10. A conversa - Emily

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As horas do almoço dos dias de pesquisa tornaram-se um momento extremamente agradável, pelo qual eu esperava com ansiedade para reencontrar Giovanni. O engraçado era que nas aulas ou na pesquisa pouco nos falávamos, penso que até evitávamos tal contato. No entanto, o jardim nos reunia e permitia que nossas ideias e palavras fluíssem livremente. O ambiente era envolvido em uma atmosfera quase mágica; as cores, os sons, os cheiros característicos das plantas e a brisa completavam o magnífico cenário, como se não existisse nada além de nós e o jardim que nos cercava.

Mas os últimos dois encontros apresentaram uma atmosfera diferente, e eu ainda tentava processar o que se passava dentro de meu peito. Na terça passada eu fui surpreendida ao ser apresentada à filha de Giovanni. Permaneci atônica por alguns segundos antes que pudesse falar algo. Ele não havia comentado que tinha uma filha e a revelação me assustou.

Pensei que ele me apresentaria sua mulher e uma criança recém-nascida, nunca poderia imaginar que ele tinha uma filha de uns oito anos. Quantos anos ele tinha? Será que era mais velho do que aparentava? Ao menos a menina era uma criança agradável.

Porém, saber que Giovanni tinha uma filha me desestabilizou. Eu havia criado a imagem dele de alguém descompromissado, tipo o Pedro, mas mais agradável do que este. E agora eu o via como um homem responsável por sua família e um pai bastante envolvido o que não parecia se encaixar com o professor jovem e sorridente de antes.

Guardei essa estranheza como um segredo e tentei pensar em algumas maneiras de perguntar sobre a esposa dele, sua filha e seu relacionamento quando nos encontrássemos na quinta-feira. Talvez fosse abuso, perguntar sobre sua vida íntima, mas eu estava curiosa pelas respostas. Mas ele cancelou nosso encontro e me deixou sozinha com as minhas angustias mais uma vez.

Por que eu não conseguia parar de pensar sobre sua família? Nem Alice ou Rodrigo pareciam preocupados em saber qualquer coisa sobre Giovanni. Depois que Nina foi embora, o assunto morreu para eles, por que não acontecia o mesmo comigo?

Gustavo havia me chamado de "fora de órbita" algumas vezes nestes dias, e perguntava o que tanto ocupava meus pensamentos.

— Quem será a esposa do professor Giovanni? — comentei distraída quando víamos a um filme. Ele sorriu debochado, queria compreender de onde esse pensamento surgira. Eu também. — Ele levou a filha para a pesquisa e eu fiquei curiosa em saber como era a sua esposa. — tentei explicar.

— Sei. — ele estreitou o olhar e me encarou. — E por que isso te interessa? — dei de ombros, também não entendia por que me ocupar tanto tempo com isso. Ele riu alto. — Não acredito que esta a fim do seu professor. Ele é pelo menos dez anos mais velho!

— Gus, é só curiosidade. Não estou a fim de ninguém. — firmei minha voz para por fim aquela conversa besta. Gustavo começou a rir e lançou-me um olhar de "faço de conta que acredito". Eu ter uma quedinha por um professor não era nada de mais, agora dizer que eu queria algo a mais com isso já era exagero.

Pensei sobre essa nossa conversa que não havia passado de implicância de Gustavo enquanto observava os pingos de chuva escorrer delicadamente pelo enorme vitral do restaurante e encharcar os bancos do Jardim à frente. Não era minha intenção ficar para almoçar na faculdade na sexta, contudo havia uma palestra no auditório que Pedro dissera ser importante para entendermos a pesquisa.

Desejei passar o tempo no Jardim, talvez tivesse sorte e Giovanni viesse para conversarmos sobre algum livro e eu podia tirar minhas dúvidas sobre os outros assuntos. No entanto, não havia lugares cobertos no Jardim e isso se mostrou impossível. Além do que, não era nosso dia e provavelmente ele nem estava pela faculdade. A palestra era para estudantes iniciais, talvez os professores não fossem.

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