15. Férias - Emily

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Não imaginaria que minhas férias fossem ser repletas de ansiedade. As palavras de Giovanni ainda me atormentavam. Principalmente por não conseguir esquecer aquele beijo na praia.

Eu teria preferido que houvesse sido apenas um beijo e que depois nos afastássemos com promessas, mesmo que vazias, de nos vermos em outro momento. Ao invés de parecer que me beijar tenha sido a coisa mais horrível do mundo.

Quando contei o acontecimento a Gustavo, ele permaneceu um tempo sem saber o que dizer. Mas ao contrário de mim, ele parecia aliviado por Giovanni ter interrompido nosso beijo.

Na ideia dele, era melhor eu ter tido o coração partido depois de um beijo do que em algo mais. A dor seria pior, ele dizia. Eu tinha essa experiência em minha própria pele e racionalmente eu concordava com ele. O problema era fazer meu coração aceitar.

Ainda no começo das férias, fiz minha visita anual ao meu pai na Inglaterra. Em todas as minhas férias, desde os oito anos quando minha mãe me levou pela primeira vez para conhecê-lo, eu reservava uma semana para ele.

Gostava muito desta viagem, mesmo depois dele casar-se e ter outra filha, Megan. Meu pai me abraçava e me dizia como eu havia crescido; sendo que minha estatura não se modificava há uns dois anos, eu achava isso engraçado.

O dia mais esperado e especial era quando íamos ao zoológico inglês, era uma verdadeira aventura, pois entravamos nas jaulas e, principalmente no berçário. Meu pai era geneticista de animais e trabalhava com pesquisas de remédios veterinários. Sua empresa era filiada ao zoológico e ele tinha livre acesso a este. Assim, eu ajudava os tratadores, pegava filhotes no colo e lhes dava mamadeiras.

Passar o tempo com meu pai era sempre agradável, ele tinha um jeito carinhoso, apesar de desajeitado. Como não tínhamos muito contato durante o ano, e na verdade nunca tivemos, ele parecia não saber o que fazer em minha presença. Tentava o possível e o impossível para me agradar, me enchia de presentinhos e me levava aonde eu desejasse.

Minha meia-irmã Megan mostrava-se um pouco frustrada com minha presença, por precisar dividir a atenção de nosso pai. Durante minha visita, eu e ela mantivemos um relacionamento pacífico, como se pode ter com uma menina de sete anos. Nosso contato era tão escasso durante o ano que pouco sabíamos uma da outra.

Suelly, a mulher de meu pai, costumava ser educada comigo em minhas visitas e eu agia da mesma forma com ela. Acho que não tínhamos nada em comum, por isso nos mantínhamos distante. Mas como eu estava lá por meu pai, não dava grande atenção para sua mulher.

Na última quinzena das férias, já em meu apartamento, foi a vez de minha mãe me fazer sua visita semestral. A presença dela serviu para renovar meu ânimo, passamos incontáveis horas rindo ao vermos filmes, jogarmos cartas ou apenas conversando até tarde.

A presença de Gustavo foi quase constante, mas isso não me incomodava. Afinal quando minha mãe morava ainda no Brasil, Gustavo e Ricardo eram presença constante. Penso que eles dormiram mais vezes em nosso apartamento, durante a infância, do que em sua própria casa.

O diferente era que neste ano, Ricardo não estava conosco. E eu agradeci silenciosa por minha mãe não tentar forçar nosso encontro e não ter me incomodado mais para eu me aproximar dele. Talvez ela tenha percebido que eu não contei tudo o que aconteceu no verão passado, e achou melhor eu escolher o quanto de tempo eu precisava antes de aceitá-lo novamente em minha vida.

Nestes dias, eu e minha mãe, permanecemos o máximo de tempo juntas para saciar as saudades, embora tivesse que dividi-la com Sérgio, Maria e Gustavo. Afinal eles também sentiam falta de minha mãe.

Na manhã de meu aniversário de dezenove anos, acordei com Gustavo sentado na borda de minha cama, como ele havia ficado para dormir na noite anterior, mesmo que no sofá já que minha mãe ocupava o quarto extra, isso não me causou surpresa. Ele me olhava ansioso.

— Bom dia! — sorri ao me espreguiçar.

— Feliz aniversário! — ele gritou ao jogar-se sobre mim e me abraçar. — Quer abrir seu presente agora?

Acenei em positivo ao rir. Gus tinha a mania de ser o primeiro a me entrar o presente, e em mais esse ano ele manteve a tradição.

Ele tirou do bolso da calça um pequeno pacote prateado com um enorme tope fofo igualmente prateado um pouco amassado.

Curiosa sorri de orelha a orelha ao abrir com cuidado o pacote. Ele esticava os olhos para o embrulho sondando minha reação. Era um lindo colar de prata com um delicado pingente de coração com letras em baixo relevo "Amigos para sempre".

— É lindo, Gus! — o abracei com força e pedi para ele ajudar-me a colocar o colar. O percebi me olhar com segundas intenções. — O que você quer? — ergui as sobrancelhas.

— Chegou um presente para você está manhã.

— De quem?

— Você vai ver. — ele levantou-se com um sorriso travesso e desapareceu de meu quarto.

Meu coração bateu mais forte enquanto Gustavo trazia da sala um lindo buque de crisântemos vermelhos. Admirei as flores e tranquei a respiração ansiosa pelo cartão. Meu coração intuía que aquelas flores eram de alguém especial, será?

— Ah! São de Ricardo. — Ao ler o cartão suspirei com desapontamento.

— Não gostou? — Gustavo olhou-me confuso.

— Claro que sim. — engoli a frustração e sorri para Gus. — Agradeça seu irmão por mim.

Ele acenou contente, provavelmente ele que dera a ideia das flores para o irmão. Pois Gustavo que era ligado nesse tipo de agrado.

Coloquei as flores em um vaso, sentindo-me completamente idiota por criar uma esperança sem sentido de que o presente fosse de Giovanni. Como que pude pensar nisso um segundo se quer?

Era provável que Giovanni nem soubesse onde eu morava, ou a data de meu aniversário. E mesmo se soubesse, eu era apenas uma aluna a qual foi um erro dar um beijo. E ninguém manda flores para um erro.

Gustavo começou a falaranimado sobre a programação para o dia: almoço na casa de Sérgio, tarde compipoca e vídeos com ele e minha mãe e para finalizar um rodízio de pizzas.Tentei prestar atenção e afastar o sentimento ruim que tentava se agarrar emmeu coração. Hoje era meu aniversário e eu não deixaria que um professorqualquer o estragasse, era hora de esquecê-lo.     


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