O ponto de ônibus estava vazio quando eu e Gustavo conseguimos chegar. Nós nos demoramos a sair da faculdade, pois depois que eu o apresentei a Alice e Drigo, ele se animou em nos acompanhar pelo tour de reconhecimento da universidade.
Apesar de termos nos divertido na companhia de meus colegas de Biologia, entre eu e Gustavo ainda pairava o clima pesado da discussão que tivemos antes de pegarmos carona com Sérgio para virmos ao nosso primeiro dia de aula.
Ele escorou-se no poste e puxou o casaco para cobrir sua nuca desprotegida pelo cabelo curto e preto. Eu me mantive a alguns passos de distância, não queria dar o braço a torcer e ser a primeira a pedir desculpas.
Eu havia o acusado de não ser um bom amigo por ter me deixado sozinha ao escolher outro curso. No começo da manhã me achei cheia de razão, agora estava convencida de que fora um exagero de minha parte. Contudo, ele gritara comigo dizendo que eu era infantil e isso ainda me trazia mágoa.
— Alice e Rodrigo são legais. — ele comentou fitando-me de relance com aqueles olhos azuis escuros nos quais eu conhecia cada intenção.
— Talvez eu tenha novos amigos já que os antigos se afastaram. — soltei aborrecida, sem saber como parar de implicar e assumir como ele estava certo ao me chamar de infantil.
— O dia foi difícil para mim também. — sua voz foi baixa ao mirar os pés. Aquilo doeu como um soco. Como eu podia ser tão má? Se eu me sentia perdida sem ele, imagina como Gus estava. — Eu não conheci ninguém legal para conversar. Mas estou lá pela veterinária e não para fazer amigos.
Senti a alfinetada. Coloquei as mãos nos bolsos do casaco e fingi olhar para o outro lado como se estivesse conferindo se o ônibus chegava.
— Desculpe, Gus. — por fim suspirei ao olhá-lo e engolir meu orgulho bobo. Nossa amizade era tudo, essa birra não valia a pena. — Sei que ama a veterinária, mas eu sinto sua falta.
— Não mais do que eu sinto. — ele sorriu ao andar com os braços esticados em minha direção. — Também tenho que pedir desculpas por ter gritado.
— Sem problema. — sorri e o abracei com força.
Permanecemos um nos braços do outro afastando qualquer mágoa. Acho que nunca ficamos mais do que uma manhã brigados.
Uma buzina nos assustou, demos um passo para trás. Meu coração saltava como um coelho diante do predador. Contudo quando o carro preto parou e abriu o vidro, eu sorri.
— Os pombinhos vão pra qual lado? — Alice provocou ao inclinar-se para fora da janela do carona.
— Zona Norte. — respondi, ignorando sua insinuação sobre eu e Gustavo. Afinal eu estava acostumada a esse tipo de fala.
— Droga, vamos para o Sul. — ela balançou frustrada a cabeça. — Minha irmã ia dar uma carona, mas...
— Obrigada. — sorri em agradecimento a ela e a motorista pela boa intenção. A irmã de Alice acenou em comprimento. Ela parecia ser uns cinco anos mais velha, possuía o mesmo modo simpático e traços mais magros do que a mais nova.
— Então, até amanhã. — ela acenou para nós. Confirmamos com sorrisos.
— Seria muita sorte se Alice morasse perto de nós. — Gustavo comentou ao puxar novamente a gola do casaco para tentar proteger suas orelhas do frio.
— Temos o Sérgio, ele vai nos dar carona sempre que for almoçar em casa. — o lembrei.
— Isso vai ser uma vez por semestre. — ele estava parcialmente certo. Sérgio passava mais tempo na universidade do que em sua própria casa e conseguir que nossos horários se combinassem iria ser raro.
— Ora, você tem dezoito podia ser nosso motorista? — impliquei.
— Se é por isso, você também. — Gustavo riu.
— Mas falta o dinheiro para o carro e a carteira. — soltei com sinceridade.
— Somos dois azarados. — ele bufou ao tremer de frio.
— Vem cá, resmungão, eu te aqueço. — ofereci novamente meu abraço.
Rindo ele o aceitou. Ao tê-lo tão perto meu coração batia aquecido espantando o vento gelado do inverno e meus receios. Não estaríamos mais a maior parte do dia juntos, mas nossa amizade sobreviveria.
Apertei-o com mais força, ele era mais do que especial para mim. Eu já havia perdido seu irmão, mas agora eu compreendia que nada seria capaz de abalar nossa amizade. Eu nunca o perderia também.

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Jovem Amor
RomanceExiste idade certa para amar? Giovanni é professor na faculdade de Biologia e acaba de se separar de sua mulher. Ele não tinha muito a ver com Rebeca desde o princípio e o passar dos anos só fez aumentar a distância que havia entre eles. Emily n...