42. Erro - Giovanni

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Ao ouvir o chamado de Emily, pensei que pudesse ser algum colega de Doutorado, contudo me dei conta que era outra pessoa quando mirei o rosto transtornado dela segurando meu celular. Uma perturbação agarrou-se ao meu peito.

Bê não podia ter sido mais direta para clarear Emily sobre nossa única noite. Xinguei-me por ser idiota em dar o número de meu celular para ela e mais ainda por ser verdadeira a sua mensagem.

O primeiro semestre como doutorando foi encerrado com uma festa de gala no salão de solenidades da faculdade. Encontrei com grande alegria quatro brasileiros de outros estados. Logo, eu e uma das brasileiras, Bê, riamos em conjunto entre um drinque e outro.

Quando nos despedimos, ela jogou os braços em meu pescoço e sussurrou manhosa: Meu apartamento é do outro lado da rua. Quer me fazer uma visita?

Minha intenção era ignorá-la e voltar para o meu flat, mas seu corpo exalava desejo e por mais que eu soubesse que não devia me deixei ser seduzido. Enquanto nos enrolávamos na cama Emily preencheu meus pensamentos, era ela que eu queria e não uma brasileira recém-conhecida.

Olhei para a raiva de Emily ao me fitar, não adiantaria dizer-lhe isso. Eu cometera o maior erro de minha vida e não sabia como poderia concertá-lo. Minhas palavras apenas pioravam a situação.

Meu peito encheu-se de uma sensação amarga ao vê-la entrar no táxi, pois havia no ar a certeza de que eu fizera a besteira que lhe arrancaria definitivamente de minha vida.

Senti-me um hipócrita por me apoiar em uma combinação de fachada como se esta fosse um espelho dos sentimentos verdadeiros. Ela se sentia traída com meu caso relâmpago com Bê e eu conhecia Emily o bastante para prever que ela era orgulhosa demais para perdoar algo que considerasse uma traição. Eu a perdi para sempre. E a culpa foi totalmente minha. Acusei-me silencioso ao vê-la ir embora.

Meu coração saltava descompassado, controlei-o superficialmente quando encontrei Nina confusa na porta do flat. Abracei-a para consolá-la e em busca do mesmo para mim, ela já era experiente em brigas por causa da separação com Rebeca, sabia o desfecho da história:

— Emily, não vai voltar, vai? — choramingou.

— Não. — respondi com um bolo em minha garganta. Pigarreie e tentei demonstrar calma. — Seremos eu e você até o fim da semana.

— Tudo bem pai. — Nina passou as mãos nos meus cabelos. — Não fique triste, ainda podemos ver a Emily em alguns finais de semana, como você e a mamãe.

Acenei sem saber o que dizer. Seria improvável que a víssemos novamente, porém não estava pronto para discutir sobre isso com minha filha, era mais confortável deixá-la pensar no que desejasse por enquanto.

Juntei todas as minhas forças e liguei rapidamente para Gustavo, havia prometido a ela que faria isso, mas meu interesse estava em saber se Emily iria ou não embora logo.

Suspirei com certo alívio quando foi Rodrigo a atender, pois assim seria menos humilhante ouvir um sermão do quanto eu sou um cretino por ter estragado tudo. Não entrei em detalhes, apenas informei que havíamos brigado por causa de um caso e que Emily provavelmente iria voltar para o Brasil logo. Rodrigo lamentou o ocorrido e prometeu que me ligaria para dar notícia.

Arrasado, coloquei Nina para ver algum desenho, ela me fitava triste discretamente enquanto eu segurava o telefone do flat à espera de respostas, e estas vieram rápidas e de maneira desanimadoras, pois segundo Rodrigo milagrosamente Emily já estava dentro do avião de retorno.

****

Meu coração perdera um pedaço com a partida de minha amada e o restante da semana com Nina foi uma fachada de alegria construída só por causa da pequena, os passeios perderam a graça. Ter que ver Rebeca com um sorrisinho maldoso no rosto quando a informei que precisaria enviar pelo correio os documentos necessários para que Nina voltasse desacompanhada, já que Emily havia ido embora, foi terrivelmente doloroso.

Apenas me senti um pouco aliviado quando minha filha retornou para a casa de sua mãe, pois me permitia andar pelo flat sem minha máscara de sentimentos positivos e sucumbir à verdade dentro de meu peito.

Sem opções de voltar atrásna burrada feita, concentrei-me obsessivamente no meu doutorado. Quanto mais memantivesse ocupado, menos espaço havia para pensar naquilo que perdera enaquilo que meu futuro nunca mais seria. Tive a minha chance e a joguei foraduas vezes: quando vim para Inglaterra e depois quando deitei na cama de Bê,agora não existia mais uma terceira e só me restava aprender a viver nessa novarealidade monocromática. 

Jovem AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora