•Primeiro livro da série Lancaster
Charlotte sempre tentou viver à margem dos holofotes, apesar de pertencer a uma das famílias mais influentes do mundo. Determinada a ter uma vida comum, ela se mantém distante dos eventos da alta sociedade que a ce...
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Olho para o chão, deixando a água do chuveiro escorrer pelos meus cabelos e lavar o sangue que estava grudado em minha pele. O som da água misturado ao silêncio do banheiro é quase terapêutico. Fecho os olhos e, involuntariamente, os pensamentos voltam para hoje mais cedo, quando estava no galpão, torturando um homem que havia assassinado as duas filhas.
Inicialmente, não tinha intenção de torturá-lo. Estava ocupado demais com as reuniões que andava participando. Mas minha mente estava tão cheia, e não conseguia parar de pensar em Charlotte e em como ela parecia tão vulnerável naquele dia.
Quando retornei para a casa dela, encontrei-a pior do que quando saí. A expressão em seu rosto, a fragilidade em seus olhos; tudo isso só aumentou a minha raiva. Quem aquele bastardo pensava que era para fazer minha Charlotte ficar triste? Era uma pergunta que fiz a mim mesmo durante um tempo, mas logo consegui as respostas.
James Rossi.
O desgraçado fazia parte de uma família rica da Itália, estabelecendo-se na Inglaterra com o objetivo de consolidar o poder dos Rossi. Eles não tinham a mesma influência que poderiam ter na Itália, mas ao ver a chance de se vincular aos Lancaster, não deixariam isso passar.
Afinal, quem iria perder a oportunidade de se envolver com a única família que detém mais poder que a própria família real?
Eu me perguntava como um homem tão calculista poderia ter sido tão tolo. O plano dele poderia ter dado certo se não fosse por seu surto psicótico. A obsessão por poder, o medo de perder tudo o que conquistou... foi isso que causou sua queda.
Mas mesmo assim, eu o considerava o cara mais sortudo do mundo. Quem machuca um Lancaster e sai vivo?
Mas a sorte dele tem nome e sobrenome: Lauren Lancaster. Ela era apenas uma adolescente na época, e, é claro, tinha medo de contar a verdade. Os pais dela sempre tiveram essa proteção instintiva em relação a sua filha, assim como Lauren tem em relação as meninas.
E de fato, Lauren fez o melhor que pôde para manter Charlotte e suas irmãs longe da dor. Mas a verdade é que, mesmo com todo o amor que tinha, ela não conseguiu protegê-las do impacto emocional que James causou.
Saio do chuveiro, o vapor ainda pairando no ar, e visto minha calça de moletom, deixando o torso exposto. O dia foi longo e cansativo; já passa da meia-noite e só quero dormir. Amanhã, planejo visitar Charlotte.
Ao sair do banheiro, fecho a porta e quase levo um susto ao ver uma figura na minha cama. A luz suave do abajur ilumina o rosto dela, e o perfume de baunilha, inconfundível, me envolve como um abraço caloroso.
— Tive um pesadelo. — A voz dela é suave, quase como uma brisa leve, e meu coração se parte ao ouvir o medo que ela carrega.
Sem hesitar, me aproximo e me sento ao seu lado. Como um gato pedindo carinho, ela se aninha em meu colo, a cabeça repousando em meu ombro enquanto envolve seus braços ao meu redor. O calor do corpo dela é um alívio em meio à escuridão.
