Ao acordar, percebi que Giovanni não estava no quarto. Encontrei-o na cozinha fazendo café e conversando pacificamente com Ricardo e Gustavo, que ao me ver se arrastou ao meu encontro. Eu o abracei e ele forçou um sorriso.
— Obrigado por me deixar ficar.
— Como eu poderia não fazer isso? Sabe o quanto é precioso para mim.
Ele concordou com a cabeça e começou a chorar. Apertei-o em meus braços na tentativa de confortá-lo. O efeito do calmante havia passado e ele se encontrava desolado, chorou por algum tempo. Eu podia sentir sua raiva e seu desespero pelo o que aconteceu a cada tremida de seu corpo encostado ao meu. Eu estava completamente impotente, sem encontrar qualquer coisa por dizer ou fazer. Doía-me demais vê-lo sofrendo e minhas lágrimas também me fugiram. Ricardo abraçou-nos numa tentativa de nos consolar e Giovanni observava-nos sem muito fazer.
Quando finalmente nos acalmamos, Giovanni nos serviu o café-da-manhã. Uma refeição silenciosa e emocionalmente pesada.
A manhã percorreu sombria; Gustavo se manteve calado e agarrado a Lucky, enquanto nós quatro ficávamos na frente da TV e fingíamos assisti-la. Nada parecia realmente interessante para nos distrair do sofrimento.
Sérgio chegou mais tarde para ver Gustavo e nos trouxe o almoço que Maria havia feito para nós. Comemos todos juntos e Sérgio levou o Ricardo para a rodoviária. Abraçamo-nos fortemente na despedida. Gus, depois disso tudo, preferiu deitar-se um pouco e adormeceu. Eu e Giovanni sentamos no sofá, abraçados.
Nossa conversa desanimada percorria antigos livros, lembranças de filmes, fugindo dos acontecimentos recentes, era apenas um passar de tempo à espera de anoitecer novamente e podermos desligar de tudo por algumas horas.
Até que Giovanni simplesmente não conseguiu mais manter para si algumas coisas que o chateavam:
— Sua tatuagem parece uma versão menor e idêntica da que o Ricardo carrega no ombro.
Ele me olhava angustiado e nesse momento não pude sentir raiva, apenas compreendi que a presença de Ricardo foi para ele frustrante, como o acontecimento com Gus o foi para mim, pois nossos sentimentos estavam grudados a situações diferentes.
— Fizemos a tatuagem como simbologia da sinceridade, amizade e cumplicidade de nós três. O Gustavo deveria fazer uma também, mas desistiu na última hora. Na época foi como uma promessa de que sempre estaríamos juntos, como amigos.
Não estava sendo totalmente sincera com ele em minha fala, mas também não era mentira. Cada estrela tinha o seu significado em nossa história: sinceridade em nossos atos e falas, o não término de nossa amizade, e a cumplicidade de nossos segredos. Ricardo convidara o irmão a participar de nossa loucura, apesar da ideia inicial de Ricardo ter sido uma maneira infantil de me pedir desculpa por ter ficado com outra garota.
— Foi algo tolo de se fazer. — ele franziu o rosto, sua voz estava áspera.
— Sim. — forcei um sorriso. — Mas é uma bela tatuagem, não é?
— Fica melhor em você do que nele. — ele tentou demonstrar simpatia, e desviou o olhar. — Desculpe-me, sei que este é um péssimo momento. É que ver o seu ex me deixou... sem chão. Eu o imaginava mais como o Gustavo, no entanto ele é tão diferente. E vocês pareciam tão felizes e consolados em se ver. Era como se eu estivesse sobrando.
— É importante para mim que esteja aqui. — o beijei para desmontar que era ele que eu amava.
— É bom ouvir isso.
Aconcheguei-me em seus braços. Sabia o choque que ele sentira ao ver o Ricardo, era o que normalmente acontecia quando conheciam o Gustavo primeiro. Os dois se assemelhavam em suas feições bonitas, no entanto Gus era magro, tímido e aparentava fragilidade; enquanto Ricardo era forte, confiante, bronzeado e encantadoramente extrovertido.
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Jovem Amor
RomansaExiste idade certa para amar? Giovanni é professor na faculdade de Biologia e acaba de se separar de sua mulher. Ele não tinha muito a ver com Rebeca desde o princípio e o passar dos anos só fez aumentar a distância que havia entre eles. Emily n...