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Dizem que, quando você cresce no inferno, as chamas deixam de queimar

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Dizem que, quando você cresce no inferno, as chamas deixam de queimar. Você aprende a se acostumar com a dor, com a ardência. Mas isso é uma mentira. Uma que eu acreditei até sentir o fogo consumir minha pele.

Minha vida parecia perfeita até aquele momento. Uma casa confortável na Califórnia, amigos incríveis, uma mãe que era minha melhor amiga e irmãs que sempre estavam ao meu lado. O tipo de vida que todos invejam. Sem preocupações com dinheiro. Sem inseguranças. Eu era uma garota comum.

Ou, pelo menos, achava que era.

Agora? Agora, me pergunto se algum dia voltarei a ser aquela garota. Porque depois daquele dia, nada é fácil. Aquele desgraçado deixou marcas em mim que vão muito além do que qualquer olho pode ver.

Os médicos fizeram um bom trabalho em esconder as cicatrizes. O corte na pele quase sumiu. Mas o que ele fez com minha mente? Isso não tem cura. Nenhuma linha, nenhuma agulha pode costurar o que ele rasgou dentro de mim.

Os pesadelos são constantes. Às vezes, entrar no banheiro é um gatilho que me leva direto para o pânico. E então, a voz dele invade minha cabeça: "Seu cabelo parece ouro... já te disseram isso antes?" Maldita frase. Ela volta com força, arrastando cada memória daquela noite sombria.

E como se tudo isso não fosse o suficiente, tem o meu querido pai.

Sinta o sarcasmo.

Ele sempre aparece quando o cheiro de dinheiro está no ar. Não teve a decência de nos visitar uma vez sequer, mas agora está aqui, de volta. Como um parasita, esperando para se alimentar. O que esperar de um homem que nunca deu a mínima? Os jornais e paparazzi sempre fizeram questão de deixar clara nossa localização. Ele sabia onde estávamos, todos sabiam. Mas ele nunca se importou.

A verdade é amarga. Dolorosa. E ainda assim, inegável.

Então, não é exatamente uma surpresa vê-lo parado na frente da casa dos nossos avós quando chegamos de viagem. Eu sabia que os problemas viriam. Só não esperava que viessem tão rápido.

— Qual é a dificuldade de entender que eu só quero passar um tempo com minhas filhas? — O grito dele era uma faca no ar, cortante e afiado, ecoando pela sala. Cada palavra carregava a promessa de mais caos, como se ele pudesse explodir a qualquer momento.

Estávamos escondidas, observando pela fresta da porta. Mamãe tinha nos dito para entrar, para evitar a briga. Mas como poderíamos? Ele estava ali, a personificação de tudo o que temíamos, e nossas pernas estavam presas ao chão, como se tivéssemos enraizado naquele momento.

— Deixe-me perguntar algo, meu jovem. — A voz do vovô era baixa, mortalmente calma. Ele não gritava, não precisava. Sua autoridade preenchia o espaço com uma força silenciosa, a mesma força que sempre foi o pilar da nossa família. — Qual é a dificuldade de entender que eu não vou permitir que minhas netas fiquem sozinhas com você? Eu nunca fui conhecido pela minha paciência, e você, mais do que ninguém, sabe disso.

Lancaster IOnde histórias criam vida. Descubra agora