade. Eu conhecia seu cavalo.

— Tomás! — gritou assim que se aproximou da casa. Me levantei e me dirigi a varanda, escondendo-me atrás da cortina

Coitado do Tomás, aposto que não fez nada para receber esse tratamento. O homem veio correndo em sua direção, o acompanhei pelo olhar, ainda escondida. Queria saber por que Esdras estava tão... nervoso.

— Tem certeza que você a levou para lugar nenhum?

Levou quem?

— Não senhor... como eu faria isso, não mentiria! — respondeu Tomás. — Eu a vi saindo pela manhã, mas não vi ela voltar, isso foi tudo.

Esdras coçou a nuca, então saiu em direção ao campo onde eu costumava ir, não o vi mais quando ele se distanciou no meio da escuridão.

Quem ele estava procurando? Eu? Por que? Eu estou bem aqui!

Ah... Olhei para trás, observando meu novo quarto, com todas as minhas coisas. Esdras está achando que eu fui embora?

UMA DAMA E QUATRO CAVALHEIROS Onde histórias criam vida. Descubra agora