21. Mentiras - Giovanni

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Assim que Emily me convidou para acompanhá-la a uma festa de sua antiga escola, percebi receoso que namorar alguém tão jovem me obrigaria a ir a festas e o fato desta ser dedicada a pessoas da sua idade causou-me um enorme desconforto.

Inseguro, tentei sondar com ela como seus colegas deveriam estar vestidos, pois não desejava causar constrangimentos a ela quando seus amigos me vissem e me achassem um velho.

Teria saído e comprado umas roupas novas em um estilo mais adolescente, entretanto Filippo atendera o telefone quando ligava rotineiramente para minha mãe. Após ele confirmar que passaria no meu apartamento para me entregar as roupas, minha mãe pegou o telefone:

— Filho, como está?

— Bem.

— Quero me certificar com meus próprios olhos. Virá para o meu aniversário, não é? — antes que eu pudesse responder ela se lamuriou. — Porque ano passado fiquei magoada por meu próprio filho não vir.

— Claro que irei. — tentei acalmá-la.

De todos os aniversários de minha mãe, apenas me ausentei no anterior por causa de Rebeca, estávamos no meio da tempestade que finalizou nosso casamento e não quis causar mais uma gigantesca briga ao levá-la para junto de minha família.

— Trará minha neta e Rebeca? — minha mãe sondou ao se fazer de desentendida.

— Nina com certeza, mas sabe que não estou mais casado com Rebeca. — bufei.

— Mas podia trazê-la, talvez ela mude de ideia se vir bons exemplos de casamentos em nossa família. — Continue a sonhar, mãe! Pensei irônico.

— Estou namorando outra pessoa. — comuniquei com esperança que ela abandonasse essa mania de tentar refazer meu casamento.

— Sua irmã me contou! — minha mãe alterou a voz para seu papel de vítima. — Meu próprio filho não me conta as coisas, preciso ficar sabendo por minha filha mais velha.

Não me surpreendera saber que Giordana tivesse revelado meu segredo. Apesar de ser minha grande confidente, também era muito apegada à minha mãe e era comum que comentasse algumas coisas sobre minha vida pensando que auxiliaria no relacionamento entre mim e minha mãe.

— É recente ainda. — redimi-me.

— Quando vou conhecer?

— Talvez a leve para seu aniversário. — sondei sua reação.

— Espero que seja boa como Rebeca, pois meu filho precisa de uma mulher para tomar conta de seu coração e sua alimentação. — sorri incrédulo pela fala de minha mãe. — Continua estragando seu fígado comendo nesses restaurantes?

— Não muito. — menti. O que menos fazia era comer em casa e quando isso ocorria era normalmente comida congelada. A habilidade de cozinhar de Rebeca era um dos poucos aspectos dela que me faziam alguma falta.

— Espero vocês para a comemoração. Beijo, filho.

— Beijo, mãe.

****

Irritado, atirei o boné que Filippo me emprestara no banco do carona ao largar Emily em seu apartamento. Aquela roupa me deixava desconfortável, pois me sentia quase fantasiado. Contudo, estive vestido de acordo com a maioria dos presentes na festa.

O fato de perceber que alguns garotos se aproximaram de minha namorada claramente interessados já poderia ter sido o motivo de tornar a festa extremamente insuportável, mas o que realmente me indignou foram as revelações dos professores de Emily enquanto ela dançava empolgada nos braços de Gustavo.

Dei um soco na direção do carro ao recordar o sorrisinho malicioso do professor de química ao dizer: "Imagina que ela namorou quase o ano todo o Gustavo, mas não estava satisfeita e começou a sair também com o outro irmão, o Ricardo. E tem os que comentam que os três dividiam a mesma cama. Você é um cara de sorte, ela deve ser muito liberal".

Meu sangue fervia e meu peito apertava-se quase não me deixando respirar. Senti-me traído e enganado e foi por pouco que não rompi o namoro com ela na mesma hora.

Pensar sobre as mentiras dela me enjoou. Eu fui um tolo ao acreditar em seu amor e esperar calmamente que fizéssemos sexo, enquanto ela mantinha Gustavo em sua cama e sabe-se lá mais quantos. Mais um soco na direção do carro, sacudi a mão ao sentir a dor subir por meu braço.

Já em meu apartamento, fui tomado pela raiva e pelo desapontamento. Não entendia como tinha sido tão tolo. Ela me enganara direitinho, deixou-me apaixonado e, agora, devia rir às minhas costas. Só não entendia o que ela ganhava com isso?

Se não tivesse encontrado um remédio para dormir entre os que Giordana havia colocado em minha caixinha de primeiros socorros, não teria conseguido fechar os olhos, pois a cada tentativa apenas conseguia imaginar Emily e Gustavo enroscando-se um no outro e rindo de minha ingenuidade.

Fiquei triste ao perceber que havia permitido que meu coração fosse roubado por alguém tão fingida. Minha mente concordou com Rebeca que sempre me ofendia ao chamar-me de tolo e infantil, pois isso era a única explicação razoável para que eu tivesse me tornado completamente cego sobre a verdadeira Emily.

Acordei algumas horas após o almoço, minha cabeça latejava e as recordações da festa só me atormentavam. Decidido a terminar o namoro fui ao apartamento de Emily e a esperei dentro do carro.

— Aonde vamos? — Emily entrou no carro sorridente como se não houvesse nada errado. Na certa ela não pensou que eu iria descobrir suas mentiras!

Afastei-me quando ela veio para me beijar, e a olhei pronto para por um fim naquilo. Contudo eu simplesmente não conseguia encontrar as palavras e nem a calma necessária. As palavras estavam engasgadas em minha garganta e em meu coração ferido.

— O que você tem? Esta com essa cara emburrada desde a festa? — Emily disse irritada. — Precisamos conversar sobre ontem?

Puxei o ar comprofundidade, quando meu coração doeu. Chegara a hora de finalizar essa farsaque era nosso recém-nascido relacionamento. Nós precisávamos mesmo conversarseriamente. 


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