Durante as semanas seguintes eu e Marcelo nos encontrávamos em algumas noites para jantar. O domingo eu tinha só para mim, pois ele passava com sua família.
Na companhia dele, comecei a ter reconhecimento de todos os restaurantes da moda da cidade. Conversávamos pouco por telefone ou pela internet, apenas o necessário para marcar nossos encontros. No dia que fazia um mês que nos conhecíamos, ele chegou para me buscar com um lindo ramalhete de rosas.
— São para você! Em comemoração à nosso primeiro mês de namoro.
— De namoro?
Eu estava espantada, não havia percebido nenhum pedido oficial, embora já tivesse percebido que nosso relacionamento não eram só encontros casuais. Mesmo assim, não soube o que dizer na ocasião, envergonhando-me por não ter comprado nada. Desculpei-me e ele sorriu.
— Não é problema. Eu só quis uma desculpa para te dar flores.
Saímos para jantar, e finalizamos a noite em seu apartamento como de costume. Não podia negar que nos entediamos até demais entre seus lençóis de seda, mas nunca tive a vontade de que passássemos a noite juntos e sempre pedia para ele me levar de voltar para o meu apartamento. Essa nossa rotina parecia agradar a nós dois.
Às vezes, sentia falta de dividir com ele falas amorosas ou dispensar maior tempo ao seu lado com leituras interessantes. Mas logo percebi que isso pertencia a um passado de maior ingenuidade e imaturidade de minha parte, então deixei minhas inseguranças, questionamentos e dúvidas infantis sobre a vida para discutir com Ricardo e Gustavo. Aprendi que ter um namorado não era igual a ter um amigo e por isso dividir minhas fraquezas com Marcelo não era algo a se fazer.
Rodrigo e Gustavo conheceram Marcelo na faculdade, numa das vezes em que ele foi me buscar para almoçarmos. Meu colega passara o tempo todo de cochicho com o namorado, como crianças que tem um segredo. Assim que Marcelo foi embora, Drigo me fitou e sorriu debochado.
— Agora eu sei por que se encantou nele! — Olhei-o confusa. Ele achava Marcelo bonito? Ou era outro motivo? Indaguei-o com o olhar. Ele riu alto. — Ora, Emily, qual é a dúvida? É só olhar para o sorriso dele, para perceber por que estão juntos...
— Porque ele é muito bonito! — interrompeu Gustavo numa forma brincalhona, que não era o seu usual.
— Sim! — Rodrigo fingiu aborrecimento. — Mas não devia falar assim de outro porque eu fico com ciúmes.
Rodrigo abraçou Gustavo amigavelmente, com outras intenções. Naquele momento, eles me observavam, cautelosos.
Estão me escondendo algo! Pude perceber isso em seus olhares fujões. Mas o quê? Era provável que tivessem odiado Marcelo e preferiram se calar a deixar isso transparecer com medo de me magoar.
Resolvi não dar atenção a isso. Eu o amava? Não saberia dizer. Contudo eu me sentia feliz e isso era o bastante para mim.
****
O bebê de Ricardo nasceu, uma menina linda, que ele criativamente chamou de Gwen, em homenagem à primeira namorada do Homem-Aranha, a única revista em quadrinhos que ele colecionava desde criança. Em nossa infância passávamos muitas horas lendo e relendo essas histórias.
Ainda no começo do semestre, iniciei o meu Trabalho de Conclusão de Curso, por influência de Rodrigo que fez o mesmo. O objetivo era termos mais tempo para concluir um trabalho tão importante e ficar com o último semestre mais folgado, aproveitando as festas e disciplinas extras.
Surpreendi-me quando recebi a folha indicando meu orientador, pois este era Pedro. Ironicamente, não havia percebido quando escolhi o tema de meu trabalho que ele poderia ser um dos indicados para trabalhar comigo. Tentei trocar com a coordenação, contudo os outros não tinham mais vaga para orientandos e o assunto com o qual eu desejava trabalhar era a especialidade dele. Seria demais aguentar Pedro com suas piadas não só durante as aulas, mas também durante os encontros de orientação.
Apesar de meu receio, no entanto, ele era um ótimo orientador, bastante concentrado no trabalho. Indicou-me ótimas leituras e se sentava pacientemente ao meu lado para me auxiliar na organização de tudo. Ele não me enchia com piadinhas, mas ainda me tratava pelo apelido e mantinha seu riso fácil. Podia dizer que a partir dessa nova experiência na companhia dele, eu o considerava de melhor forma do que fiz no passado.
E, claro, namorando o primo de Pedro era comum ir a jantares e festas na casa deste. Pude concluir que ele só trabalhava para bancar suas festas super elaboradas. Todas tinham algum diferencial: shows de bartender, ou pirotécnicos; mágicos e até mesmo uma banda de rock em certa ocasião. Se não fossem pelas pessoas bêbadas e jogadas pelos cantos, eu poderia considerar que estas eram mesmo as melhores festas da faculdade. Alice estava radiante com meu namoro com Marcelo, pois ir às festas de Pedro era seu maior desejo e ela não perdia a oportunidade de nos acompanhar.
Ao final do primeiro semestre do trabalho, Gustavo não aguentava mais as minhas lamentações e as de Rodrigo com a gigantesca pilha de livros que tínhamos que ler. Era um trabalho que nos sugava praticamente qualquer horário livre, fazia com que eu começasse a me encontrar com Marcelo só aos sábados.
O tempo corria, eu até havia perdido a noção deste. Quase não dava para acreditar que já haviam passado três anos desde o começo de minha faculdade. Restava apenas um ano para minha formatura e eu ainda não tinha certeza em qual área eu trabalharia. Era melhor começar a me preocupar com isso!

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Jovem Amor
RomanceExiste idade certa para amar? Giovanni é professor na faculdade de Biologia e acaba de se separar de sua mulher. Ele não tinha muito a ver com Rebeca desde o princípio e o passar dos anos só fez aumentar a distância que havia entre eles. Emily n...