45. Sem sua visita - Giovanni

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 Só descansei mesmo de minha pesquisa durante as semanas de férias em que Nina veio me visitar. Alegrava-me ter a companhia de minha pequena, que já não era tão pequena assim; a cada semestre ela estava mais alta, ainda não chegara à altura de meus ombros, contudo parecia que logo me passaria.

Nina estava animada quando chegou, ela tinha muitas novidades para me contar. O novo namorado de Rebeca ganhara parte do coração de minha filha quando foi esperto o suficiente para presenteá-la com um filhote de cachorro, algo que Rebeca sempre negou. Toda vez que eu tinha a ideia de dar algum animal de estimação para minha filha, Rebeca vinha com um longo discurso de como animais faziam sujeira e demandavam tempo.

Ao ouvir o relato empolgado de minha filha sobre seu novo cãozinho e sobre quem o presenteara me sentia tolo por estar com ciúmes do carinho que ela dedicava ao namorado da mãe; um medo idiota de ser trocado e de que por estar longe, ela fizesse do homem seu pai substituto. O temor foi ainda maior quando soube que ela não queria vir me visitar, pois não poderia trazer seu novo cão.

No entanto, meu receio se evaporou quando eu e Nina conversamos com Rebeca pela internet após três dias da visita de minha filha e soubemos que tal relacionamento havia chegado ao fim. Parece que foi demais para Rebeca aguentar quando tal homem a convidou para acampar em uma simples barraca durante o final de semana. A criança pareceu desolada com a notícia, e quando me apoie em sua cama para dar-lhe um beijo de boa noite ela lamentou chorosa:

— Chico era tão legal! Ele não era chato como os outros dois namorados de mamãe.

— Filha, os relacionamentos dos adultos são complicados. — suspirei ao pensar nos meus próprios fracassos. — Sua mãe não gostava dele, mas se lembre de que não importa o que aconteça no mundo dos adultos...

— Sempre vamos amar você. — Nina completou a frase em conjunto comigo. E suspirou. — Eu sei. — ela abraçou seu cachorro de pelúcia, que me fizera comprar para aguentar a saudade de seu verdadeiro. — Você também não gostava mais da Emily?

Fitei-a calado por alguns segundos. Já havíamos conversado sobre isso uma porção de vezes, mas por algum motivo, Nina sempre voltava a esse assunto quando nos víamos.

— Já conversamos sobre isso. — engoli em seco. — Nós discutimos por coisas de adultos e ás vezes isso vai além do que sentimos.

— Mamãe acha que Emily foi embora naquela outra noite por que você é um estúpido.

— O quê? Conversou com sua mãe sobre isso? —Sentia-me chateado por Nina ter relatado coisas tão pessoais com Rebeca.

— Ela perguntou por que Emily não foi no mesmo avião, — Minha filha me fitou com olhos culpados, de criança que deixou escapar um segredo. — e eu disse que ela foi embora depois de você correr atrás dela pedindo desculpa. — Nina fitou-me. — O que é estúpido?

— Algo que não sou. — respirei profundamente. — Vamos deixar sua mãe para lá. Então que história quer ouvir hoje?

— Conta uma de cachorro?

Ri. Nina realmente estava fissurada na novidade de ter seu próprio filhotinho. Inventei uma história tola sobre um cachorro que passava por várias aventuras até conseguir encontrar uma família que o amasse.

Após ter certeza que minha filha dormia, deitei-me em minha cama. Não conseguia evitar pensar em como no ano anterior a visita de Nina havia sido diferente, como eu estive tão perto de manter Emily ao meu lado e como tudo escapou por entre meus dedos como a fina areia da praia. Talvez eu fosse mesmo um estúpido.

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