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Por tanto tempo, minha vida foi uma linha reta, sem propósito

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Por tanto tempo, minha vida foi uma linha reta, sem propósito. Apenas existindo, sem direção, sem um porquê. Cada dia era uma contagem regressiva para o futuro que não pedi, aquele momento inevitável em que eu usaria a coroa e dedicaria meu ser a um trono vazio. Não haveria escolha. 

O Conselho Real decidiria quem dividiria minha cama e, com sorte, eu suportaria sua presença. Não haveria amor, apenas um contrato selado com um herdeiro, nascido de um dever que sufoca. E assim o ciclo seguiria. Meus filhos, netos, bisnetos, todos presos à mesma maldição, sem jamais escapar do fardo que é nascer para servir, para ser uma sombra daquilo que jamais quis ser.

Por muito tempo, a tortura foi minha única fuga. Um jeito distorcido de me manter são, de escapar da realidade podre em que eu vivia. Ser o herdeiro da coroa britânica era o sonho de muitos, aqueles que cresceram livres, com a opção de enxergar além das barreiras de suas vidas miseráveis. Mas para mim, nunca houve escolha. 

Desde o momento em que respirei pela primeira vez, meu destino já estava traçado. Eu sabia o que me esperava. Sempre soube. Não existiam outras opções. Era como ser um cavalo numa corrida, com antolhos que me forçavam a olhar só para frente, sem desviar, sem descansar. Sempre seguindo em direção a uma vida que eu não escolhi, uma vida que eu desprezo.

Desde o momento em que Charlotte entrou na minha vida, foi como se ela tivesse arrancado as vendas dos meus olhos, me forçando a enxergar o que eu não queria ver. Ela não trouxe promessas doces ou garantias de felicidade. Apenas me mostrou que eu tinha uma escolha: me arriscar ou continuar escondido na bolha confortável que eu chamava de vida. E, de alguma forma, isso mudou tudo. Ela se tornou muito em tão pouco tempo. 

Sua presença era tão forte, tão magnética, que cada vez que eu entrava em uma sala, meus olhos a procuravam antes de qualquer outra coisa. O brilho do seu cabelo dourado, o som da sua risada... era como se tudo ao redor parasse, e o dia ficasse um pouco menos miserável só por ela estar lá. Nunca pensei no quanto ela significava para mim, até sentir o peso sufocante da possibilidade de perdê-la.

Às vezes me esqueço que somos humanos. Que sentimos dor, que choramos, que sangramos. Mas não há como escapar da realidade quando o medo nos atinge. 

Aquele medo real, cru, que destrói todas as máscaras e te expõe ao pior de si mesmo. E ali, no corredor da ala hospitalar da mansão Lancaster, cercado pelos soluços sufocados de Emma e Anne, e a voz quebrada de sua mãe implorando a Deus que salvasse sua filha, eu senti o medo pela primeira vez. 

Não o tipo de medo que se esconde em sombras ou filmes baratos de terror. Esse era diferente. Era o medo que rastejava pela sua pele, que sugava o ar dos seus pulmões e fazia cada batida do coração doer. Era o medo de perder alguém. 

A imagem de Charlotte, caída no chão daquele banheiro, com o corpo imóvel, envolta no próprio sangue... nunca vai sair da minha cabeça. Mas, mesmo com essa visão me perseguindo, algo dentro de mim se acalmou. Porque não foram sua mãe ou suas irmãs que a encontraram assim. Fui eu. Eu a segurei nos meus braços. Eu garanti que ela ainda estava ali. E por mais que o pavor me consuma, uma parte de mim se apega a isso, aliviado.

Lancaster IOnde histórias criam vida. Descubra agora