CAPÍTULO TRINTA

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 — É aqui que vende o doce que mencionaste? — perguntei me aproximando de uma das barracas.

— Pelo que estou vendo, também — disse ele.

Então observamos os docinhos sobre uma bandeja metálica.

— Senhora, senhor... fiquem à vontade! — disse a senhora de cabelos grisalhos e óculos na ponta do nariz.

— Vai, escolha o seu — falou Esdras procurando um para ele.

Aquilo era simples, mas deu-me uma estranha animação. Peguei um espeto e, sem pensar duas vezes, mordi o doce que estava crocante e macio ao mesmo tempo. Fechei os olhos, de fato, era divino.

— Hmm...que delícia! — exclamei e a senhora ruboresceu. — Como você faz este doce? — perguntei.

Ela pareceu muito contente pelo meu interesse, então explicou-me com detalhes como fazia. Primeiro ela preparava os biscoitos um pouco mais finos que o comum. O recheio poderia ser feito de doce de leite ou até geleia de alguma fruta. Depois ela juntava os dois biscoitos com o recheio e o palito, e mergulhava tudo, quando mais firme, na calda de chocolate, colocando o amendoim enquanto a calda não estava completamente endurecida.

Anotei cada detalhe mentalmente, preparando-me para fazê-lo algum outro dia. Quem sabe ensinasse a nossa nova cozinheira para fazer de tempos em tempos. Depois de andarmos por quase toda a feira, decidimos voltar para a pousada.

— Mackenzie? — Uma voz masculina chamou-nos atenção, e quando eu me virei, um grupo de homens vinha ao encontro de Esdras, todos com um sorriso amplo estampado no rosto. Ele tinha muitos amigos.

Esdras sorriu, mostrando que estava feliz em vê-los.

— A quanto tempo! — disse ele.

— É verdade que se casou? — perguntou um deles, então Esdras mostrou-me e eles me cumprimentaram, parabenizaram, mas pareciam querer tirar-lo de mim.

— Por que não se hospedam na casa do Berry? — indagou um deles.

— Não tem nenhum problema mesmo — falou o tal senhor Berry.

— Já estamos estabelecidos em uma pousada, além do mais, vamos partir amanhã cedo.

Os homens pareceram decepcionados.

— Então venha conosco, vamos nos encontrar com o Ferraz, lembra-se dele?

— É claro que eu lembro, mas terei que recusar...

Apertei seu braço. Sei que ele estava querendo fazer isso por mim, mas pelo que eu entendi, fazia anos que ele não via aqueles seus amigos, não fazia mal nenhum vê-los, não é?

— Vai... — sussurrei e ele pareceu hesitante. Prensei os lábios impacientes.

— Muito bem, irei somente dar uma olhada nele e cobrar o que ele me deve — resmungou Esdras e os homens sorriam.

Esdras deixou-me no quarto, me deu um beijo nos lábios e disse que não demoraria, então partiu. Fui para janela, pois dali eu conseguia ver seus amigos.

— Vamos logo, Berry está louco para conhecer as novas senhoritas... — comentou um deles.

Senhoritas? Que senhoritas?

Os outros riram.

— Só não deixa Mackenzie chamar muita atenção, se não já sabe — riu outro.

— Não fale bobagens... — disse Esdras, então eles seguiram rumo ao tal lugar que tinha muitas senhoritas e eu fiquei lá, com o coração apertado. Não deveria tê-lo dito para ir.

Mas quem sou eu para ditar o que ele faz? Porém Esdras não ia, eu que lhe dei a liberdade que ele precisava porque pensava que seria algo semelhante a um chá entre amigos.

Mas eu sou muito ingênua.

Aposto que o lugar estará cheio de senhoritas pouco vestidas com seios bonitos. E se ele gostar de uma delas?

Pare com isso, não se ponha nessa situação, Sissi!

E se ele for mais longe e tocar mulheres como ele me toca? Esdras não me ama e deixou isso bem claro. Se já é difícil um homem se conter com amor envolvido, imagine sem amor!

Rodei no mesmo lugar. Então me sentei na cama desolada, milhões de coisas passando na minha mente, cenas e fins possíveis. Então levantei-me. Me recusando a me sentir revoltada por isso. Olhei o relógio, já havia se passado mais de uma hora. E se ele não voltar à noite?

— Mas isso seria uma falta de respeito tremenda! — brandei para mim mesma. — Como ele se sentiria se eu saísse beijando outros senhores e ...

A porta se abriu e eu dei um pulo no mesmo lugar. Lá estava ele, segurando uma caixa.

Meus pensamentos morreram no mesmo instante e eu mordi o lábio inferior.

— Trouxe bombons para levarmos na viagem — disse colocando a caixa sobre a escrivaninha, então olhou-me. — O que foi?

— Nada... — me virei de costas, então de braços cruzados fui até a porta da varanda. — Tenho uma questão. — Anunciei.

— Claro que tem... o que foi?

— Foi divertido? — perguntei.

— O que?

— O lugar repleto de senhoritas. — Me virei para ele, procurando qualquer coisa em seu olhar.

Eu estava insegura, isso era um fato. Odiava esse estado, odiava me sentir assim, mas era mais forte que eu.

— Saí antes que elas pudessem se aproximar de mim. Meu intuito era apenas cumprimentar meu amigo, e nada mais — explicou-se, então se aproximou. — Por que? Está incomodada?

— Não... — menti.

Esdras suspirou.

— Estas coisas nunca foram do meu feitio, para começo de conversa, e agora eu estou casado, por que eu faria qualquer uma dessas coisas?

— Vejo que estar casado não é impedimento para nenhum senhor — respondi mais aliviada e um pouco envergonhada de mim mesma.

Será que tinha como comprar confiança tal como se compra uma peça de roupa?

— Não é um impedimento, não me sinto impedido de nada — disse Esdras, sério e eu o encarei preocupada. — Não me sinto preso, nem amarrado, eu simplesmente não quero acabar com o respeito. Vamos, a nossa relação deve ser baseada no respeito, primeiramente.

Assenti e ele me abraçou.

— Pare de desconfiar de mim, isso deixa-me aborrecido. Fiz alguma coisa que te deu razão para isso?

Neguei. Era verdade, eu nunca fiquei desconfortável com isso, só agora. Acabo de perceber que sequer pensei nele e na sua capacidade de escolha, logo pensei em senhoritas bonitas e me comparei com elas, julgando-me como inferior automaticamente, como se estivesse numa competição, como se fosse culpa minha se algo desse errado, quando na realidade, nada disso dependia de mim e sim da escolha dele.

Se algum dia Esdras fizesse isso, não seria culpa minha.

Como era difícil entender isso quando tudo o que fiz na minha vida foi me responsabilizar pela ação de terceiros. Suspirei apertando-o ainda mais contra mim.

— Sissi...

— Sim?

— Você está me deixando excitado.

Arregalei os olhos, surpresa por ele estar sendo muito transparente quanto a isso.

— Ah... bem...

— Vamos dormir? — perguntou ele.

— Ainda não tomei banho — respondi, ele então olhou-me por alguns segundos e vi os olhos dele ganharem um brilho travesso.

— Eu acabo de ter uma ideia ainda melhor.

Sorri e gritei quando ele me carregou para dentro da banheira. Não posso mentir que também estava ansiando por aquilo.

UMA DAMA E QUATRO CAVALHEIROS Onde histórias criam vida. Descubra agora