44. Casamento - Emily

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Ao entrar no meu apartamento, aviste Gustavo e Drigo jogarem no computar. Observei-os por algum tempo antes que eles me vissem. Gustavo estava feliz ao lado de Rodrigo, eles sorriam e implicavam um com o outro, desafiando-se para ver quem iria ganhar a partida. Por fim Rodrigo ganhou, Gustavo fez cara de bravo e ganhou um beijou em forma de desculpa, os dois riram e se abraçaram. Como alguém pode ser capaz de condenar o amor? Pensei frustrada ao recordar de como o pai de Gustavo ainda não falava com ele.

Rodrigo me viu e veio me cumprimentar com um apertado abraço. Gus me olhou confuso, ele ainda se envergonhava quando alguém os via demonstrando afeto. E essa vergonha era uma péssima cicatriz deixada pelo preconceito alheio. Eu só esperava que com o tempo meu amigo pudesse demonstrar suas alegrias e tristezas como qualquer outra pessoa o faz sem ser descriminado por isso.

— Prontos para jantar cachorro-quente? Eu trouxe os pães, agora o preparo é com vocês. — Sorri-lhes ao levantar o saco de pães trazido da padaria, e afastar qualquer mau pensamento.

— Trato feito. — Gustavo recolheu o saco de pães sorridente, enquanto Rodrigo retirava as latas de ervilha e milho da dispensa.

Devia me concentrar nesses ótimos momentos ao lado de meus amigos e deixar as mágoas para trás. Meu coração começava a cicatrizar e pensar em Giovanni era raro. Recuperada, comecei a me dedicar novamente às coisas que tanto me agradavam, como retomar meu serviço voluntário na Casa de Resgate aos Animais Silvestres e deixar as festas constantes para Alice e algumas garotas da faculdade que ela fizera amizade, assim eu a via pouco.

Apesar de serem novamente férias de verão, eu não aceitei o convite de meu pai para visitá-lo. Ir até a Inglaterra não parecia uma boa escolha, porque tentava manter os pensamentos tão distantes de Giovanni quanto possível, por vezes me perguntava se realmente tínhamos namorado em algum momento.

****

Aborrecida com o calor e jogada no sofá amparada por dois ventiladores, ouvi Gustavo se aproximar agitado. Ele vinha com um enorme envelope na mão de cor azul.

— Você não vai acreditar no que chegou! — analisei o envelope. No fundo já sabia o que era, mas minha mente não quis se mostrar conhecedora da verdade. — É o convite de casamento de Ricardo.

Ele me entregou o belo envelope. Sim, eu sabia do casamento de Ricardo. Havíamos conversado infinitas horas sobre isso na internet. O convite era bonito, provavelmente escolhido pela garota, pois era cheio de detalhes que não faziam o tipo de Ricardo. Uma súbita inveja percorreu meu ser. Não sentia mais nada por ele, contudo, saber que ele se casaria era um ponto final a qualquer possibilidade de poder inflar meu ego com seus elogios.

Sorri ao ver a foto de Ricardo e a noiva no convite. Ele aparentava imensa felicidade, finalmente teria o que desejava desde o nosso último verão juntos: Casar-se e ter um filho para ensinar a surfar. Como era de se esperar dele, não demorou a engravidar a namorada que arrumara há uns meses atrás.

— Não consigo imaginar meu irmão casado. É muito estranho. — Gustavo gesticulava pensativo. — Ele simplesmente não tem jeito, vai casar porque terá um filho. Isso não é certo.

— Você sabe que ele adora estas coisas. — sorri — Formar uma família sempre foi o desejo dele.

— Mas não assim, às pressas. — Gustavo suspirou. — Espero que ele saiba o que está fazendo. E que seja feliz.

— Não se preocupe. O Ricardo será bastante feliz. — Sorri pensativa. — Não posso dizer o mesmo sobre a menina. Casar grávida tão nova? Eu não quis isso para mim.

— Mas pelo o que pude conhecê-la quando fui lá na semana passada, ela não se importa muito com isso. Acho que o sonho de sua vida era ter uma casa, marido e filhos para criar. Até já estou preparado para ser múltiplas vezes tio.

Rimos. Provavelmente isso aconteceria mesmo. Ricardo não seria contra a essa ideia, e eu e Gus faríamos de todos nossos queridinhos, é claro.

— Só é uma pena que meu pai não irá. — Gustavo abalou-se.

— Que alívio! Imagina a cena que ele iria fazer pelo fato do casamento não ser religioso e ainda na areia da praia. — bufei. — O que seus amigos do clube dos moralistas e do bom costume iriam pensar? — Imitei ao final a voz do pai dele, seguido de um fingimento de vômito, para mostrar meu asco por tal homem.

— Isso é verdade. — Gustavo até sorriu, então seu rosto ficou taciturno. — Mas sinto estar prejudicando o casamento de meu irmão. Afinal ele não convidou meu pai e não fala mais com ele por minha culpa.

— Por sua culpa, não! — Abracei-o. — Por total culpa da moralidade distorcida de seu pai.

Gustavo não comentou nada, apenas abaixou a cabeça. Analisei novamente o convite, meu peito se apertou em inveja. Meu amigo casaria enquanto eu me mantinha sozinha. O convite abalara toda a força que pensara ter conquistado nestes últimos meses.

****

Ricardo puxou sua noiva pela mão ao nos ver. Havíamos chegado em comboio: eu, Gustavo, Rodrigo, minha mãe, Sérgio e Maria. A mãe dos meninos e alguns primos já estavam presentes, acomodados em cadeiras enfeitadas com flores na areia da praia, juntamente com garotos, que deviam ser amigos dos noivos, e os familiares da noiva.

Ele abraçou-nos e apresentou sua já barriguda futura esposa. Ela sorriu animada. Vivian era apenas um ano mais nova, mas seu rosto jovial não parecia ter chegado aos 15 anos. Ela usava um longo vestido branco decorado com pequenas flores, muito delicado. Sorri ao perceber que Ricardo estava de camisa e bermuda.

Assim que chegamos iniciaram as preparações para o início do casamento um pouco inusitado, mas muito romântico. Não havia padre, rabino ou pastor, apenas um juiz de paz segurando um livro com os pés afundados na fofa areia da praia. Eu e Gus permanecemos ao lado de Ricardo quando ele falava lindas palavras para sua noiva e ela fazia o mesmo.

Foi um casamento lindíssimo, simples, mas de uma cumplicidade enorme. Tirei duas certezas ao término da cerimônia: Ricardo e Vivian foram feitos um para o outro e eu queria um casamento exatamente igual, caso um dia encontrasse a pessoa certa.

Houve um tempo, no ano passado, que eu achei que encontrara essa pessoa que me completava, mas foi só um tempo.

Suspirei derrotada, então bufei e busquei o ar, decidida. Eu encontraria outra pessoa para amar e me amar. Agarrei-me ao pensamento com força e o traria comigo para meu apartamento e minha vida.

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