Capítulo 1

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Catharina

Catharina acredita que a vida é  uma questão de sorte

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Catharina acredita que a vida é  uma questão de sorte. Alguns tem uma família estruturada e amorosa como Camila sua vizinha da frente, com um casal de gêmeos e marido atencioso.
Outros são como a pobrezinha Caroline, com pais ausentes e que se preocupam mais em matar um ao outro, do que o pôr que a menina de nove anos não pronúncia uma só palavra.

E há os que são como Charles do oitavo andar, que tem pais ricos por mais que more num prédio abaixo de alguém do seu nível social.

Mas o jovem está em sua fase rebelde, que engraçado; o moleque quer ser independente. E no entanto seus pais quem paga a faculdade e aluguel.

Catharina as vezes acha que ele está ali só por experiência, talvez cansou de conviver com os ricos e quer misturar um pouco com os pobres.

E vem Catharina...

Não escolheu nascer, não escolheu seus pais e definitivavmnte não escolheu sua vida.

Apenas a chutaram para o mundo numa ordem clara: se vire!

O que os quatro tem em comum?

Todos eles começam com a letra C, para Catharina pessoas distintas que foram lançadas como dados, obviamente Charles detém maior quantidade de pontinhos em seu dado.

Catharina é um único ponto, nunca ganhou nada nem nos sorteios do supermercado que frequenta á anos, nem nos bingos que seu frequentava aos domingos. A negra conformou que existiam pessoas assim como ela e a pequena Caroline que não acertaram a sorte.

Ela assistiu vídeos motivacionais no YouTube, eles dizem que você precisa de um propósito. Entretanto seu objetivo no momento é dar uma vida confortável ao avô, ou o que resta dela.

Por isso ela está procurando um emprego para aumentar a renda, o dinheiro que recebe trabalhando cantando num restaurante a noite não é o suficiente para os remédios do avô, ou a enfermeira e muito menos para as consultas.

E só mais um dia ruim.

Ela pensou e vestiu seu casaco e despediu do avô com um beijo na testa, mas Joseph está concentrado em aprender a feijoada brasileira.

Concentrado ele assiste ao programa culinário com um caderno de notas na mão e um lápis, ela sorriu, ele provavelmente anotava a receita.

Ela lembraria de comprar os ingredientes, mas tudo depende do humor do outro. Ela pode acordar e deparar com um jovem no corpo de um idoso, ou o avô nem a reconhecer.

Esses eram os dias difíceis do Alzheimer, em que ela chorava escondido porque Joseph estava indo embora ainda em vida.

__ B-bom d-dia Agatha, o-o meu av-vô já comeu. - diz ao abrir a porta para a enfermeira.

Catharina tinha exatamente quatro anos quando sua gagueira começou, a pouca idade fez com que o passado não seja nítido, concreto.

Porém ela lembra que houve gritos e o som do copo que quebrou ao ser lançado. Depois  flexes de memórias nubladas, um som mais agudo e depois rostos estranhos que tentavam acalmar a criança de vestidinho branco sujo de sangue que chorava.

Seu pai matou sua mãe e atirou em si mesmo um tiro na cabeça.

Então o avô cuidou dela, ela não sabe por que ele guardaria um recorte de jornal do crime, mas ele o fez. E ela o achou com doze anos enquanto fuçava a gaveta do avô em busca de meias, pois as suas estavam surradas e cheia de furos.

Os policias disseram que seu pai estava muito chapado para estar lúcido e provavelmente tendo alucinações pelos pacotes de cocaína encontrados pela casa.

Catharina infelizmente é fruto de um relacionamento conturbado.

E Joseph não foi um avô convencional, sério e rígido. A negra é grata a ele. O homem a amou de um jeito torto, mas amou.

Pare se ter uma ideia, ele a abraçou pela primeira vez depois que o Alzheimer o atingiu, ele pensou que Catharina fosse sua filha falecida.

Situações desse tipo são frequentes, ela não o corrige, só retribui o carinho.

__ Boa noite, ele dorme rápido, mas eu trouxe filmes. Ele queria assistir alguns filmes com Sigourney Weaver. - a loira fala ao entrar.

Catharina dá um sorriso tímido.

__ E-ele es-stá mais i-interessa-do em vê r-receitas, mas pode ser... - sacode os ombros, e aponta para o avô na poltrona.

A enfermeira faz um som de lamento.

__ Oh que pena, hoje é noite de filmes. Quem sabe ele não mude de ideia. - balbuciou e caminhou em direção ao mais velho.

Ele não mudaria, Joseph cismou com isso, como quando decidiu um belo dia em ser médico e maratonou uma série inteira do gênero. E no outro dia esqueceu de tudo.

O deixando em boas mãos, Catharina seguiu para o trabalho.

O restaurante estava vazio, com o cair  da noite as pessoas tendem a aparecer. O estabelecimento é simples, mesas de madeira espalhadas dentro e na calçada.  O palco pequeno no centro, foi uma estratégia do dono para atrair clientes. A negra abria com músicas lentas e melodiosas, e uma banda assumia quando dava horário de ir, instigando as pessoas com as batidas animadas a divertirem e consumir mais.

Ela não gagueja ao cantar, Catharina até se sente normal e os problemas somem.

Antes que ela subisse no palco, Margot a parou.

__ O meu primo trabalha de segurança em uma casa, ele disse que estão contratando. E para limpeza, Steven conseguiu uma entrevista para você. - Ela diz feliz.

Margot é mais velha que ela dois anos, amigas desde a infância, foi a outra a arrumar o emprego atual de Catharina. Ela gosta da amizade das duas, e simples. A outra negra a conhece bem, e a incentivou a falar quando entrou em semanas de silêncio, por caçuarem de sua gagueira.

E quanto mais chateada ela está, mais ela come, o que aumentou seu peso e abaixou sua auto estima.

__ O- obrigado  M-margot, as contas não p-param d-de chegar. - suspirou, deve dois meses de aluguel.

__ Eu sei amiga, as coisas vão melhorar. Toma, este é o endereço. - Margot a entrega um papel. - vai lá amanhã as sete horas. - informa.

Catharina a encara agredida e abraça envergonhada de estar abusando da ajuda da amiga.

A outra negra é seu oposto; atrevida, faladeira, e adora chamar atenção, principalmente dos homens. Cada uma com sua personalidade e no fim se completam.

Catharina observou o papel em mãos, e esperança brotou em sua face.




Eu amo histórias de personagens negras e gordinhas.

Coração de gelo - Amores ImprováveisOnde histórias criam vida. Descubra agora